Cientistas identificaram uma espécie inédita de vespa parasita que viveu há cerca de 99 milhões de anos. O fóssil foi encontrado no norte de Mianmar e preservado em âmbar — uma resina endurecida que conserva restos de seres vivos com riqueza de detalhes. A nova espécie, batizada de Sirenobethylus charybdis, pertencia a um grupo de vespas hoje extinto e chamou atenção por uma estrutura inusitada na ponta do abdômen. Os achados foram publicados nesta quinta feira, 27, na revista BMC Biology.
A descoberta se baseou na análise de 16 fêmeas fossilizadas, todas com a mesma estrutura abdominal articulada, o que permitiu aos cientistas descartar a possibilidade de que fosse uma anomalia individual. A estrutura em questão, formada por três abas móveis, lembra uma armadilha de planta carnívora. Ela era composta por partes do abdômen modificadas — dois segmentos de baixo (esternos) e um de cima (tergo) — que se fechavam como um conjunto articulado. O conjunto era coberto por cerdas longas, semelhantes a “pelos sensoriais”, como os da dionéia, a planta que fecha suas folhas quando detecta movimento.

Como funcionava o truque mortal dessa vespa?
A estrutura provavelmente servia para capturar ou imobilizar temporariamente presas durante a postura dos ovos. Ao tocar nas cerdas da “armadilha”, o inseto-alvo acionava um movimento rápido de fechamento, que segurava a vítima firme o suficiente para que a vespa introduzisse seu ferrão e depositasse um ovo. A larva que nascia se alimentava do hospedeiro ainda vivo — uma estratégia conhecida como parasitoidismo.
O aparato não era feito para esmagar a presa, mas sim para segurá-la sem matá-la. A base da armadilha era acolchoada por membranas moles e cerdas flexíveis, funcionando como uma espécie de “berço da morte”. A própria posição do ferrão, alojado em um sulco entre as abas, reforça essa ideia: ele podia ser usado com precisão assim que a presa fosse capturada.
Análises por microtomografia mostraram como o mecanismo operava: músculos internos permitiam que a aba inferior se abrisse ou se fechasse em movimento de pinça. Era uma adaptação rara — e até hoje sem paralelo — entre as vespas conhecidas, vivas ou fósseis.

O que aprendemos com a vespa do âmbar?
A descoberta levou os pesquisadores a propor uma nova família de vespas fósseis, chamada †Sirenobethylidae, já que nenhuma outra espécie conhecida apresentava essa combinação de características. Ela pertencia ao grupo das Chrysidoidea, que reúne vespas parasitas modernas, mas ocupava uma posição muito primitiva na árvore evolutiva desse grupo — quase como um ramo à parte, extinto sem deixar descendentes diretos.
Além de surpreender pela forma, o fóssil mostra que estratégias sofisticadas de reprodução e caça já existiam em eras remotas. Os cientistas acreditam que a vespa provavelmente aguardava quieta, com a armadilha aberta, até que um inseto desavisado acionasse as cerdas e fosse capturado. Isso sugere que ela caçava presas rápidas e móveis, como pequenas moscas ou cigarrinhas.