O túmulo do político francês Jean-Marie Le Pen, líder histórico da extrema-direita e pai da também controversa Marine Le Pen, foi vandalizado no cemitério de La Trinité-sur-Mer, cidade em que nasceu na região da Bretanha, no nordeste da França, disse sua família nesta sexta-feira, 31. Ele morreu aos 96 anos no início deste mês.
A neta de Le Pen, Marion Marechal, escreveu em uma publicação no X, antigo Twitter, que o túmulo de seu avô havia sido desfigurado três semanas após sua morte.
“Vocês destruíram o túmulo de nosso ancestral. Vocês acham que podem partir nossos corações, nos intimidar, nos desencorajar? Nossa resposta será lutar contra vocês cada vez mais, geração após geração. Nossa determinação corresponderá à sua infâmia”, disse Marechal.
Segundo o canal France 3 Bretagne, a sepultura de Jean-Marie Le Pen foi alvo de um ato de vandalismo com golpes de marreta. A informação foi confirmada pelo deputado Gilles Pennelle, do partido Reagrupamento Nacional (RN), da extrema-direita, que relatou uma “degradação significativa” no túmulo.
Após o ato de vandalismo, as autoridades francesas decidiram fechar temporariamente o local. Uma investigação foi aberta para identificar os responsáveis pelo ataque, mas ainda não há informações sobre possíveis suspeitos nem detalhes sobre os danos causados na lápide de mármore cinza.
Quem era Le Pen
O fundador do partido Frente Nacional, hoje o Reagrupamento Nacional, conseguiu unir uma extrema-direita fragmentada nas décadas de 1960 e 1970 e fez do seu nome e da sua família um império político. Por meio de provocações e uma carreira de 40 anos, conseguiu plantar suas lutas racistas e identitárias no centro do debate político.
Nacionalista declarado, Le Pen via a União Europeia como um projeto supranacional que usurpava os poderes dos Estados (ressentimento semelhante ao que levou o Reino Unido a deixar o bloco com o Brexit, em 2020). Com uma mistura combativa de populismo, eloquência e carisma, ele também conseguiu capturar o descontentamento dos eleitores com a questão da imigração e da estabilidade de emprego.
Ex-soldado nas guerras coloniais da França, ele disputou cinco eleições presidenciais. Surpreendeu o mundo ao chegar ao segundo turno presidencial em 2002, perdendo então de forma esmagadora para Jacques Chirac — eleitores preferiram apoiar um conservador tradicional ao invés de levar a extrema direita ao poder pela primeira vez desde que aliados do regime nazista de Adolf Hitler governaram a França, na década de 1940.
Pela memória do nazismo, entre outros motivos, desde que surgiu, nos anos 1970, a xenófoba e revisionista Frente Nacional foi vista como uma vergonha para o país. E por suas diatribes, sobretudo as de caráter antissemita — entre outras barbaridades, qualificou as câmaras de gás dos campos de concentração nazistas como “um detalhe da história” —, Jean-Marie Le Pen foi condenado em diversas ocasiões pela Justiça francesa. Em agosto de 2015, em flagrante guerra familiar, foi expulso pela própria filha da agremiação que fundou.
Sua filha, Marine Le Pen, embora tenha tentado separar-se da imagem manchada do pai, ao longo dos últimos anos tornou-se a nova (e mais bem-sucedida) porta-voz de seus polêmicos ideais políticos. Ela chegou ao segundo turno das eleições presidenciais em 2017, conseguiu 42% dos votos em 2022 e firmou-se como força política relevante, representando hoje a terceira maior força na Assembleia Nacional Francesa.