O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, voltou a defender uma proposta de uma realocação permanente de palestinos da Faixa de Gaza para países vizinhos, dizendo que o enclave é um “local de demolição”, após encontro com o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, nesta terça-feira, 4.
“Espero que possamos fazer algo para que eles não queiram voltar. Quem que iria quer voltar? Eles não tiveram nada além de morte e destruição”, afirmou, instando Jordânia, Egito e outros países árabes a receberem palestinos.
Jordânia e o Egito rejeitam a ideia, dizendo que Gaza é parte do território que os palestinos reivindicam para o futuro de seu Estado. A proposta também foi rejeitada por autoridades do grupo militante palestino Hamas, que reiteraram ser contra qualquer plano que exija o deslocamento permanente da população palestina.
Questionado sobre quantas pessoas ele acredita que deveriam deixar o território palestino, Trump respondeu: “Todas elas”.
A proposta de Trump, que ecoa os desejos da extrema-direita de Israel a favor do deslocamento em massa de palestinos, se dá em meio a um momento importante do frágil cessar-fogo entre Israel e o Hamas. Mais cedo, nesta terça-feira, um porta-voz do grupo palestino afirmou que negociações sobre a segunda fase do acordo de cessar-fogo em Gaza começaram.
O cessar-fogo entre Israel e o Hamas entrou em vigor em 19 de janeiro, inaugurando a primeira pausa no conflito em mais de 15 meses, sob a previsão de três etapas. Apesar da intensa mediação de países parceiros, a complexidade e a fragilidade do acordo são altas, o que significa que qualquer pequeno incidente pode crescer e ameaçar acabar com o pacto.
Sob a primeira fase do acordo, com previsão de duração de 42 dias, o Hamas concordou em libertar 33 reféns, entre eles crianças, mulheres — incluindo militares — e pessoas com mais de 50 anos. Em troca, Israel libertaria 50 prisioneiros palestinos para cada mulher das Forças Armadas de seu país, e 30 para os demais reféns.
Na segunda fase, o objetivo é que um cessar-fogo permanente seja alcançado, os reféns vivos que ainda estão em Gaza sejam trocados por palestinos presos por Israel e forças israelenses façam uma retirada completa da área.
Já na fase final, o acordo prevê o retorno dos corpos dos reféns mortos e a reconstrução de Gaza, que deve demorar anos.
Bombardeios israelenses constantes, que começaram assim que o Hamas invadiu comunidades no sul de Israel em 7 de outubro de 2023, arrasaram quase por completo o enclave palestino. Estimativas das Nações Unidas apontam que 69% das estruturas em Gazaforam danificadas ou destruídas, incluindo mais de 245 mil residências.
O Banco Mundial calculou que os prejuízos ultrapassam os 18,5 bilhões de dólares (cerca de 111 bilhões de reais) — quase a produção econômica da Cisjordânia e de Gaza juntas em 2022 — apenas nos primeiros quatro meses da guerra.
De acordo com avaliações das Nações Unidas, serão necessários dezenas de anos para reconstruir as casas destruídas em Gaza. Só a remoção das mais de 50 milhões de toneladas de escombros pode levar 14 anos e custar 1,2 bilhões de dólares (cerca de 7,2 bilhões de reais). O processo é agravado ainda pela presença de munições não detonadas e outros materiais nocivos sob os destroços, além de restos mortais das vítimas de bombas.