O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, revelou nesta quarta-feira, 29, que planeja assinar um decreto para instruir o Pentágono a deter “imigrantes ilegais criminosos” na base militar americana de Guantánamo, em Cuba.
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“Temos 30 mil leitos em Guantánamo para deter os piores criminosos ilegais que ameaçam o povo americano”, disse o republicano na Casa Branca, logo depois de assinar a lei Laken Riley, que trata da detenção e possível deportação de pessoas acusadas de roubo e outros crimes violentos que estejam em situação irregular no país. “Alguns deles são tão ruins que nem confiamos nos países para mantê-los porque não queremos que eles voltem, então vamos mandá-los para Guantánamo”.
Além do plano envolvendo a base em Cuba, Trump também estaria negociando com El Salvador um acordo que permitiria a deportação de imigrantes para o território salvadorenho, de acordo com a emissora americana CBS. A medida seria parte da estratégia mais ampla do governo americano para intensificar a repressão à imigração ilegal e, caso seja firmada, permitiria que autoridades americanas enviem pessoas indocumentadas de diversas nacionalidades para El Salvador, incluindo membros de gangues.
Embora o governo Trump tenha citado planos de deportar até 1,5 milhão de pessoas neste ano, as deportações podem atingir a marca de 500 mil pessoas, segundo um relatório da Allianz Research, braço de análise econômica da Allianz Trade. A política migratória mais rígida pode desacelerar o crescimento populacional de 3,4 milhões, no ano passado, para 1,5 milhão neste ano, além de reduzir o potencial de expansão do PIB para menos de 2% até 2026.
Guantánamo
A prisão de Guantánamo é usada para manter presos suspeitos de terrorismo desde os ataques de 11 de setembro de 2001. Em dezembro, três prisioneiros foram repatriados, reduzindo para 27 o número de detentos no local — 15 deles ainda sem nenhuma acusação formal apresentada.
Ao longo dos anos, a prisão criada por George W. Bush se tornou um enorme problema para o governo dos Estados Unidos, que foi acusado de abusar dos direitos humanos. O ex-presidente Barack Obama chegou a ordenar o fechamento de Guantánamo dentro de um ano em 2009, porém a medida foi bloqueada por parlamentares republicanos.
Em 2023, a primeira investigadora das Nações Unidas a ter permissão para visitar Guantánamo pediu ao governo dos Estados Unidos que forneça tratamento de reabilitação urgente para homens torturados por forças americanas após o 11 de setembro. Ela afirma que os detentos devem recebem cuidados físicos e psicológicos e Washington precisa cumprir compromissos sob o direito internacional.
Em entrevista ao jornal britânico The Guardian, a monitora da ONU para os direitos humanos no combate ao terrorismo, Fionnuala Ní Aoláin, disse que os EUA têm a responsabilidade de reparar os danos que infligiram a vítimas de torturas durante detenção. O tratamento médico existente, tanto no campo de prisioneiros em Cuba como para os detidos libertados para outros países, era inadequado para lidar com múltiplos problemas, como lesões cerebrais traumáticas, incapacidades permanentes, distúrbios do sono, flashbacks e transtorno de estresse pós-traumático (TEPT).
“Esses homens são todos sobreviventes de tortura, um crime único sob a lei internacional e precisam urgentemente de cuidados”, disse Ní Aoláin. “A tortura quebra uma pessoa, tem objetivo de tornar ela indefesa e impotente para que ela pare de funcionar psicologicamente, e em minhas conversas com atuais e ex-detentos, observei os danos que isso causou.”