A demissão de Dorival Júnior da seleção brasileira encaminha uma questão: está na hora de ter um estrangeiro à frente da canarinho? Se fosse o caso de responder a indagação com uma palavra de três letras, aqui está: não. A não ser que o ungido esteja disposto a obedecer como pau-mandado aos desmandos da Confederação Brasileira de Futebol, a CBF. Na confusão de datas do calendário brasileiro, ante a pressão dos clubes – inclusive os do exterior – é comum que as convocações deixem de lado alguns nomes evidentes, trocados por arremedos. Os amistosos são quase sempre marcados tendo em vista apenas necessidades comerciais, deixando de lado a qualidade das partidas. É assim há muitos anos – e a reeleição de Ednaldo Rodrigues, com mais do mesmo, ao menos até 2030, não autoriza imaginar que possa ser diferente.
Quem há de imaginar que o italiano Carlo Ancelotti e o português Jorge Jesus aceitam trabalhar em condições tão ruins? Difícil. Eles podem até vir a aceitar o convite, desde que um caminhão de dinheiro lhes seja oferecido. Mesmo assim, é quimera ainda distante. Não há como dar certo. Os técnicos da seleção quase sempre precisam dizer uma outra palavra de apenas três letras: sim. Sim a tudo o que é errado, e às favas a qualidade. Os estrangeiros teriam de aprender o jogo. Ancelotti muito dificilmente se acostumaria com a valsa – o que não significa dizer que na Itália e Espanha viva-se o paraíso da pureza e honestidade, longe disso. Na Europa, contudo, há regras mais claras.

Conselho precioso
Se fosse o caso de oferecer conselho: não caiam na roubada. E então a equipe ficaria com um brasileiro, mais habituado às coisas como as coisas são. Os nomes de Renato Gaúcho e Rogério Ceni estão sendo soprados com frequência, ainda que ambos, admita-se, não sejam lá tão fáceis de controlar, não baixam a cabeça sem chiar.
É natural: do ponto de vista de torneios como a Copa do Mundo, um estrangeiro representaria atalho para a compreensão do futebol moderno, de muita movimentação, colado ao que fazem os grandes times europeus. Haveria imensos benefícios. Um forasteiro ajudaria a montar escretes mais bem organizados – e não por acaso os craques brasileiros têm destaque em seus clubes do além-mar. Vestem a amarelinha, e nada, parecem sumir. Lembremos de Vinicius Jr. e Rodrygo. Enfim, haveria avanço tático, é evidente. Seria muito bom. Mas quem há de aceitar, entrando para conhecer a cozinha da CBF?
Ninguém em sã consciência, a não ser um sujeito que ande no mundo da lua. Caso Ancelotti ou Jorge Jesus venham a estudar a proposta, vai aqui um segredo de polichinelo: cuidado, porque nem tudo será posto à mesa com clareza pela CBF. Sem esquecer, é claro, que eventual retorno de Neymar voltará a colar à seleção a tão daninha “neymardependência”, repleta de sombras. Jesus, que o treinava no Al Hilal, sabe o que é isso. Não funciona. Tudo somado, fica a dica: melhor continuar mesmo com nomes das plagas de cá, que sabem falar o português da CBF. Mas como sonhar é permitido, uma sugestão irônica: que tal um Pep Guardiola da vida?