Às vésperas de receber o Prêmio Nobel da Paz, Terumi Tanaka, de 92 anos, sobrevivente do bombardeio atômico americano à cidade japonesa de Nagasaki, fez um apelo direto ao presidente russo, Vladimir Putin, dizendo que “armas nucleares nunca devem ser usadas”. Representando o Nihon Hidankyo, organização japonesa formada por sobreviventes das bombas atômicas de 1945, Tanaka discursará na cerimônia de premiação, que será realizada nesta terça-feira, 10, em Oslo.
A escolha do Nihon Hidankyo pelo Comitê do Nobel reconhece “seus esforços incansáveis para alcançar um mundo livre de armas nucleares”. Fundado por hibakusha – como são chamados os sobreviventes das bombas atômicas lançadas pelos Estados Unidos sobre Hiroshima e Nagasaki em 1945 –, o grupo tornou-se um símbolo global na luta pela paz e pelo desarmamento.
Em coletiva de imprensa, Tanaka criticou diretamente a recente retórica de Putin, que reduziu o limite para o uso de armas nucleares como resposta a possíveis ataques convencionais do Ocidente, em meio à guerra na Ucrânia. “Não acho que ele compreenda o que armas nucleares representam para os seres humanos”, afirmou. “O que precisamos fazer é que ele entenda isso de verdade.”
Na cerimônia do Nobel, Tanaka será acompanhado pelos outros dois copresidentes da organização, Shigemitsu Tanaka, 84, e Toshiyuki Mimaki, 82, além de uma delegação de 30 hibakusha e seus descendentes. A viagem a Oslo foi viabilizada por uma campanha de financiamento coletivo que superou amplamente sua meta inicial, arrecadando quatro vezes mais do que o esperado.
Memórias da tragédia
As bombas lançadas sobre Hiroshima, em 6 de agosto, e Nagasaki, em 9 de agosto de 1945, resultaram na morte de cerca de 210 mil pessoas, seja imediatamente ou ao longo dos anos devido aos efeitos da radiação. Embora as armas nucleares da época já fossem devastadoras, as de hoje são ainda mais poderosas, capazes de causar destruição em uma escala inimaginável.
Atualmente, o Japão ainda registra 106.825 sobreviventes das bombas atômicas com idade média de 85,6 anos, segundo dados divulgados em março deste ano pelo Ministério da Saúde.
A ameaça de uma guerra nuclear voltou a assombrar o mundo nos últimos anos, com a guerra na Ucrânia entrando em seu terceiro ano e a retórica nuclear sendo utilizada como instrumento de intimidação.