A decisão do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, de suspender o financiamento para programas de combate ao vírus HIV e à Aids pode resultar em mais de seis milhões de mortes até 2029, disse a UNAIDS, agência das Nações Unidas dedicada à luta contra a doença, nesta sexta-feira, 7. A incerteza sobre a continuidade dos repasses já tem causado interrupções no tratamento de pacientes, especialmente em países de baixa renda, de acordo com o relatório.
O republicano congelou centenas de milhões de dólares em ajuda externa por 90 dias, resultado de uma revisão da política de assistência internacional do governo americano. Embora o Departamento de Estado tenha concedido uma isenção temporária para o Plano de Emergência do Presidente dos EUA para a Luta contra o HIV/Aids (PEPFAR, na sigla em inglês), de forma a permitir que parte dos recursos continue sendo utilizada, a situação permanece instável.
A vice-diretora executiva da UNAIDS, Christine Stegling, afirmou que o impacto da decisão já é visível em diversas regiões.
“Na Etiópia, 5.000 trabalhadores da saúde pública financiados pelos EUA tiveram seus contratos encerrados”, disse.
Ela também alertou que clínicas comunitárias, por serem “inteiramente dependentes” do financiamento governamental, têm fechado as portas. Em meio à instabilidade, pacientes podem parar de buscar atendimento, o que levaria ao aumento de novas infecções por HIV, adiantou Stegling.
A UNAIDS estima que, sem o financiamento americano, o número de mortes relacionadas à Aids pode crescer 400% entre 2025 e 2029, resultando em 6,3 milhões de óbitos evitáveis. Washington é o maior doador da OMS e financia 75% do programa da organização voltado para HIV e outras doenças sexualmente transmissíveis. Sem esses recursos, profissionais de saúde perderão seus empregos e milhões de pacientes enfrentarão a interrupção de seus tratamentos.
“Cada centavo importa. Qualquer corte, qualquer pausa pode custar milhões de vidas”, reforçou Stegling, pedindo que outros países intervenham para evitar um retrocesso histórico na luta contra a Aids.
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Futuro na OMS
Frente aos cortes, a Organização Mundial da Saúde (OMS) classificou a medida como uma “ameaça global” e alertou que coloca em risco o acesso a tratamentos essenciais para mais de 30 milhões de pessoas. Outros membros podem compensar parte da diferença, como fizeram quando Trump cortou as contribuições americanas durante seu primeiro mandato. Mas os países europeus estão enfrentando outros desafios, como economias estagnadas e pressão para aumentar os gastos com defesa.
Além do bloqueio nos investimentos, Trump pavimenta o caminho para que os EUA deixem, de vez, a OMS. Após a posse, em 20 de janeiro, o republicano assinou, entre cerca de 100 ordens executivas, uma para romper os laços com a agência de saúde das Nações Unidas. A saída dos Estados Unidos poderia entrar em vigor ainda em janeiro de 2026.
No entanto, esta não é a primeira vez que a Casa Branca ameaça cortar laços com a maior entidade de saúde do mundo. Em 2020, Trump anunciou a saída do país da organização, alegando falta de transparência na gestão da pandemia de Covid-19. O processo foi revertido por Joe Biden ao assumir a presidência, em 2021. Agora, a nova suspensão de recursos volta a ameaçar programas essenciais de saúde global.