O último Boletim Focus, publicação semanal do Banco Central com projeções do mercado financeiro, aponta para o dólar cotado a 5,90 reais no final de 2025, mas analistas consideram que o dado está defasado e, assim como ocorreu nas últimas oito semanas, deve ser revisado para cima. Hoje não é incomum no mercado que o câmbio seja estimado em mais de 6 reais para o final do ano que vem, em patamar semelhante ao qual se encontra neste mês de dezembro. Às 15:30 desta sexta-feira, 27, a moeda americana era negociada a cerca de 6,19 reais.“O Focus está muito conservador e deve ser revisado para pior”, diz Bruno Monsanto, sócio e economista da RJ+ Investimentos.
O analista chama atenção para o caráter estrutural do enfraquecimento do real ante do dólar. “Por isso os últimos leilões (de dólar) do BC não tiveram o efeito esperado”, diz Monsanto. Tendências domésticas e externas, como o quadro fiscal brasileiro e as eleições nos Estados Unidos, ajudam a explicar o porquê do câmbio pressionado. Segundo Daniel Cunha, estrategista-chefe de macroeconomia da BGC Liquidez, a alta expressiva do dólar nos últimos dois meses se deveu primeiro a fatores externos e, em seguida, a problemas domésticos do Brasil. “Em novembro, a eleição de Donald Trump e de um Congresso republicano nos Estados Unidos e as expectativas em torno disso explicam em grande parte o ganho de força do dólar no mundo”, diz. Já em dezembro, foi quase totalmente doméstico. “Não temos a quem culpar a não ser nós mesmos”. O economista faz referência ao fato do pacote fiscal apresentado pelo Ministério da Fazenda ter sido muito mal recebido pelo mercado financeiro.
Nesse contexto de tensão fiscal, as perspectivas para o real seguem ruins e, para que melhorem, seria preciso uma retomada da confiança por parte dos investidores, o que Cunha considera “muito improvável”. O economista acredita que a moeda americana deve ficar cotada entre 6,10 reais e 6,30 reais no curto prazo. “A estratégia do governo em política fiscal é empurrar com a barriga”, diz. Com o final do mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva se aproximando — assim como a eleição de 2026 — fica cada vez mais improvável um ajuste contundente nas contas públicas.
Apesar da tensão fiscal, o economista sênior da consultoria DA Economics, Mauricio Nakahodo, está um pouco mais otimista do que o colega em relação ao câmbio em 2025. O analista acredita que o real deve encerrar o próximo ano um pouco mais valorizado do que no encerramento de 2024. Há apenas dois dias úteis do fim do ano, são precisos quase 6,2 reais para comprar um dólar. No entanto, Nakahodo reforça que a moeda americana subiu para um novo patamar do qual não há perspectiva clara de sair. “Por conta da vulnerabilidade fiscal, não acho que o real vai se fortalecer muito, ficando em torno de 6 reais”, diz. O economista lembra que, mesmo com os modelos de projeção mais avançados do mercado, cravar a cotação de um ano à frente é um grande desafio. “É muito difícil projetar câmbio, porque ele é pautado por um sentimento, uma expectativa do mercado que sempre é volátil”, diz Nakahodo. Outros indicadores, como inflação e juros, seriam mais fáceis de estimar por não dependerem do “sentimento” ao qual o economista faz menção.
