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Por dentro do plano de Trump para assumir o controle da Faixa de Gaza

O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, surpreendeu até mesmo membros de seu próprio governo ao anunciar na terça-feira 4 uma proposta para “assumir” o controle da Faixa de Gaza e realocar os palestinos em outros países, o que foi classificado pelas Nações Unidas como “limpeza étnica”. Embora haja indícios de que o tenha sido discutido anteriormente, o governo não havia feito um planejamento prévio para analisar a viabilidade da ideia, afirmou o jornal The New York Times nesta quinta-feira, 6. 

A declaração pegou de surpresa tanto autoridades americanas quanto israelenses. Pouco antes da coletiva de imprensa, Trump informou o primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, de que faria o anúncio, disse o NYT com base em depoimentos de duas pessoas brifadas sobre a conversa.

Embora seu anúncio parecesse formal e bem pensado – ele leu o plano em uma folha de papel após uma reunião com Netanyahu na Casa Branca –, dentro do governo americano, não houve consultas ao Departamento de Estado ou ao Pentágono, como normalmente ocorre para qualquer proposta séria de política externa. Não foi formado sequer um grupo de trabalho. O plano ficou com cara de uma mera ideia dentro da cabeça do presidente.

O anúncio deixou muitas perguntas sem resposta: Como funcionaria a administração americana de Gaza? Quantos soldados seriam necessários? Como o controle americano seria justificado perante o direito internacional? E o que aconteceria com os dois milhões de palestinos deslocados?

Apesar da falta de planejamento, Trump vinha discutindo a ideia em particular há semanas, especialmente após seu enviado para o Oriente Médio, Steve Witkoff, retornar de Gaza com relatos sobre as condições precárias do enclave. Mas ninguém — nem na Casa Branca, nem os israelenses — esperava que ele apresentasse a ideia na terça-feira.

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Contradições dentro do governo

Na quarta-feira, a porta-voz da Casa Branca, Karoline Leavitt, tentou minimizar a declaração, afirmando que Trump queria apenas que a Jordânia e o Egito acolhessem “temporariamente” os palestinos. Ela também negou que os Estados Unidos estivessem comprometidos com o financiamento da reconstrução do enclave ou o envio de soldados, apesar de Trump ter dito: “Faremos o que for necessário. E se for necessário, faremos isso.

Leavitt não foi a única a contradizer o presidente. Falando com repórteres na Guatemala, o secretário de Estado americano, Marco Rubio, sugeriu duas vezes que Trump estava apenas propondo limpar e reconstruir Gaza, não reivindicar posse indefinida do território. Já Witkoff declarou a senadores republicanos em um almoço a portas fechadas que seu chefe “não quer colocar nenhum soldado dos Estados Unidos no território, e ele não quer gastar nenhum dólar americano” em Gaza.

NYT reportou que duas pessoas próximas a Trump insistiram que a ideia foi somente dele; uma delas disse que nunca havia escutado falar do envolvimento de soldados americanos no projeto antes do anúncio de terça-feira. Em resumo, membros do governo não deram respostas substantivas sobre o tema, uma postura evasiva que deixou claro: não há detalhes reais para implementar a proposta.

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Fora isso, quando questionado pela imprensa no Salão Oval sobre as reações negativas às suas declarações sobre o território palestino, Trump negou que seu plano tenha sido mal recebido: “Todo mundo ama.” Nesta quinta-feira, ele voltou a defender o plano assim como foi anunciado, sem pesar as contradições da Casa Branca.

A proposta de Trump é a transformação mais radical da posição de Washington sobre o território desde a criação do Estado de Israel, em 1948, e a guerra de 1967, que viu o início da ocupação militar israelense de terras, incluindo Gaza, Cisjordânia e Colinas de Golã. Segundo a lei internacional, tentativas de transferência forçada de populações são estritamente proibidas, e os palestinos, assim como as nações árabes, verão isso como uma proposta clara de expulsão e limpeza étnica dos palestinos de suas terras.

Condenação geral e apoio israelense

A proposta, que segundo Trump poderia criar uma “Riviera do Oriente Médio”, porém, gerou forte resistência internacional, incluindo de países como França, Espanha, Arábia Saudita, Reino Unido e Rússia.

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Na quarta-feira, o Escritório de Direitos Humanos da ONU, com sede em Genebra, afirmou que “qualquer transferência forçada ou deportação de pessoas de território ocupado é estritamente proibida”. Anteriormente, o secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, disse que o projeto equivaleria a uma “limpeza étnica” e colocaria em risco de “tornar impossível um Estado palestino para sempre”. As propostas de Trump, se realizadas, envolveriam deslocar uma população de mais de dois milhões de pessoas.

Países como França, Espanha, Reino Unido e Rússia se posicionaram contra a medida e condenaram qualquer avanço em direção à retirada de palestinos de suas terras. E a Arábia Saudita, potência regional com quem Trump tenta fortalecer os laços com Israel, afirmou que não irá normalizar relações com Tel Aviv sem a criação de um Estado palestino e rejeitou qualquer tentativa de deslocar os palestinos de suas terras.

Já Netanyahu, cujo governo é sustentado por uma coalizão de extrema direita que apoia o deslocamento dos palestinos e o repovoamento de Gaza por israelenses, afirmou em entrevista à emissora americana Fox News na quarta-feira 5 que que não vê nada de errado com a proposta e que “é a primeira boa ideia que ouvi” sobre o futuro de Gaza, fazendo referência apenas à questão dos palestinos e sem comentar explicitamente a ideia de Trump sobre os Estados Unidos assumirem o controle do enclave.

Nesta quinta-feira, 6, o ministro da Defesa israelense, Israel Katz, ordenou ao Exército que prepare um plano para a partida voluntária da população da Faixa de Gaza. Membro da coalizão de extrema direita de Netanyahu, também sugeriu cinicamente que os países que se opuseram a operações militares israelenses em Gaza, como Espanha, Irlanda e Noruega, deveriam receber os palestinos que deixem o enclave voluntariamente.

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