“Humilhado, ajoelhado e espancado”. Foram estes os adjetivos escolhidos por Ingrid Betancourt, ela própria ex-refém das Farc, para qualificar “um dos episódios mais vergonhosos de nossa história”.
Ela é, obviamente, de oposição ao presidente esquerdista Gustavo Petro. Mas resumiu bem o espírito geral das reações à bravata desastrosa que ele cometeu ao cancelar a autorização de pouso a dois aviões trazendo deportados colombianos – e a reação nuclear de Donald Trump, que suspendeu os vistos de todos os cidadãos colombianos e impôs tarifas de 25% sobre os produtos procedentes do país.
Há quem desconfie que alguém coloca alguma coisa estranha na água do Palácio de Nariño, a sede e residência presidencial, especialmente nas madrugadas em que Petro dispara tuítes sobre tudo e todas as coisas, imaginando-se um paladino da verdade e da justiça que conserta o mundo a golpes de tuitadas.
É claro que ele recuou – e é claro que os petristas tentaram transformar um saco de limões em limonada. E também fica evidente que a oposição comemorou o presente que recebeu do presidente falastrão, amarrado com laço de fita.
COMPLEXO DE INFERIORIDADE
“Aqui, ele se acostumou a maltratar no X todo mundo que pensa diferente porque sente que tem o poder. Pensou que com Trump era igual”, tentou Vicky Dávila, uma das integrantes da lista de pré-candidatos de direita à presidência. “A crise desencadeada e escalada por Petro e seus tuítes não tinha por que acontecer. A Colômbia terminou aceitando todos os temos e condições. Era de se esperar”.
“Bendito seja Deus. Desta vez a Colômbia se salvou”, comemorou a mais conhecida oposicionista, a senadora María Fernanda Cabal.
Por que Petro se colocou na situação de presentear os inimigos e provocar uma crise que deveria ser tratada com diplomacia, não gestos tresloucados? Por que fez isso exatamente no momento de troca de ministros das Relações Exteriores, cargo que irá para sua superprotegida Laura Sarabia?
O eterno complexo de inferioridade que move o antiamericanismo infantil teve, obviamente, uma parte. Escreveu ele no textão: “Não gosto de seu petróleo, Trump. Ele vai acabar com a espécie humana por causa da ganância. Talvez um dia, com um copo de uísque – que aceito, apesar da minha gastrite –, possamos falar francamente sobre isso. Mas é difícil porque você me considera de uma raça inferior”.
“Derrube-me, presidente, e as Américas e a humanidade responderão”.
MÍSSEIS MAIORES
O fracasso subiu à cabeça do sujeito, definitivamente. Ou talvez o copo de uísque. Ou outras coisas que acontecem na madrugada diante do celular. Talvez Petro tenha se imaginado um Gabriel García Márquez, com seu estilo imitado pelos que não o entendem, ao proclamar que “duzentos heróis de toda a América Latina jazem em Bocas del Toro, atual Panamá, antes parte da Colômbia, que vocês assassinaram”.
Terminou com uma exortação: “Que nosso povo plante milho, descoberto na Colômbia, e alimente o mundo”.
Pirou, obviamente. Pobres colombianos. Escaparam dessa, mas Gustavo Petro já está delirando sobre a próxima e pensando num futuro puramente agrário, em que o milho salva a Colômbia e esta assombra o mundo. O fanatismo que o levou a integrar a luta armada, no passado, transpôs-se agora para uma espécie de ambientalismo extremado.
Maluco por maluco, Donald Trump tem mísseis maiores.