Foi o ano que mais países foram às urnas na década. Ao todo, 66 países, mais a União Europeia, passaram por eleições presidenciais, municipais ou parlamentares. O movimento democrático foi tão presente no contexto mundial que, dos dez países mais populosos, oito passaram por um pleito: Índia, Estados Unidos, Indonésia, Paquistão, Brasil, Bangladesh, Rússia e México. A coluna GENTE lista a seguir oito dessas eleições que agitaram 2024. Confira.
Estados Unidos: No começo de novembro, todos os olhos estiveram voltados para os Estados Unidos, que presenciaram uma das corridas eleitorais mais acirradas dos últimos anos. Inicialmente, a promessa de um embate intenso era entre o democrata Joe Biden e o republicano Donald Trump. O ano não começou bem para nenhum dos candidatos. Biden era alvo de críticas pela sua idade, 81 anos; já Trump teve problemas com a Justiça, condenado criminalmente por falsificar documentos financeiros para ocultar um pagamento feito pela ex-atriz pornô Stormy Daniels. A certeza que Biden era a escolha correta não dominava os democratas, mas o pedido de socorro veio após um debate da CNN, onde ele pareceu confuso, não formulou frases coesas e deixou passar algumas mentiras ditas pelo republicano. Então apareceu Kamala Harris, vice-presidente, como aposta do Partido Democrata. Finda a eleição, o resultado foi, de longe, diferente do que se esperava com as pesquisas, que apontavam empate técnico: Trump não só conquistou cinco estados-pêndulos, como arrematou 51% dos votos.
Rússia: Em maio, o presidente da Rússia, Vladimir Putin, foi reeleito pela quinta vez com quase 88% dos votos. Sua história enquanto chefe do Executivo é de longa data – desde 2000 está na cadeira mais poderosa do país. O ex-agente da KGB manteve dois mandatos consecutivos, saindo da presidência em 2008, mas se tornando primeiro-ministro. Desde 2012, Putin venceu todas as eleições sem questionar quem iria vencer – o presidente não só concorre com candidatos favoráveis a ele, como não tolera opositores – os verdadeiros rivais estão mortos, exilados ou presos. Prova disso foi que, em fevereiro, seu principal opositor, Alexei Navalny, morreu na prisão – ele estava detido desde 2021. Sua morte gerou questionamentos da comunidade internacional, que condenou a possibilidade de reeleição de Putin. Mesmo assim, o presidente subiu novamente na rampa do poder com 87% dos votos, tornando-se o líder russo mais longevo desde Josef Stalin (1924-1953).
Venezuela: Alvo de críticas internacionais, Nicolás Maduro, sucessor de Hugo Chávez, concorreu pela terceira vez a um mandato de seis anos, mas agora com uma dura oposição. A opositora mais promissora para desafiar o bolivariano seria María Corina Machado, mas foi impedida de concorrer e virou cabo eleitoral de Edmundo González, candidato escolhido pela coalizão de oposição. Fazer campanha se tornou um verdadeiro empecilho aos opositores que, além de poucos recursos, passavam pelo medo de serem presos e perseguidos. A comunidade internacional se mobilizou contra Maduro – do presidente argentino Javier Milei ao chileno Gabriel Boric. No final, Maduro venceu com cerca de 51% de votos, sem nem divulgar as atas. Maria Corina ficou em terras venezuelanas na esperança de uma futura vitória, já González foi alvo de um mandado de prisão, viajando na sequência para a Espanha, onde permanece.
Índia: A eleição indiana não só foi marcada por um favoritismo do primeiro-ministro reeleito Narendra Modi, como foi a maior do mundo – ao todo, foram seis semanas de urnas abertas. Conhecido por uma política nacionalista e agenda conturbada em relação à religião, apesar de ser idolatrado por alguns hindus, este ano Modi não conseguiu que seu partido vencesse a maioria absoluta na Câmara. Modi volta e meia tem falas problemáticas antimuçulmanos, semeando ódio na população: em 2023, um confronto entre hindus muçulmanos deixou 100 mortos. Além disso, em 110 dos 173 discursos feitos pelo premiê durante a campanha eleitoral tiveram tons islamofóbicos, segundo apontou relatório da Human Rights Watch. Agora, Modi segue como líder com popularidade incontestável, liderando um país com 78% de aprovação.
Parlamento Europeu: As eleições legislativas do Parlamento Europeu foram marcadas por três figuras decisivas: Giorgia Meloni, primeira-ministra da Itália; a ultradireitista francesa Marine Le Pen; e Ursula von der Leyen, presidente da Comissão Europeia. Cerca de 400 milhões de cidadãos dos 27 países que pertencem ao bloco foram às urnas para eleger os novos representantes. A novidade foi a aproximação de Von der Leyen com Meloni, o que causou desconforto em outros líderes que poderiam questionar apoio à política. Já Le Pen fomentou de vez os partidos de extrema-direita, que vêm crescendo no continente europeu. No final, todas tiveram um destino agradável: Le Pen garantiu a guinada conservadora no parlamento e Von der Leyen saiu, novamente, vitoriosa.
França: Le Pen é figurinha repetida nas eleições francesas. Este ano esteve em todos os holofotes – fazendo até Emmanuel Macron tremer com sua popularidade. O presidente, com uma popularidade cambaleante desde que aumentou o limite mínimo de aposentadoria no país, dissolveu o Parlamento e antecipou a eleição com receio de grande derrota, que chegou da mesma maneira. O medo, oriundo da vitória de Le Pen com a direita local no Parlamento Europeu, não ajudou em nada para sua carreira política. O francês não só viu eleitores virarem as costas para ele, como presenciou a perda significativa de sua coalizão centrista, ficando em terceiro lugar. À frente ficou o Reagrupamento Nacional, da extrema direita de Le Pen, angariando 34% dos votos. A Nova Frente Popular, com partidos de centro-esquerda, ganhou 28%, e o grupo governista de Macron arrematou apenas 20%.
México: A eleição mexicana foi histórica. Andrés Manuel López Obrador, então presidente, lançou candidata de maior simpatia e de parceria: Claudia Sheinbaum. Quando AMLO, apelido “carinhoso” de López Obrador, era prefeito da Cidade do México, chamou Claudia para ser Secretária do Meio Ambiente. Em 2018, Claudia também venceu as eleições municipais na capital. Desta vez, com apoio de AMLO, ganhou as eleição presidencial com folga, arrematou 60% dos votos, derrotando sua opositora, Xóchitl Gálvez, candidata de uma aliança de oposição de três partidos. A esquerdista, apelidada de “Dama de Gelo” por sua frieza ao lidar com rivais, chegou ao poder com discurso de empoderamento feminino. Sendo a primeira presidente mulher, Claudia foi comparada até a Dilma Rousseff, que venceu em 2010 no Brasil.
Brasil: As eleições legislativas deram o que falar no país. No Rio, o clima foi morno, com Eduardo Paes (PSD) conquistando o favoritismo dos cariocas já no primeiro turno. Já em São Paulo, o clima foi mais quente. O ex-coach Pablo Marçal (PRTB) apostou na carreira política e decidiu concorrer à prefeitura. Sua presença num debate fez José Luiz Datena (PSDB) lançar uma cadeira em sua direção. Em outro, Guilherme Boulos perdeu a paciência ao “abençoá-lo” com uma carteira de trabalho. O ex-coach tirou Tábata Amaral (PSB) de sua compostura de “boa moça” com palavrões no meio do debate e causou briga nos bastidores depois que seu assessor deu um soco em um membro da equipe de Ricardo Nunes (MDB). O medo dele chegar ao segundo turno foi verdadeiro, mas não se tornou realidade. O embate foi entre Boulos e Nunes, e o resultado foi a derrota do psolista.