Do ponto de vista da presença de público, o comício de Jair Bolsonaro na Avenida Paulista pode ser classificado como um empate técnico. Não repetiu o fracasso de Copacabana, tampouco reuniu uma multidão tão grande quanto a dos eventos protagonizados por ele nos últimos anos. As estimativas do número de apoiadores presentes no domingo, 6, variam de 44 900 (levantamento feito pelo Monitor do Debate Político no Meio Digital do Cebrap e pela ONG More in Common) a 55 000 pessoas.
Dentro de uma visão mais otimista dos organizadores, foi um sucesso, considerando-se que o tom dos discursos está se repetindo e que a pauta da anistia está longe de ser uma unanimidade no país. Outro fator comemorado pelos bolsonaristas é a incapacidade demostrada pela esquerda em levar a mesma quantidade de gente às ruas.
Além de atrair uma quantidade de público respeitável, o último evento da Paulista mostrou pela primeira vez um ensaio de uma união de políticos à direita, algo fundamental para as pretensões eleitorais da oposição para 2026. A grande foto do evento para os bolsonaristas foi a imagem do ex-presidente rodeado por sete governadores: Tarcísio de Freitas (SP), Romeu Zema (MG), Ratinho Júnior (PR), Wilson Lima (AM), Jorginho Mello (SC), Mauro Mendes (MT) e Ronaldo Caiado (GO). O palanque contaria ainda com Claudio Castro (RJ), que cancelou de última hora a vinda para São Paulo em razão das enchentes ocorridas no seu estado.
Esse grupo de governadores tem quatro presidenciáveis: Tarcísio, Zema, Ratinho e Caiado. O governador paulista é o herdeiro natural do ex-presidente e, por isso, é o que tem abraçado de forma mais firme as pautas mais caras ao bolsonarismo. Os outros procuram ser mais cautelosos nessa questão, mas deram inegavelmente um passo adiante ao marcar presença na manifestação que era fundamental para o capitão mostrar força popular e política.
É quase impossível um candidato de direita chegar forte a 2026 sem o apoio de Jair Bolsonaro. Tarcísio parece cada vez mais em campanha ao Palácio do Planalto, embora negue publicamente essa intenção. Caiado lançou a pré-candidatura pelo União Brasil e Ratinho Júnior pode fazer isso dentro de poucos meses, a depender se os acenos de apoio a esse projeto de Gilberto Kassab, o cacique do seu partido, o PSD, são mesmo para valer. Zema, por sua vez, aumentou nos últimos meses o tom de críticas ao governo federal, mostrando que não quer ficar fora do jogo.
A foto dos governadores de oposição ao lado de Bolsonaro mostra o potencial de uma possível aliança de direita para 2026. O grupo pode ter mais de um candidato no primeiro turno de 2026, mas dificilmente não irá marchar junto na rodada final dessas eleições. As recentes pesquisas mostrando a popularidade de Lula em baixa (a exceção foi o último levantamento do Datafolha) indicam que, confirmada essa tendência, a oposição pode chegar bastante competitiva ao pleito, até mesmo com um certo favoritismo.
As vaidades e pretensões dos governadores do bloco podem representar ainda um empecilho, mas, inegavelmente, o grande obstáculo a ser superado será o papel de Bolsonaro. Ele terá que desistir em algum momento de manter seu nome como candidato, assumindo o papel de articulador político, algo que o capitão nunca fez em sua carreira.