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O grande medo dos outros: o que está por trás da fobia social?

“Sua vez estava chegando e ele sentia os batimentos do coração se acelerando. Suas mãos estavam úmidas e deixavam manchas de suor no verniz da mesa de reunião. Será que os colegas haviam notado sua inquietude? Sim, o colega à sua frente o observava e acabara de desviar bruscamente o olhar. O que ele estaria pensando? Em poucos minutos, seria sua vez. Seus pensamentos, tão claros algumas horas antes, agora estavam confusos, embaralhados. Que impressão ele daria se não conseguisse se expressar sem se atrapalhar, sem se afundar? Tinha um nó na garganta; a boca estava ficando cada vez mais seca (…) Seu estômago estava embrulhado e, quando o colega da direita espirrou, ele se sobressaltou. Alguns olhares se voltaram para ele, e ele tentou sorrir para disfarçar. ‘É com você’, disse o diretor administrativo. Ele se levantou, os joelhos tremendo. Isso ia ser um desastre…”

Todo mundo ou quase todo mundo já passou por esse tipo de situação um dia ou outro. Todo mundo já ficou apreensivo, um dia ou outro, no momento de tomar a palavra em público, encontrar pessoas admiráveis, fazer uma declaração de amor ou, algo mais banal, pedir dinheiro a alguém.

De todos os nossos medos, aquele que temos de nossos semelhantes é, sem sombra de dúvida, o mais comum. Ele ocorre quando somos submetidos
ao olhar e à suposta avaliação de outra pessoa, ou pior, de um grupo de pessoas. Suas formas são múltiplas: nós o experimentamos em situações sociais tão banais quanto falar diante de um grupo, caminhar diante da esplanada de um café lotado, chamar o garçom para lhe pedir que troque um prato no restaurante etc.

Esse medo dos outros, médicos e psicólogos chamam de “ansiedade social”. Ele assume, às vezes, formas graves, particularmente dolorosas, próximas da patologia. É o caso das fobias sociais. Os indivíduos com fobia social experimentam um medo absurdo de certas situações aparentemente anódinas. Por exemplo, alguns não suportam ser observados quando estão comendo. Preferem até se abster.

É também o caso do que os psiquiatras chamam de “personalidades evitativas”: esses indivíduos temem quase constantemente ser julgados negativamente pelos outros, o que os leva a fugir, a se ensimesmar, a evitar o contato. Outras formas de ansiedade social decorrem, por sua vez, do simples constrangimento diário. É o caso do banal medo de palco ou ainda da timidez.

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Onde se situa o limite entre o que é patológico e o que não é? E essas manifestações seriam então benignas? Há dúvidas: na vida profissional ou sentimental, quando se trata de defender os próprios interesses, as ocasiões de se ver em dificuldade são numerosas demais para que uma disfunção, por menor que seja, não acabe criando um profundo mal-estar.

De fato, muitas pessoas deprimidas e dependentes do álcool são na origem indivíduos com transtorno de ansiedade social. Muitas vidas “fracassadas” têm como causa a falta de desenvoltura e de eficácia nas relações com os outros. Em todos os casos, a equação básica é a mesma: essas pessoas temem uma situação social (ou mesmo várias); confrontá-la desencadeia um sentimento de incômodo, de desconforto que pode chegar à angústia e até ao pânico; essas contrariedades são suficientemente pronunciadas para causar repercussões no comportamento, por exemplo, evitar enfrentar a situação temida; elas se desvalorizam, sentem vergonha.

O novo medo dos outros

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Ao longo desses anos, inúmeras pesquisas foram realizadas para afinar o conhecimento sobre as diferentes faces da ansiedade social e, em particular, para confirmar o impacto negativo das fobias sociais na vida daqueles que sofrem com elas. Ainda que por vezes tenham ocorrido debates acalorados entre especialistas, a existência dessa patologia é hoje aceita pela maioria deles, bem como a necessidade e o interesse de propor uma ajuda específica para enfrentá-la.

Por que então experimentamos esse medo dos outros? Os mecanismos que presidem seu aparecimento são fascinantes sob vários aspectos. Fatores genéticos, processos biológicos e neurobiológicos, modos de educação, pressões culturais ou elementos da história individual, inúmeros elementos que parecem estar envolvidos na gênese da ansiedade social.

As várias pesquisas realizadas nesse campo ainda não permitiram uma resolução definitiva sobre o peso exato desses diferentes fatores, mas são ricas em possíveis explicações e linhas de reflexão. O estudo das manifestações da ansiedade social destaca sobretudo o fato de que muitas vezes ela caminha junto com a apreensão de uma avaliação por parte dos outros e que ocorre quando, desejando produzir uma impressão favorável, pensamos não conseguir.

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Enquanto isso, percebemos que a ansiedade social não só gera um desconforto, às vezes até sofrimento para os indivíduos, como também pesa no funcionamento social como um todo e representa um obstáculo ao bom andamento das relações humanas em todos os âmbitos.

No entanto, existem soluções. A psicoterapia comportamental e cognitiva dispõe de ferramentas altamente eficazes e cientificamente validadas experimentalmente tanto para a prevenção quanto para o tratamento das dificuldades ligadas à ansiedade social. Vários medicamentos também se mostram eficazes para as formas mais incapacitantes.

Este é precisamente nosso objetivo: não apenas explorar o fascinante mundo de nossos medos sociais, explicar suas causas e mecanismos básicos, mas também mostrar a cada um os caminhos que deve seguir para superá-los. Em outras palavras, ajudar cada um a viver melhor, a ser ele mesmo com os outros.

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* Christophe André, Patrick Légeron e Antoine Pelissolo são psiquiatras franceses e autores de O Novo Medo dos Outros: Ansiedade, Timidez e Fobia Social no Século XXI, publicado pela Editora Vozes

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