O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, retornou à Casa Branca com uma gama de propostas polêmicas, de imigração à taxação exorbitante de importados. Mas, em meio às controvérsias, uma característica do novo (e velho) Trump tem se destacado: a postura imperialista, com promessas de tomar territórios de outros países. Por motivos diversos, pontos do mapa entraram na mira do republicano. Nem o planeta Marte saiu ileso.
Há mais de um século que os EUA não rompem, em alto e bom tom, com a ideia de soberania. O último presidente americano a fazê-lo foi William McKinley, que anexou Cuba, Havaí e Filipinas durante seu mandato. Definido por Trump como “um grande presidente” na cerimônia de posse em janeiro, McKinley foi assassinado em exercício em 1901. Foi ele que, inclusive, negociou a criação do Canal do Panamá – via artificial que Trump jurou tomar de volta, depois de os Estados Unidos terem a devolvido ao governo panamense em 1999.
As primeiras ameaças de Trump sobre o Canal do Panamá tiveram início ainda na corrida eleitoral, na qual derrotou a candidata democrata, Kamala Harris. No Arizona, ele disse em um comício de campanha que “as taxas cobradas pelo Panamá são ridículas, altamente injustas”, acrescentando: “Essa completa exploração do nosso país vai parar imediatamente”, em referência ao que faria caso voltasse ao comando.
A promessa foi reiterada na posse, quando também disse que trocaria o nome do Golfo do México para “Golfo da América”, sob risadas da ex-candidata Hillary Clinton. O governo americano alega que o Panamá violou os termos do acordo de devolução e que a China hoje controla a rota comercial. Por sua vez, o presidente panamenho, José Raul Mulino, salientou que o Canal é operado pelo próprio país e que não há “absolutamente nenhuma interferência chinesa”.
Na mais recentes das declarações, Trump disse que os Estados Unidos “vão assumir” e “tomar conta” da Faixa de Gaza, epicentro da guerra entre Israel e o grupo terrorista palestino Hamas, iniciada em outubro de 2023. Além disso, ele afirmou que enxergava uma “uma posição de propriedade de longo prazo” no enclave. Após a queda do Império Otomano, na década de 1920, a Faixa de Gaza foi controlada pelo Mandato Britânico. Depois, foi ocupada por Israel como resultado da Guerra dos Seis Dias (1967) até 2005, com o Hamas assumindo o comando após vencer as eleições parlamentares.
Em resposta, o grupo palestino condenou o plano e definiu como “racista” a ideia de retirar os palestinos da Faixa de Gaza. Segundo um porta-voz do Hamas, Abdel Latif al Qanu, “a posição racista americana está alinhada com a da extrema direita israelense e consiste em deslocar o nosso povo e erradicar a nossa causa”. O comunicado acrescentou que a declaração de Trump “apenas jogará mais lenha na fogueira”. Em meio à polêmica, a Casa Branca voltou atrás e falou nesta quarta-feira, 5, somente de uma “realocação temporária”.
Na América do Norte, o Canadá entrou no centro das prioridades de Trump – seja de taxação, seja de anexação. Ainda no ano passado, em jantar com o primeiro-ministro canadense, Justin Trudeau (a quem chamou de “governador”), o líder americano propôs que o país se tornasse o 51º estado americano. Não parou por aí. Em entrevista coletiva em janeiro, Trump defendeu que a tomada do Canadá terminaria com a “linha artificialmente desenhada” da fronteira, o que “seria muito melhor para a Segurança Nacional”, e sugeriu que o melhor jeito de driblar suas tarifas seria tornar-se parte dos Estados Unidos.
No momento, Canadá e Estados Unidos estão imersos numa batalha comercial, ainda que tenha sido congelada por 30 dias após negociações. No sábado, Trump determinou que tarifas de 25% sobre a maioria das importações de Canadá e México, além de 10% sobre produtos energéticos canadenses, entrassem em vigor à meia-noite desta terça-feira. Em resposta, Ottawa havia aplicado taxas de 25% sobre mercadorias americanas, mas acabou mordendo a língua e fez concessões a Washington, como o país latino, no campo de imigração e segurança.
Uma grande ilha entre Atlântico Norte e o Oceano Ártico também tornou-se alvo do republicano. Não é a primeira vez que Trump cogita comprar a Groenlândia, uma região autônoma administrada pela Dinamarca. A ideia despontou em 2017, no seu primeiro mandato, mas virou assunto público apenas em 2019.
Em janeiro, o assunto voltou à tona, com Trump dizendo que “(a questão da) Groenlândia será resolvida” e que acreditava que conseguiria assumir o local. Agora, basta aguardar as cenas dos próximos capítulos – e quais outros territórios, ilhas, países e até planetas, além da prometida colônia humana em Marte, com patrocínio de seu consiglieri Elon Musk, será a nova menina dos olhos do presidente americano.