Um novo estudo da IQAir, uma empresa suíça que monitora a qualidade do ar global, revelou nesta terça-feira, 11, quais são as vinte cidades mais poluídas do mundo. Todas, exceto uma, ficam na Ásia, com base na análise específica da matéria particulada fina, ou PM2.5, um dos menores, mas mais perigosos poluentes.
A maioria dessas cidades — 13 — pertencem ao país mais populoso do planeta, a Índia, onde o crescimento econômico é alimentado pelo carvão e centenas de milhões de pessoas vivem em megacidades congestionadas. Outras quatro ficam no vizinho Paquistão, uma na China e outra no Cazaquistão.
A única cidade fora da Ásia na lista é N’Djamena, a capital do Chade, na África Central. O país é apontado como o mais poluído do mundo.
Enquanto isso, as cidades da América do Norte com os piores índices estão todas na Califórnia. No Brasil, o relatório destaca que incêndios florestais na Amazônia amazônica impactaram vastas áreas da América Latina em 2024, com os níveis de PM2,5 em Rondônia e no Acre. quadruplicando em setembro.
O que é matéria particulada fina?
O PM2.5 vem de fontes como combustíveis fósseis, tempestades de poeira e incêndios florestais. É tão pequeno — 1/20 da largura de um fio de cabelo humano — que pode passar pelas defesas habituais do corpo humano e chegar aos pulmões ou corrente sanguínea.
As partículas causam irritação e inflamação e são associadas a problemas respiratórios, além de doenças renais crônicas. A exposição pode causar câncer, derrame ou ataques cardíacos e tem sido associada a um risco maior de depressão e ansiedade.
A Organização Mundial da Saúde (OMS) orienta que os níveis médios anuais de PM2,5 não devem exceder 5 microgramas por metro cúbico. Segundo a IQAir, apenas 17% das cidades no mundo atendem às diretrizes da OMS, e só sete países atingiram a recomendação no ano passado: Austrália, Bahamas, Barbados, Estônia, Granada, Islândia e Nova Zelândia.
Todas as 20 cidades mais poluídas do mundo no ano passado excederam as diretrizes de PM2,5 da OMS em mais de 10 vezes, mostrou o relatório da IQ Air.
Índia
Byrnihat, uma cidade industrial de cerca de 70 mil habitantes no nordeste da Índia, registrou uma concentração de PM2,5 de 128,2 em 2024 — mais de 25 vezes o padrão da OMS –, mantendo-se no topo da lista. Nova Déli, por sua vez, foi a capital mais poluída do mundo pelo sexto ano consecutivo, com uma concentração de PM2,5 de 91,8. O relatório também listou seis cidades satélites – Faridabad, Loni, Déli, Gurugram, Noida e Greater Noida – na lista.
Em novembro passado, um cobertor de poluição atmosférica caiu sobre Déli, interrompendo voos, bloqueando a vista de edifícios e levando o ministro-chefe da cidade a declarar uma “emergência médica”.
Mas, no geral, a Índia – a nação mais populosa do mundo, com 1,4 bilhão de habitantes – caiu do terceiro para o quinto lugar em relação ao ano anterior, de acordo com o relatório. Mesmo assim, a IQAir destaca que os níveis atuais de partículas são capazes de reduzir a expectativa de vida em cerca de 5,2 anos.
Os vizinhos Bangladesh e Paquistão — juntos, lar de cerca de 400 milhões de pessoas — foram o segundo e o terceiro países mais poluídos do mundo em termos de moléculas de PM2,5, de acordo com o relatório.
China
A China — que costumava dominar os rankings globais negativos — observou uma pequena melhora, disse o relatório. Sua concentração média anual nacional de PM2,5 diminuiu de 32,5 microgramas por metro cúbico para 31, com a qualidade do ar melhorando em megacidades como Pequim, Xangai, Chengdu, Guangzhou e Shenzhen.
O gigante asiático é o maior emissor de dióxido de carbono do mundo. Mas nos últimos anos tem travado uma campanha contra a poluição, impulsionando a expansão da energia solar e eólica, particularmente nas cidades responsáveis pelo crescimento econômico. Ainda assim, há denúncias contra os planos do país para construir mais usinas de carvão no ano passado, uma capacidade de quase 100 gigawatts de geração de energia.
Lacunas de dados
O Irã e o Afeganistão não apareceram no relatório deste ano devido à falta de disponibilidade de dados. O monitoramento da qualidade do ar no Sudeste Asiático também é um problema, com quase todos os países tendo “lacunas significativas em iniciativas lideradas pelo governo”, concluiu o relatório.
Em 2024, 173 das 392 cidades da região não tinham estações públicas de monitoramento, enquanto o Camboja não tinha nenhuma sequer.
Esses problemas provavelmente serão exacerbados, depois que o governo de Donald Trump anunciou, no início deste mês, que os Estados Unidos parariam de compartilhar dados de qualidade do ar coletados de suas embaixadas e consulados em todo o mundo devido a “restrições de financiamento”, informou a agência de notícias The Associated Press.