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“Minha barba branca é o meu disfarce”, diz Sérgio Chapelin, que circula no Rio sem ser reconhecido

Fora da TV desde 2019, Sérgio Chapelin passeia todos os dias pelo calçadão de Copacabana sem ser reconhecido. Aos 83 anos, ele viralizou nas redes após aparecer no Fantástico, num depoimento sobre Léo Batista, com visual bem diferente: barba branca e cabelo preso. A voz, no entanto, segue inconfundível. Hoje, o locutor que fez história na bancada do Jornal Nacional e apresentando o Globo Repórter diz viver feliz uma vida de “velhinho” com a mulher Regina Ghiaroni, promotora aposentada. Em 2021, os dois deixaram o interior de Minas para ficar mais perto de filhos e netos que vivem no Rio. 

Como é a sua vida de aposentado, fora da TV? 

A minha vida mudou muito em pouco tempo. Desde 1974, eu tinha propriedade no Sul de Minas. E eu estava morando no interior desde 2019, mas, de repente, me desfiz de tudo. Vendi o sítio em Itanhandu, e hoje vivo em Copacabana, o paraíso dos velhinhos. Sou um velhinho que caminha no calçadão e que ninguém dá bola. É uma maravilha.

O senhor apareceu no Fantástico de barba branca e rabo de cavalo. Esse é o seu disfarce, então?

Minha barba branca e meu bonezinho são hoje o meu disfarce. Quero entrar no mercado, padaria, caminhar tranquilamente. Copacabana é uma confusão. E quero ser mais um na multidão. 

Por que não quer ser reconhecido? 

É tão bom você ter sua privacidade. Antigamente, as pessoas me paravam pedindo para tirar foto. E, agora, imagina com todo mundo tendo celular. Então, é uma loucura. 

Na época da TV não tinha paz?

Graças a Deus, as manifestações sempre foram de carinho. Com essa polarização, fico pensando como meus companheiros estão se virando.

Os seus cabelos mudaram. Mas a voz…

É por isso que minha mulher fala: não abre a boca! Realmente, quando eu falo, as pessoas olham e dizem: ah, você é aquele repórter? 

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Chapelin em clima de interior: ele vivia num sítio no Sul de Minas antes de se mudar para Copacabana
Chapelin em clima de interior: ele vivia num sítio no Sul de Minas antes de se mudar para CopacabanaArquivo pessoal/Divulgação

O visual despojado atual tem a ver com estar cansado de se mostrar impecável na TV? 

Não. Meu primeiro terno foi feito em Rio Preto quando eu tinha 13 anos para a formatura do meu irmão mais velho. Nós morávamos em Valença. Andar de paletó e gravata pra mim era fácil. Mas também aprendi a andar na roça muito à vontade. E, agora, falo com você vestindo short de praia e regata. Passei por todas as fases com a maior naturalidade. A vida segue.

Como é a sua rotina?

Simples. Todo dia caminho na praia enquanto minha mulher rema de canoa havaiana no Posto 6. Escolhemos morar em Copacabana porque a Regina diz que é a praia mais linda que existe. Depois de caminhar, fico pesquisando no IPad. Aposo jantar, vejo um filmezinho ou uma série. Agora estou assistindo à série policial sueca “A grande descoberta”. E ponto. Estou feliz da vida. Já ralei bastante.  

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O senhor foi ao cinema para ver “Ainda estou aqui”?

Claro, um filme necessário e que não é panfletário. Falo com os meus netos que a ditadura não era brincadeirinha, não. Eu trabalhei na Rádio JB com censor do meu lado no estúdio. Dava o texto para ele, e depois dele aprovar eu podia ler o noticiário. Não podia dormir no ponto, porque durango kid pegava.  

O senhor se considera de esquerda?

Minha situação me obrigou a estar do lado da classe trabalhadora. Sou um cara de origem humilde, meus pais nunca tiveram casa própria, não recebi herança. Nunca fui militante, mas sempre fui uma pessoa de esquerda. Votei a primeira e a segunda vez no Lula, depois não votei em ninguém de um lado ou de outro. Estou esperando um candidato. 

O senhor cuida da voz, que segue perfeita?

Cuido nada! Agora tomo uns vinhos e uns uísques de vez em quando. Mas a preocupação era grande. Se pegava uma gripezinha era um drama colossal, porque tinha que preservar a marca, que era o apresentador, a voz. Hoje não é mais assim. 

O jornalismo na TV mudou muito?

Hoje eu seria reprovado. As pessoas improvisam muito, têm muita liberdade e têm que ter informação e formação muito grande. Passei a minha vida lendo textos. Hoje o jornalista de televisão tem que ser mais versátil. E isso é uma coisa que eu admirava no Léo Batista. 

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Mas o senhor é um ícone do jornalismo.  

Acredito que por dois motivos. Eu não tinha aquela voz natural de locutor do Cid Moreira, o melhor com quem trabalhei. Ele era um talento raro. Já eu fui um dos primeiros jovens cabeludos da TV, com uma voz bem definida e segura de anos de rádio. Isso conquistou muita gente. E eu também sempre me vangloriei por respeitar muito o texto. A ponto de receber elogio do Eduardo Coutinho (cineasta de “Cabra marcado para morrer”). Gravei muito texto do Coutinho no Globo Repórter, e uma vez numa pizzaria ele me disse: vc lia no ar, eu ouvia, e eu achava que não tinha escrito aquele texto. Nunca me aventurei a pegar um texto e não passar duas, três vezes ou mais até absorvê-lo para dizê-lo com competência de modo que as pessoas entendessem a informação com qualidade. 

Pelo visto, o senhor está envelhecendo com muito bom humor e qualidade de vida. 

Procuro privilegiar isso Tenho uma mulher maravilhosa que me ajuda e me apoia em tudo. São mais de 50 anos de relacionamento. Outro dia, fomos fotografados de mãos dadas no Shopping da Gávea, onde vimos o último filme do Almodóvar. Tenho 3 filhos e um de afeto, que é o meu enteado, e mais seis netos. E eu e Regina mantemos uma relação muito boa. Isso aumenta nossa capacidade de enfrentar os problemas. 

O senhor sabia que viralizou nas redes e despertou muita saudade ao aparecer no Fantástico?

Não, isso me surpreende. Mas vai que resolvem me chamar para voltar a trabalhar? Não quero, não, obrigado!

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