Mianmar tem rompido pontes com diversos países desde que uma junta militar tomou o governo do país, em 2021, e o mergulhou em uma guerra civil sangrenta. Agora, em face do terremoto de magnitude 7,7 que atingiu o sudeste asiático na sexta-feira, 27, e culminou na morte de ao menos 1600 mianmarenses, a junta militar pede ajuda e começa a receber os primeiros suprimentos e socorristas estrangeiros. “Eu gostaria de convidar qualquer país, qualquer organização, ou qualquer pessoa em Mianmar para vir ajudar”, disse Min Aung Hlaing, chefe da junta militar, durante discurso divulgado pela mídia estrangeira. A complexidade da política interna de Mianmar, com um governo então isolacionista, participante de uma guerra civil, e que carece de respaldo internacional, promete dificultar o período pós-terremoto.
Até o momento, alguns países e associações internacionais se comprometeram a enviar ajuda a Mianmar. China e Rússia são os principais parceiros militares do país do sudeste asiátco, e enviaram 130 e 120 socorristas para auxiliar na mitigação do desastre, respectivamente, além de suprimentos. O presidente da China, Xi Jinping, falou por telefone com Aung Hlaing, segundo declaração da embaixada chinesa em Mianmar. Beijing prometeu quase 13,8 milhões de dólares (equivalentes a 80 milhões de reais) em suprimentos para o país.
A Associação de Nações do Sudeste Asiático (ASEAN, na sigla em inglês), que reúne dez países da região, emitiu uma declaração neste sábado, 29, dizendo que reconhece “a necessidade urgente de assistência humanitária” a Mianmar, está “pronta para apoiar os esforços por auxílio e recuperação” do país e vai “coordenar ajuda humanitária, apoiar e facilitar operações de recuperação, e garantir respostas humanitárias ágeis e efetivas”. Além de Mianmar, são membros da ASEAN: Tailândia, Filipinas, Singapura, Malásia, Indonésia, Brunei, Vietnã, Laos e Camboja.
Outros dois países asiáticos, Índia e Coreia do Sul, também anunciaram o envio de ajuda humanitária a Mianmar. O país de maioria hindu já mandou 15 toneladas de suprimentos para Mianmar e disponibilizou um hospital de campanha com 180 especialistas. No entanto, o terremoto trouxe complicações logísticas. Os aeroportos internacionais de Naypyidaw, capital do país, e Mandalay, a segunda maior cidade, foram fechados temporariamente devido aos danos causados pelo abalo sísmico, segundo rebeldes que disputam o poder com a junta militar. Com isso, a ajuda humanitária indiana e chinesa chegaram através do aeroporto de Rangoon, mais distante do epicentro da catástrofe. Já a Coreia do Sul disse que vai disponibilizar 2 milhões de dólares (equivalentes a 11,5 milhões de reais) em ajuda humanitária através do acionamento de organizações internacionais.
O governo dos Estados Unidos também vai contribuir com o auxílio humanitário a Mianmar, mas não deu detalhes sobre o plano de ajuda, segundo a agência de notícias Reuters. A futura ajuda americana ocorrerá, contudo, em meio ao desmonte da Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional (USAID, na sigla em inglês). O presidente americano, Donald Trump, disse ao Congresso local na sexta-feira, 28, que vai cortar quase todos os cargos restantes na USAID. A agência foi o principal instrumento de ajuda humanitária americana ao longo dos últimos 60 anos.