Já se sabe que os humanos modernos têm algo entre 1 e 2% do seu genoma herdado de Neandertais. Isso significa que pelo curto período em que essas duas espécies conviveram, elas cruzaram entre si, fazendo com que resquícios do grupo extinto ficassem eternizados no material genético humano. Agora, alguns trabalhos científicos – um deles com a análise do genoma humano mais antigo do mundo – revelam detalhes desse cruzamento.
Estimativas anteriores mostravam que esse contato havia ocorrido entre 54 e 41 mil anos atrás, mas a análise mais recente joga luz sobre dados mais precisos. De acordo com dois artigos, um publicado na Science e outro na Nature, isso ocorreu por volta de 50,5 mil anos atrás e essas relações duraram aproximadamente 7 mil anos, até a extinção dos Neandertais.
Quais as implicações do estudo?
Para fazer isso, os pesquisadores compararam genomas de humanos modernos com 58 amostras de Homo sapiens ancestrais. Além disso, uma outra investigação analisou o genoma de dois indivíduos que viveram há 45 mil anos. “Embora os genomas antigos tenham sido publicados em estudos anteriores, eles não foram analisados para observar a ancestralidade Neandertal dessa forma detalhada”, Manjusha Chintalapati, autora do artigo da Science, em comunicado. “Ao analisar todas essas amostras em conjunto, inferimos que o período de fluxo gênico foi de cerca de 7.000 anos.”
De acordo com os pesquisadores, os achados sugerem que os Homo sapiens passaram a procriar com os neandertais assim que deixaram a África e que esse cruzamento ocorreu até que os últimos começassem a ser extintos. Isso foi importante porque os seres mais primitivos viveram em climas mais expostos a era do gelo. O cruzamento teria feito com que os humanos modernos herdassem genes que os ajudassem a sobreviver a esse novo ambiente, mais desafiador.
+O encontro entre Neandertais e Sapiens revelado pela análise genética
Hoje, a maior parte dos genes neandertais remanescentes nas pessoas modernas são relacionados ao metabolismo, à cor da pele e ao sistema imunológico – inclusive o que confere resistência a Covid-19. “O ambiente muda e então alguns genes se tornam benéficos”, disse Benjamin Peter, coautor do artigo e pesquisador da Instituto Max Planck.
Há, no entanto, algumas regiões do genoma que não tem nenhuma herança neandertal, o que sugere que alguns genes presentes nos ancestrais foram letais para os humanos modernos.
A análise ainda permite mais uma interpretação. Hoje, nem todos os grupos populacionais tem a mesma porcentagem de DNA neandertal e isso pode estar relacionado ao longo período de intercruzamento. “Mostramos que o período de mistura foi bastante complexo e pode ter levado muito tempo”, explica Peter. “Diferentes grupos podem ter se separado durante o período de 6.000 a 7.000 anos e alguns grupos podem ter continuado a se misturar por um período de tempo mais longo.”