Moradora de Ji-Paraná, em Rondônia, a dona de casa Vanessa Ferreira Lins chegou a Brasília nesta semana para um verdadeiro périplo junto a autoridades, acompanhada dos seis filhos pequenos — cujas idades variam entre 1 e 10 anos. Casada um dos condenados pelos ataques de 8 de janeiro de 2023 às sedes dos Três Poderes, ela tem se tornado uma espécie de estandarte da oposição ao governo Luiz Inácio Lula da Silva pela anistia aos envolvidos nos atos e que, segundo as famílias, não tiveram respeitado o “devido processo legal” e nem o amplo direito à defesa.
O caminhoneiro Ezequiel Ferreira Lins, marido de Vanessa, foi condenado a 14 anos de prisão por tentativa de golpe de Estado e está foragido. Antes do julgamento e da imposição da pena, ele ficou oito meses detido, foi liberado e chegou a voltar para casa. Quando houve a condenação, decidiu fugir. Ezequiel alegou que, em 8 de janeiro, tinha ido a Brasília fazer um frete e que não chegou a participar dos atos.
“Ele foi ver o que tinha acontecido lá, de curioso. E chegou na hora que tinha acabado tudo e os helicópteros estavam jogando gás. Entrou num prédio daqueles e ficou lá dentro”, declarou o ex-presidente Jair Bolsonaro na última terça-feira, 11. “Não tem imagem dele quebrando nada, fazendo nada, e pegou 14 anos de cadeia”, afirmou.
Foi Bolsonaro, inclusive, quem “apadrinhou” a ida da família Ferreira Lins à capital federal e pediu que aliados colaborassem com a visita. Em setembro do ano passado, o ex-presidente já havia estado em Ji-Paraná, quando gravou um vídeo ao lado de Vanessa e das seis crianças.
O objetivo da viagem a Brasília foi claro: pressionar as lideranças no Congresso a pautarem o projeto de anistia que versa sobre o tema e que, atualmente, está na Câmara. O texto prevê o perdão a condenados nos atos, mas contém dispositivos que também livrariam Bolsonaro da inelegibilidade imposta por decisão do Tribunal Superior Eleitoral (TSE).
Em coletiva no Salão Verde da Câmara, Vanessa fez um apelo às autoridades para que analisem o projeto. “Crianças também foram condenadas a viver longe dos pais. Eu fui condenada a não ter o meu marido comigo, a viver sozinha, a dormir sozinha, a tomar decisões sozinha, a ir a um hospital sozinha (…) Mas eu estou aqui para suplicar a misericórdia de Deus e dos senhores. Presidente Hugo Motta, misericórdia, por mim e por todas as famílias que sofrem”, disse.
Na mesma tarde, a dona de casa e parlamentares bolsonaristas, entre eles o líder da oposição Zucco (PL-RS), se reuniram privadamente com o presidente da Câmara. Na última semana, Motta já havia prometido “imparcialidade” na tramitação do projeto e chegou a declarar que, ao seu ver, o episódio não foi uma tentativa de golpe de Estado. Na ocasião, o parlamentar disse que vai colocar o assunto em discussão na reunião de líderes e, se a maioria deles concordar, a proposta vai começar a andar na Casa.
Também na terça, 11, Bolsonaro comentou os trâmites no Congresso. “Ele [Hugo Motta] falou que não pode ignorar a pauta do maior partido do Brasil, que é o PL. E vai ouvir colégio de líderes e, em havendo clima favorável, ele bota em votação”, afirmou. “Não é uma anistia política, é uma anistia humanitária”, prosseguiu o ex-presidente.
Ajuda internacional
Além dos encontros e de gritos de “Anistia Já” puxados pelos corredores da Câmara, a visita de Vanesssa Ferreira Lins também incluiu uma reunião com representantes da Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH), vinculada à Organização dos Estados Americanos (OEA). O grupo esteve com Pedro Vaca, relator para liberdade de expressão da comissão.