Em um discurso televisionado nesta terça-feira, 10, o líder rebelde Mohamed al-Bashir anunciou que será o primeiro-ministro interino da Síria, após a destituição do regime autoritário de Bashar al-Assad. Segundo a declaração, ele ficará encarregado de liderar um governo de transição até 1º de março de 2025.
Anteriormente à ofensiva relâmpago que derrubou Assad, encerrando seus 24 anos no poder, Bashir, 41 anos, trabalhou para o ministério do grupo responsável pelo desenvolvimento e ajuda humanitária na Síria. Em janeiro de 2024, foi escolhido para chefiar uma área controlada por rebeldes no noroeste da Síria, o que os rebeldes apelidaram de “Governo da Salvação”.
O Governo da Salvação está ligado ao grupo islâmico Hayat Tahrir-al Shams (HTS), que liderou a derrubada do regime de Assad e encerrou quase 14 anos de guerra civil. O HTS é liderado, por sua vez, por Abu Mohammad al-Jolani, e foi sob sua mão que a organização se tornou a principal força rebelde no noroeste do país. No histórico, o HTS, apesar de ter raízes na Al-Qaeda, realizou ações na cidade de Idlib contra o grupo criado por Osama Bin Laden, e também reprimiu operações do Estado Islâmico na região.
Embora seja um grupo fundamentalista islâmico, o HTS impõe a lei islâmica de maneira mais branda que os demais grupos jihadistas. Mas também é classificado como uma organização terrorista por vários governos ocidentais, como Estados Unidos, e do Oriente Médio, bem como pelo Conselho de Segurança das Nações Unidas.
Bashir é um engenheiro, que também é formado pela universidade em Idlib, um antigo reduto rebelde, em lei sharia – diretriz para a vida que todos os muçulmanos deveriam seguir, que inclui orações diárias, jejum, doações para os pobres, além de disposições sobre todos os aspectos da vida cotidiana, incluindo família, negócios e finanças.
Queda de Assad
Após deixar a Síria diante da tomada do poder por grupos rebeldes, Assad desembarcou na capital russa, Moscou, segundo o Kremlin, que concedeu asilo político a ele e sua família.
O ditador deixou ordens para uma “transição pacífica de poder”, de acordo com um comunicado do Ministério das Relações Exteriores russo, que declarou não ter participado da saída do presidente do país.
Desde o último sábado, os rebeldes têm avançado por cidades estratégicas do país. O Exército sírio, que tentou conter os radicais e recebeu ajuda da Rússia e do Irã, abandonou a cidade de Homs, a 160 quilômetros da capital, que foi tomada na manhã de sábado. Membros do Exército teriam deixado o local de helicóptero.
A autoria dos levantes é reivindicada pelo grupo jihadista Hayat Tahrir al-Sham (HTS), que nasceu a partir de uma ramificação da Al-Qaeda. No sábado passado, 30, eles tomaram Aleppo, a segunda maior cidade da Síria. Na última quinta, 5, chegaram a Hama, e neste sábado, mais cedo, cercaram Homs. Todas essas cidades são consideradas estratégicas, seja pela localização, seja pelas rotas em direção a países vizinhos.
A queda de Assad marca o fim de uma dinastia de mais de 50 anos. No poder desde 2000, o líder comandou com repressão o país depois de herdar a cadeira do pai, Hafez al-Assad, também presidente por mais de 30 anos.
A guerra civil síria começou há 13 anos, durante a Primavera Árabe, e se transformou em um conflito sangrento e multifacetado envolvendo grupos de oposição domésticos, facções extremistas e potências internacionais, incluindo os Estados Unidos, o Irã e a Rússia. Mais de 500.000 sírios morreram e milhões fugiram de suas casas.