O ministro da Justiça e Segurança Pública, Ricardo Lewandowski, determinou que a Polícia Federal (PF) abra inquérito para apurar a atuação do crime organizado no setor de postos de combustíveis. A determinação é resultado da primeira reunião do Núcleo de Combate ao Crime Organizado, que ocorreu na tarde desta quarta-feira, 5.
No ofício encaminhado ao diretor-geral da PF, Andrei Rodrigues, Lewandowski afirma que a atuação dos criminosos no setor é uma “articulação interestadual e sistêmica, que exige repressão uniforme”. Além da infiltração do crime organizado, a investigação também irá apurar a formação de carteis. Entre 2019 e 2024, o Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade), aplicou ao menos 315,8 milhões de reais.
Na reunião desta quarta-feira, o Cade foi um dos participantes, representado pelo presidente Alexandre Cordeiro Macedo, além de integrantes do Ministério da Justiça, das polícias Federal e Rodoviária Federal, o secretário especial da Receita Federal, Robinson Barreirinhas, e outras autoridades.
“O crime organizado tem utilizado postos de combustíveis como fachada para lavagem de dinheiro e outras práticas ilícitas. Estima-se que mais de mil postos já estejam sob controle dessas organizações, o que afeta diretamente a concorrência, distorce os preços e compromete a segurança econômica do setor”, afirmou Lewandowski no encontro.
O ministro ainda anunciou a criação de um subgrupo permanente, que compartilhará informações estratégicas para promover a troca de dados entre os órgãos envolvidos no combate da infiltração do crime no setor. Ele destacou ainda que, com a união de esforços entre os setores público e privado, constituiu-se uma base sólida para enfrentar o crime de forma mais efetiva.
Autoridades em alerta
Os postos de combustível sempre foram atrativos para a lavagem de dinheiro pela alta rotatividade de clientes, pagamentos em dinheiro em espécie e transações sem nota fiscal. Nos últimos anos, porém, o crime organizado conseguiu controlar uma boa fatia do mercado e se infiltrar em todas as etapas da cadeia, desde a importação ou produção da matéria-prima, na logística, nas bombas de combustível e, em alguns casos, até depois do pagamento, por meio de máquinas de cartão de fintechs ligadas ao crime.
Como mostrou reportagem da última edição de VEJA, a presença das facções chamou atenção das autoridades, que têm fechado o cerco contra criminosos que atuam no setor. Além do Ministério da Justiça, o Ministério Público de São Paulo avança em investigações sobre o assunto e iniciativas na Câmara dos Deputados buscam apurar o crime no setor, no caso da CPI proposta pelo deputado João Carlos Bacelar (PL-BA), ou ampliar a capacidade de fiscalização, como propôs o deputado Júlio Lopes (PP-RJ), que quer um Operador Nacional do Sistema de combustíveis.