Os investidores estrangeiros sacaram 4,9 bilhões de reais da Bolsa brasileira entre os dias 02 e 07 de abril (dados mais recentes), quando a guerra comercial entre os Estados Unidos e a China recrudesceu, com uma escalada tarifária de ambos os lados. O comportamento dos estrangeiros é um claro exemplo de que a aversão ao risco se disseminou por todos os mercados. Como representam uma força relevante na B3, a fuga desses investidores contribuiu para o tombo de 4,3% do Ibovespa no período.
Na ponta compradora, os investidores institucionais, como fundos de pensão e seguradoras, realizaram investimentos líquidos de 2,1 bilhões de reais de 02 a 07 de abril, absorvendo a maior parcela das ações vendidas pelos gringos. As pessoas físicas ficaram em segundo lugar com saldo positivo de 1,8 bilhão. As empresas, que geralmente participam do mercado por meio de programas de recompra de ações, ficaram na terceira posição com saldo de 682 milhões. Completando o quadro, vieram os investidores financeiros, como as tesourarias de bancos, com compras líquidas de 255 milhões de reais.
O tarifaço estabelecido pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, com a assinatura da ordem executiva de 02 de abril implodiu as principais bolsas de valores do mundo, seja porque as tarifas recíprocas impostas pela Casa Branca às importações dos demais países afetarão as receitas e lucros das empresas em geral, seja porque isso alimenta o medo dos investidores de uma recessão global.
A tarifa mínima estabelecida por Washington para os produtos estrangeiros é de 10%. Esta é, inclusive, a alíquota que o Brasil pagará. A cobrança entrou em vigor em 5 de abril. Outras nações, contudo, foram taxadas com alíquotas bem maiores e que entraram em vigor nesta quarta-feira 9. É o caso do Japão, que pagará 24%, da Coreia do Sul (25%) e de Taiwan (32%). A taxação dos produtos chineses ganhou um capítulo à parte na escalada protecionista americana.
Logo após sua posse em janeiro, Trump anunciou uma tarifa mínima de 10% sobre as mercadorias da China. No início de março, o republicano dobrou a sobretaxa para 20%. Na quarta-feira passada, quando formalizou o tarifaço contra todos os parceiros comerciais dos Estados Unidos, o republicano instituiu uma tarifa adicional de 34% para os artigos chineses. Com isso, a alíquota total passaria de 20% para 54%. Washington esperava, com isso, arrastar Pequim para a mesa de negociações, a fim de arrancar concessões da segunda maior economia do planeta.
Em vez disso, o governo do presidente Xi Jinping decidiu taxar a entrada de mercadorias americanas também em 34%. Contrariado, a réplica de Trump foi anunciar uma terceira sobretaxa à China, desta vez de 50%. Com isso, as importações chinesas pagarão um total de 104% para entrar nos Estados Unidos, representado pelos 20% iniciais, mais os 34% do dia 02 de abril e os 50% posteriores.
Ao mesmo tempo, Trump deu um ultimato a Pequim para que recuasse e cancelasse a sobretaxa de 34% aos produtos chineses. O prazo estabelecido pelo governo americano venceu ontem e, sem resposta, a sobretaxa de 104% entrou em vigor hoje. A reação da China veio nesta manhã com o anúncio de que os produtos americanos serão taxados em 84% para entrar no país.
Na trocação entre os dois maiores pesos-pesados deste MMA global, os demais países sentem os efeitos colaterais expressos, entre outros, pelas fortes quedas nas bolsas de valores. O CAC 40 da Bolsa francesa derreteu 12% entre os dias 02 e 07 de abril, recuando dos 7 858 pontos para os 6 927 pontos. O DAX da Bolsa de Frankfurt, na Alemanha, tombou praticamente o mesmo, saindo de 22 390 pontos para 19 789 no período. O Stoxx 600, que representa as 600 ações mais negociadas na Europa, recuou 11,7%. O índice Nikkei 225 da Bolsa de Tóquio caiu 12,8%. Já a Bolsa de Xangai perdeu 7,6%, e o índice Hang Seng da Bolsa de Hong Kong implodiu 14,5%.
Diante disso, a queda de 4,3% do Ibovespa no período reflete a percepção de parte do mercado de que o Brasil se saiu relativamente bem no episódio ao ser taxado com a alíquota mínima de 10% pelos Estados Unidos. Além disso, parte dos analistas afirma que as exportações brasileiras também podem se tornar mais atraentes diante de rivais que arcarão com sobretaxas maiores.
No acumulado do ano até o dia 07 de abril, o Ibovespa ainda apresentava um ganho de 4,4%, puxado pelos investidores estrangeiros. Apesar das fortes vendas nos últimos dias, o saldo anual aportado pelos gringos na Bolsa brasileira era de 5,3 bilhões de reais até aquela data. As pessoas físicas ficam em segundo lugar, com compras líquidas acumuladas de 3,1 bilhões de reais, seguidas pelas tesourarias dos bancos com 300 milhões.
Na ponta vendedora, os investidores institucionais acumulam um saldo negativo de 7,6 bilhões de reais neste ano. As empresas ficam em segundo lugar, com vendas líquida de 3,8 bilhões. Neste caso, contudo, a conta é bastante influenciada por uma única operação: em 16 de janeiro, a Cosan zerou a posição que detinha na Vale, ao vender cerca de 173 milhões de ações (VALE3) no mercado e levantar 9 bilhões de reais com o negócio. Como era de se esperar, os investidores estrangeiros ficaram com a maior parte dos papéis. Naquele dia, o saldo líquido de compras dos estrangeiros na B3 foi positivo em 6,5 bilhões de reais.