Se você achava que os pinguins eram os eternos românticos do reino animal, prepare-se para uma reviravolta. Pesquisadores australianos descobriram que, pelo menos entre os pequenos pinguins-azuis (Eudyptula minor), a taxa de “divórcio” é capaz de chocar os mais conservadores.
Apesar da fama de monogâmicos incuráveis, esses pinguins parecem levar o compromisso com certa flexibilidade. Na Ilha Phillip, na Austrália, cientistas da Universidade Monash acompanharam a vida amorosa de quase mil casais ao longo de 12 anos e registraram cerca de 250 separações. Isso dá uma média de 21 “rompimentos” por ano entre 2000 e 2013. Para efeito de comparação, a taxa de divórcio entre humanos nos Estados Unidos é de cerca de 2,4 a cada mil uniões (quase 10 vezes menor que a dos pinguins). No Brasil, há aproximadamente 2,8 separações para cada mil casamentos.
No reino dos pinguins-azuis, os pesquisadores consideraram um “divórcio” quando um indivíduo marcado de uma temporada reaparecia no ano seguinte com um parceiro diferente. De acordo com os dados coletados, a decisão de ficar ou sair do relacionamento estava muitas vezes ligada ao sucesso reprodutivo nas estações anteriores.
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“Em épocas boas, eles geralmente ficam com seus parceiros, embora muitas vezes haja um pouco de brincadeiras paralelas”, explica o ecofisiologista Richard Reina, de Monash, que estuda a colônia da ilha há 20 anos. “No entanto, após uma temporada reprodutiva ruim, eles podem tentar encontrar um novo parceiro para a próxima temporada para aumentar seu sucesso reprodutivo.”
Iê, iê, iê, infiéis
Essa falta de compromisso exclusivo também aparece em outras espécies. Os pinguins-imperadores (Aptenodytes forsteri) e os pinguins-de-adélia (Pygoscelis adeliae), por exemplo, nem sempre são fiéis aos seus pares. Embora seja verdade que, durante a época de reprodução, a maioria das espécies de pinguins acasala com o mesmo parceiro do ano anterior, esses laços nem sempre duram a vida toda e essas espécies frequentemente assumem “casos extraconjugais”. Um estudo de 1999 mostrou que apenas 15% dos pinguins-imperadores ficam com o mesmo parceiro em temporadas consecutivas, enquanto outras espécies chegam a uma taxa de monogamia social de 90%.
E tem um detalhe: com as mudanças climáticas fazendo com que os pequenos pinguins se reproduzam mais cedo, alguns decidem aproveitar o tempo extra para testar novos relacionamentos. “Eles terminam mais cedo e pensam: ‘Ah, posso tentar uma segunda vez’. Nos bastidores, eles podem ter de quatro a cinco parceiros em uma noite”, disse Andre Chiaradia, cientista marinho da Universidade Monash, à rede de TV americana ABC.
Chiaradia é autor de um trabalho recente que conclui que as taxas de divórcio entre os pequenos pinguins são o fator mais consistente para prever o sucesso reprodutivo da colônia.
Mas calma, nem tudo é libertinagem. Estudos indicam que casais de pinguins que permanecem juntos por várias temporadas costumam ter um sucesso reprodutivo maior ao longo do tempo. Ou seja, mesmo entre os pinguins, a fidelidade pode ter vantagens.
Então, da próxima vez que você ver aqueles documentários fofos sobre casais de pinguins construindo ninhos juntos, lembre-se: pode ser amor verdadeiro… ou apenas um casinho de verão.