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Impostores e lucrativos: estudo faz alerta sobre suplementos naturais que ‘limpam’ o fígado

Suplementos naturais para desintoxicar ou limpar o fígado são vendidos na internet, compartilhados nas redes sociais e anunciados na TV aberta. Surfam na onda de um mercado pouco regulado – as regras de aprovação e comercialização são diferentes das dos medicamentos – e prometem mundos e fundos para livrar o organismo de toxinas e mantê-lo em equilíbrio. O grande problema: não há provas de que funcionam e ainda podem trazer prejuízos à saúde.

O novo alerta vem de um estudo publicado no periódico científico The American Journal of Gastroenterology. Uma equipe da Universidade do Novo México, nos EUA, fez uma varredura e investigou os 20 suplementos com essa finalidade mais vendidos no site da Amazon, o principal canal de compras do mercado americano. Juntos, esses produtos geram uma receita de mais de 38 milhões de dólares por ano.

Tais suplementos, com pegada mais natural, alegam “eliminar toxinas”, “limpar o fígado” ou ter efeito “detox” – e 85% deles ainda prometem melhorar as funções hepáticas. Os principais ingredientes nas fórmulas são:

  • Cardo-mariano, fitoterápico também vendido como silimarina;
  • Dente-de-leão, outra erva com supostas propriedades medicinais;
  • Cúrcuma, um tipo de raiz bastante difundido na indústria de suplementos.

Ao se debruçarem sobre as pesquisas disponíveis com esses componentes, os especialistas detectaram que faltam evidências científicas de eficácia sobre os efeitos propagandeados e informações limitadas e inconclusivas sobre suas repercussões na saúde do fígado. 

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Concluem os autores da análise: “As alegações de saúde ousadas, a alta satisfação dos consumidores [medida pelas notas dadas na Amazon] e as vendas significativas destacam a necessidade de avaliação e regulamentação mais rigorosas desses produtos”.

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Repercussão para o Brasil e os brasileiros

Embora o estudo tenha se detido sobre os produtos mais procurados e consumidos nos EUA, médicos brasileiros observam que o uso de suplementos naturais e fitoterápicos para “limpar” ou “proteger” o fígado é uma realidade disseminada e preocupante no país.

“No Brasil, essa história ganha um tom ainda maior de preocupação porque há uma cultura fitoterápica muito grande e, como essa área não é tão bem regulamentada como a das medicações alopáticas, não temos estudos controlados que avaliam efeitos adversos e malefícios desses suplementos”, diz o hepatologista Anderson Brito, membro da Sociedade Brasileira de Hepatologia, que está realizando a 34ª Semana do Fígado do Rio de Janeiro. 

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“Estamos falando de produtos sem comprovação de benefícios e segurança em estudos clínicos e que são vendidos na internet, na TV e até na feira”, comenta o endocrinologista Carlos Eduardo Barra Couri, pesquisador da USP de Ribeirão Preto e coordenador do Endodebate Fígado, evento que também discute tendências na saúde hepática. “Sem falar na falta de controle de qualidade do que é vendido por aí.”

De fato, há uma variedade de extratos e fitoterápicos difundidos pelo território nacional, alguns deles com a promessa, não sustentada, de desintoxicar o corpo ou proteger o fígado.

“É comum pegarmos no consultório pacientes fazendo uso de fitoterápicos, em suplementos, chás e fórmulas manipuladas”, afirma Brito. “O problema é que alguns deles, como a erva cavalinha, podem causar danos importantes ao fígado.”

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A falta de regulação, controle e orientação também expõe consumidores a equívocos e riscos. “Há uma diferença entre o chá-verde para consumo como infusão e o extrato da planta utilizado em fórmulas de manipulação, e este pode causar uma hepatite, a inflamação do fígado”, exemplifica o hepatologista, que também é médico da rede Dasa São Lucas e diretor do Instituto de Medicina da Faculdade Mar Atlântico, no Rio de Janeiro.

“Não é porque é natural que não vai fazer mal”, reforça.

Outra preocupação está no radar dos especialistas. Tem gente que, acreditando nas promessas de que suplementos e fitoterápicos resguardarão o fígado, acaba exagerando em comportamentos sabidamente nocivos para o órgão, como o consumo de bebida alcoólica.

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“Não tem nenhuma evidência de que essa medida vá melhorar ou proteger o fígado. A melhor forma de protegê-lo é não agredi-lo”, diz Brito.

“O fígado é autossuficiente na metabolização de substâncias nocivas. Esse é um dos papéis dele. Então, você não tem que tentar protegê-lo. Ele que protege você”, sintetiza o hepatologista.

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