O grupo terrorista palestino Hamas respondeu a um ultimato do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, sobre o cessar-fogo em Gaza nesta terça-feira, 11, afirmando que o acordo que suspendeu as hostilidades com Israel no enclave é “a única maneira” de trazer os reféns israelenses de volta para casa. O chefe da Casa Branca ameaçou cancelar a trégua caso todos os cativos não sejam soltos até sábado ao meio-dia, depois do Hamas adiar uma das libertações programadas.
O Hamas anunciou na segunda-feira que decidiu adiar a próxima liberação de reféns, prevista para sábado, culpando Israel por quebrar a trégua que entrou em vigor em 19 de janeiro. Segundo o grupo palestino, as violações incluíam “atrasar o retorno dos (palestinos) deslocados para o norte da Faixa de Gaza e alvejá-los com bombardeios e tiros”.
Horas depois, Donald Trump, que reivindicou o crédito por garantir o acordo entre Israel e Hamas, deu um ultimato. Caso todos os reféns israelenses em Gaza não fossem devolvidos até sábado ao meio-dia, ele ameaçou cancelar o cessar-fogo e deixar “o inferno se soltar”. No total, 17 israelenses ainda deveriam ser libertados na primeira fase da trégua, dividida em três estágios. Segundo Tel Aviv, oito deles estão mortos.
Uma autoridade de alta patente do Hamas, Sami Abu Zuhri, respondeu aos comentários do presidente americano em uma entrevista à agência de notícias Reuters nesta terça-feira.
“Trump deve lembrar que há um acordo que deve ser respeitado por ambas as partes, e esta é a única maneira de trazer os reféns de volta. A linguagem de ameaças não tem valor e só complica as coisas”, disse ele.
Acusações do Hamas
Na segunda-feira, o escritório de imprensa do governo de Gaza, comandado pelo Hamas, disse que Israel se recusou a permitir a entrada de suprimentos especificados no cessar-fogo. Sob o acordo, 600 caminhões de ajuda — 50 deles transportando combustível — devem ser autorizados a entrar em Gaza todos os dias. Esse número foi atingido ou excedido nos três primeiros dias do cessar-fogo.
O cessar-fogo entre Israel e o Hamas entrou em vigor em 19 de janeiro, inaugurando a primeira pausa no conflito em mais de 15 meses, sob a previsão de três etapas. Apesar da intensa mediação de países parceiros, a complexidade e a fragilidade do acordo são altas, o que significa que qualquer pequeno incidente pode crescer e ameaçar acabar com o pacto.
As negociações para o início da segunda das três fases do cessar-fogo deveriam começar nesta segunda-feira.
Cerca de 1.200 israelenses morreram e 251 foram sequestrados quando o Hamas atacou o território israelense em 7 de outubro de 2023. Em resposta, Israel começou uma ofensiva em larga escala em Gaza, que matou mais de 47.000 palestinos e deslocou milhões de pessoas.
As fases do cessar-fogo
Sob a primeira fase do acordo, com previsão de duração de 42 dias, o Hamas concordou em libertar 33 reféns, entre eles crianças, mulheres — incluindo militares — e pessoas com mais de 50 anos. Em troca, Israel libertaria 50 prisioneiros palestinos para cada mulher das Forças Armadas de seu país, e 30 para os demais reféns.
Na segunda fase, o objetivo é que um cessar-fogo permanente seja alcançado, os reféns vivos que ainda estão em Gaza sejam trocados por palestinos presos por Israel e forças israelenses façam uma retirada completa da área.
Já na fase final, o acordo prevê o retorno dos corpos dos reféns mortos e a reconstrução de Gaza, que deve demorar anos.
No último sábado, o Hamas libertou mais três reféns, na quarta troca entre as duas partes, desde 19 de janeiro. Ainda há 79 pessoas reféns desde 7 de outubro de 2023. Em troca, Israel libertou 183 prisioneiros palestinos, incluindo mulheres e crianças e na maioria pessoas sem acusações formais.
Gaza em ruínas
Bombardeios israelenses constantes, que começaram assim que o Hamas invadiu comunidades no sul de Israel em 7 de outubro de 2023, arrasaram quase por completo o enclave palestino. Estimativas das Nações Unidas apontam que 69% das estruturas em Gaza foram danificadas ou destruídas, incluindo mais de 245.000 residências.
O Banco Mundial calculou que os prejuízos ultrapassam os 18,5 bilhões de dólares (cerca de 111 bilhões de reais) — quase a produção econômica da Cisjordânia e de Gaza juntas em 2022 — apenas nos primeiros quatro meses da guerra.
De acordo com avaliações das Nações Unidas, serão necessárias dezenas de anos para reconstruir as casas destruídas em Gaza. Só a remoção dos mais de 50 milhões de toneladas de escombros pode levar 14 anos e custar 1,2 bilhão de dólares (cerca de 7,2 bilhões de reais). O processo é agravado ainda pela presença de munições não detonadas e outros materiais nocivos sob os destroços, além de restos mortais das vítimas de bombas.