O grupo palestino radical Hamas afirmou nesta quinta-feira, 6, que as ameaças do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, sobre o futuro da população da Faixa de Gaza incentivaram o primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, a recuar no cessar-fogo. Na véspera, o republicano demandou que os militantes libertem “todos os reféns”, incluindo restos mortais, advertindo: “ou acabou para vocês”.
“As repetidas ameaças de Trump contra nosso povo representam apoio a Netanyahu para fugir do acordo e reforçam o cerco e a fome contra nosso povo”, disse o porta-voz do Hamas, Abdel-Latif Al-Qanoua, à agência de notícias Reuters. “O melhor caminho para libertar os prisioneiros israelenses restantes é passar para a segunda fase e obrigar (Israel) a aderir ao acordo assinado sob o patrocínio de mediadores.”
Nas redes sociais, o presidente dos EUA escreveu que estava “enviando a Israel tudo o que precisa para terminar o trabalho, nenhum membro do Hamas estará seguro se vocês não fizerem o que eu digo”, concluindo: “Além disso, para o povo de Gaza: um lindo futuro aguarda, mas não se vocês mantiverem reféns. Se fizerem isso, vocês estão MORTOS! Tome uma decisão INTELIGENTE. LIBERTEM OS REFÉNS AGORA, OU HAVERÁ UM INFERNO PARA PAGAR DEPOIS!”.
A primeira fase do cessar-fogo em Gaza, que teve início em janeiro, expirou no sábado, sem qualquer sinal de que Israel avançará nas negociações para a segunda fase, que prevê a retirada total das tropas israelenses do enclave palestino. Com o fim da etapa, Netanyahu impôs um novo bloqueio à entrada de ajuda humanitária na Faixa de Gaza e exigiu a soltura dos reféns restantes para o fim da guerra, que teve início em 7 de outubro de 2023.
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Planos de Trump para Gaza
Em uma série de declarações polêmicas, Trump propôs “assumir” o controle da Faixa de Gaza e deslocar a população para países árabes, como Jordânia e Egito, transformando o enclave na “Riviera do Oriente Médio”. Ele frisou que cogitava que os EUA permanecessem no controle de Gaza “no longo prazo” e que o propósito seria levar “estabilidade” ao território e a região, além de benefícios econômicos.
O republicano também cogitou enviar soldados americanos ao enclave, adiantando: “No que diz respeito a Gaza, faremos o que for necessário. Se for necessário, faremos isso”.
Após a proposta de Trump, o Escritório de Direitos Humanos da ONU, com sede em Genebra, na Suíça, afirmou que “qualquer transferência forçada ou deportação de pessoas de território ocupado é estritamente proibida”. Anteriormente, o secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, disse que o projeto equivaleria a uma “limpeza étnica” e teria o risco de “tornar impossível um Estado palestino para sempre”. As propostas de Trump, se realizadas, envolveriam deslocar uma população de mais de 2 milhões de pessoas.