Em publicação no X, antigo Twitter, o porta-voz da ala militar do Hamas, Abu Obeida, disse que a entrega de prisioneiros “que seriam libertados no próximo sábado (…) será adiada até novo aviso, e até que a ocupação se comprometa e compense os direitos das últimas semanas retroativamente”.
“Afirmamos nosso compromisso aos termos do acordo desde que a ocupação se comprometa a eles”, escreveu.
Mais cedo, nesta segunda-feira, o escritório de Imprensa do governo de Gaza, comandado pelo Hamas, disse que Israel se recusou a permitir a entrada de suprimentos especificados no cessar-fogo. Sob o acordo, 600 caminhões de ajuda — 50 deles transportando combustível — devem ser autorizados a entrar em Gaza todos os dias. Esse número foi atingido ou excedido nos três primeiros dias do cessar-fogo.
O cessar-fogo entre Israel e o Hamas entrou em vigor em 19 de janeiro, inaugurando a primeira pausa no conflito em mais de 15 meses, sob a previsão de três etapas. Apesar da intensa mediação de países parceiros, a complexidade e a fragilidade do acordo são altas, o que significa que qualquer pequeno incidente pode crescer e ameaçar acabar com o pacto.
As negociações para o início da segunda das três fases do cessar-fogo deveriam começar nesta segunda-feira.
Cerca de 1.200 israelenses morreram e 251 foram sequestrados quando o Hamas atacou território israelense em 7 de outubro de 2023. Em resposta, Israel começou uma ofensiva em larga escala em Gaza, que matou mais de 47.000 palestinos e deslocou milhões de pessoas.
Sob a primeira fase do acordo, com previsão de duração de 42 dias, o Hamas concordou em libertar 33 reféns, entre eles crianças, mulheres — incluindo militares — e pessoas com mais de 50 anos. Em troca, Israel libertaria 50 prisioneiros palestinos para cada mulher das Forças Armadas de seu país, e 30 para os demais reféns.
Na segunda fase, o objetivo é que um cessar-fogo permanente seja alcançado, os reféns vivos que ainda estão em Gaza sejam trocados por palestinos presos por Israel e forças israelenses façam uma retirada completa da área.
Já na fase final, o acordo prevê o retorno dos corpos dos reféns mortos e a reconstrução de Gaza, que deve demorar anos.
No último sábado, o Hamas libertou mais três reféns, na quarta troca entre as duas partes, desde 19 de janeiro. Ainda há 79 pessoas reféns desde 7 de outubro de 2023. Em troca, Israel libertou 183 prisioneiros palestinos, incluindo mulheres e crianças, e em maioria pessoas sem acusações formais.
Bombardeios israelenses constantes, que começaram assim que o Hamas invadiu comunidades no sul de Israel em 7 de outubro de 2023, arrasaram quase por completo o enclave palestino. Estimativas das Nações Unidas apontam que 69% das estruturas em Gazaforam danificadas ou destruídas, incluindo mais de 245 mil residências.
O Banco Mundial calculou que os prejuízos ultrapassam os 18,5 bilhões de dólares (cerca de 111 bilhões de reais) — quase a produção econômica da Cisjordânia e de Gaza juntas em 2022 — apenas nos primeiros quatro meses da guerra.
De acordo com avaliações das Nações Unidas, serão necessários dezenas de anos para reconstruir as casas destruídas em Gaza. Só a remoção das mais de 50 milhões de toneladas de escombros pode levar 14 anos e custar 1,2 bilhões de dólares (cerca de 7,2 bilhões de reais). O processo é agravado ainda pela presença de munições não detonadas e outros materiais nocivos sob os destroços, além de restos mortais das vítimas de bombas.