O Grupo Safras entrou em recuperação judicial com dívidas de mais de 1,5 bilhão de reais. O pedido foi protocolado nesta sexta-feira, 4, à 4ª Vara Cível de Sinop, no Mato Groso do Sul. A petição engloba as matrizes e filiais da Safras Armazéns Gerais, Safras Bioenergia e Safras Agroindústria. Segundo o documento, embora o pedido esteja sendo apresentado em litisconsórcio ativo — situação processual em que mais de uma pessoa figura como autora de uma ação judicial –, cada um dos devedores mantém independentes seus ativos, passivos e operações comerciais.
Na ação, o Grupo Safras afirma que a utilização de um único processo para o processamento da recuperação de todas as empresas do grupo e dos produtores rurais pessoas físicas é uma medida de economia processual e de aumento de eficiência da gestão da superação da crise. “Desde sua fundação, o Núcleo Safras tem estabelecido parcerias estratégicas com produtores rurais e os principais agentes do mercado agroindustrial. Atualmente, o conglomerado é composto por empresas que operam de maneira integrada em distintas áreas do agronegócio, alcançando tamanha magnitude e capilaridade – basta relembrarmos a quantidade de filiais abertas para agroindústria e armazéns, por exemplo”, aponta trecho da petição.
A crise do Núcleo Safras teve início com a oscilação do preço da soja, especialmente a queda exponencial do preço no primeiro semestre de 2023, que represou as ordens de venda do grão estocado nos armazéns. Além disso, as vendas ficaram em torno de 40% da produção estimada, o que seria consideravelmente baixo.
Ainda segundo a empresa, a aquisição da Copagri — atualmente denominada Safras AgroIndústria –, também em 2023, contribuiu para o agravamento do cenário de crise, pois houve a absorção de um passivo — de mais de meio bilhão de reais — relevante pelo Núcleo Safras assim como tiveram de ser feitos diversos investimentos para que a planta industrial de esmagamento de soja ficasse satisfatoriamente operante, o que pressionou diretamente o caixa do grupo. “Aliado a isso, houve um direcionamento de esforços para integrar os times da Safras Armazéns e da então Copagri, culturalmente distintos e com processos e sistemas significativamente distintos. Isso gerou uma colossal complexidade de processos internos e pesados custos ao longo dos últimos dezoito meses”, aponta trecho do documento.
No pedido, o Grupo Safras solicita ainda a antecipação dos efeitos do stay period – mecanismo que suspende ações judiciais contra o devedor durante a recuperação – e pleiteia a declaração de essencialidade da planta industrial de Cuiabá, incluindo armazéns, maquinários e contratos estratégicos associados. A medida, argumenta o grupo, é crucial para assegurar a utilidade do processo de reestruturação e preservar a continuidade de suas operações.
Se o Stay Period for deferido, o Safras acredita que poderá viabilizar um ambiente jurídico seguro para recepcionar grãos de produtores, coisa que não era possível até então por conta das ameaças de protestos e penhoras. O Grupo informou, inclusive, ter sido procurado por diversos produtores durante a safra de soja, mas ter optado por não receber grãos no período do ano para evitar colocar novos ativos dos produtores em risco.