O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, interrompeu um programa que monitorava e rastreava o sequestro de crianças ucranianas pela Rússia. Em resposta, parlamentares democratas planejam enviar uma carta ao secretário de Estado, Marco Rubio, e ao secretário do Tesouro, Scott Bessent, nesta quarta-feira, 19, para apelar que a iniciativa seja restaurada o quanto antes.
“Nosso governo está fornecendo um serviço essencial – um que não requer a transferência de armas ou dinheiro para a Ucrânia – em busca do nobre objetivo de resgatar essas crianças. Devemos, imediatamente, retomar o trabalho para ajudar a Ucrânia a trazer essas crianças para casa”, escreveram os legisladores no documento, obtido pela agência de notícias Reuters.
O fim do financiamento do projeto, liderado Laboratório de Pesquisa Humanitária da Universidade de Yale, foi noticiado pelo jornal americano The Washington Post na terça-feira 18, mesmo dia em que Trump conversou por telefonema com o presidente da Rússia, Vladimir Putin. Na ligação, o líder russo concordou com uma trégua parcial de 30 dias no conflito, mas estabeleceu uma série de condições.
O encerramento do programa ocorre em meio a cortes generalizados no governo desde o retorno do republicano à Casa Branca, em 20 de janeiro. Como consequência, pesquisadores perderam informações preciosas, como imagens de satélites, sobre ao menos 30 mil crianças ucranianas deportadas. A exclusão dos dados resultou na perda de US$ 26 milhões (cerca de R$ 147 milhões) em evidências de crimes de guerra, o que beneficia Putin, disse uma fonte à Reuters. Entre os documentos perdidos, estavam dossiês sobre todas as crianças.
Na carta, legisladores afirmaram que tinham “motivos para acreditar que os dados do repositório foram permanentemente excluídos”.
“Se for verdade, isso teria consequências devastadoras”, diz o texto. Eles também pedem para que o governo Trump aplique sanções contra a Rússia e sua aliada Belarus pelos sequestros. “Essas violações flagrantes e abertamente reconhecidas dos direitos das crianças garantidos pelo direito internacional exigem consequências”, acrescentam os legisladores.
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Programa de ‘russificação’
Um relatório da Escola de Saúde Pública da Universidade Yale, divulgado em dezembro, apontou que aviões e fundos presidenciais da Rússia foram usados para deportar 314 crianças ucranianas de territórios ocupados, alojando-as com famílias russas. Apoiada pelo Departamento de Estado americano, a pesquisa revelou que os menores de idade foram levados para o país vizinho ainda nos primeiros meses da guerra na Ucrânia, iniciada em fevereiro de 2022, como parte de um programa de “russificação”.
A pesquisa é baseada em três bancos de dados de adoção do governo russo, com registros colhidos ao longo de 20 meses. A investigação de Yale mapeou a suposta logística do programa e como ele foi financiado. Com isso, foi possível confirmar as identidades das 314 crianças. Destas, 166 foram colocadas diretamente sob os cuidados de cidadãos russos, enquanto outras 148 foram listadas nos bancos de dados de colocação de crianças da Rússia.
As conclusões apoiam os mandados de prisão emitidos pelo Tribunal Penal Internacional (TPI), em Haia, contra o presidente russo e sua comissária para a Infância, Maria Lvova-Belova, em março de 2023. A corte considerou que “existem motivos razoáveis” para considerar que a comissária esteve envolvida em práticas criminais.
Lvova-Belova assumiu o cargo apenas quatro meses antes do início do confronto. Após a invasão, ela reclamou que crianças vindas da Ucrânia “falavam mal do presidente (Putin), diziam coisas horríveis e cantavam o hino ucraniano”, tendo começado “a se integrar” somente depois de serem sido adotadas por famílias russas. Segundo a comissária, os menores “se transformaram e amam a Rússia”. Mas tudo ocorreu, segundo ela, com a permissão dos pais ou de seus responsáveis legais, a não ser que esses estivessem desaparecidos.