Comandante do PT, a deputada federal Gleisi Hoffmann está prestes a confirmar uma dupla vitória. A não ser que haja uma reviravolta, ela será convidada pelo presidente Lula para assumir um ministério, provavelmente a Secretaria-Geral da Presidência, que tem entre as suas atribuições fazer a interlocução com sindicatos e movimentos sociais. Hoje, a pasta é chefiada pelo petista Márcio Macêdo, cuja atuação é considerada apagada.
A nomeação de Gleisi, se confirmada, ocorrerá mesmo sem a antecipação da eleição da nova direção do PT, marcada para meados deste ano. Desde o ano passado, petistas próximos a Lula pressionavam a deputada para que ela antecipasse a votação interna — para fevereiro, por exemplo. Eles diziam que, sem isso, ela dificilmente poderia assumir um cargo na Esplanada.
De nada adiantou: Gleisi bateu o pé, manteve o cronograma e, ao que tudo indica, assumirá um gabinete no Palácio do Planalto. O favorito de Lula para substituí-la na presidência do PT é o ex-prefeito Edinho Silva.
Força na esquerda
Quando Lula estava montando o novo governo, havia a expectativa de que Gleisi fosse nomeada ministra. Ela acabou preterida. À frente do PT, a deputada mostrou autonomia para defender bandeiras partidárias que, em muitos casos, causaram constrangimentos a integrantes da administração federal. A política fiscal do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, por exemplo, recebeu diversas estocadas. Um documento do partido chegou a falar em “austericídio”.
O PT também reconheceu a vitória de Nicolás Maduro na eleição venezuelana, marcada por suspeitas de fraude, e disse que o processo foi uma “jornada pacífica, democrática e soberana”. Tal posição diverge da do Itamaraty, que, apesar dos inúmeros acenos de Lula a Maduro ao longo dos anos, até hoje cobra provas da lisura da votação.
Apesar dos embates em pontos polêmicos, Gleisi tem prestígio de sobra com Lula, principalmente por sua atuação no auge da Operação Lava-jato. Uma das versões mais frequentes em Brasília dá conta de que ela fala e defende aquilo que ele, por comandar um governo com partidos de centro, nem sempre pode falar.
Já um fato incontestável, até para quem não gosta da deputada, é o status político que ela alcançou. Gleisi é hoje um dos principais quadros da esquerda e um dos mais capazes de mobilizar a tropa e incentivar debates. Um ministro com gabinete no Planalto disse a VEJA que a deputada é muito mais influente do que a própria primeira-dama Rosângela da Silva, a Janja. Alguns políticos, inclusive de direita, estão cavando espaço no ministério em razão do poder que conquistaram no jogo de Brasília.