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‘Fiscal’ do trabalho da ONU fala a VEJA e polemiza: ‘As falhas são profusas’

Os últimos anos foram agitados – e tensos – para as Nações Unidas. Duas grandes guerras, na Ucrânia e na Faixa de Gaza, foram deflagradas, com consequências humanitárias devastadoras. O antissemitismo dispara ao redor do mundo, ao passo que o neonazismo preocupa uma gama de países, incluindo o Brasil. Na Venezuela, acusações de fraude eleitoral contra o presidente Nicolás Maduro levaram a prisões políticas em massa. A liberdade de expressão tem sido levada ao limite, como nos protestos que se alastraram nas universidades dos Estados Unidos no ano passado. E, chacoalhando as regras do jogo, Donald Trump retornou à Casa Branca em janeiro.

Em um contexto de tamanha instabilidade política, a responsabilidade das Nações Unidas cresce. E não raro, a entidade vem falhando em responder à altura ao novos desafios do cenário internacional, como é o caso da guerra na Ucrânia, que já se estende por mais de três anos. Com isso, surgiu a demanda de que os passos do órgão sejam monitorados enquanto caminha pelos turbulentos rumos da História. Eis a função da organização não governamental UN Watch, sediada em Genebra, na Suíça: “responsabilizar as Nações Unidas por seus princípios fundadores”, sendo líder na “luta contra o antissemitismo e faz campanhas em organismos mundiais contra todas as formas de racismo e discriminação”.

“A United Nations Watch acredita na missão das Nações Unidas em nome da comunidade internacional de ‘salvar as gerações futuras do flagelo da guerra’ e prover um mundo mais justo. Acreditamos que, mesmo com suas deficiências, a ONU continua sendo uma ferramenta indispensável para unir diversas nações e culturas”, defende o portal da organização de direitos humanos, fundada em 1993.

Nos erros e acertos, a ONU é pilar central da cooperação internacional – mais necessária do que nunca. Em meio ao efervescente panorama global, VEJA conversou com o diretor executivo da UN Watch, Hillel Neuer, que é advogado internacional, diplomata, escritor e ativista judeu. Na entrevista, Neuer trata sobre um diverso conjunto de assuntos, desde os pitacos do presidente Luiz Inácio Lula da Silva sobre a guerra em Gaza até a aproximação de Trump com o presidente da Rússia, Vladimir Putin, transformando o xadrez político do conflito na Ucrânia. Sobretudo, ele considera que a ONU tem falhado como bússola moral. “Tem sido covarde”, diz, sem titubear. Leia abaixo.

O senhor diz que a ONU tem um viés anti-Israel. Por quê?

É algo que está em toda parte. Não está apenas em um órgão da ONU. Está em muitos, infelizmente. É algo que vemos em toda a Organização das Nações Unidas. Vou te dar apenas três exemplos. Em Nova York, há a Assembleia Geral da ONU, que reúne todos os 193 países e, a cada ano, adota resoluções. E há uma sobre o Irã, uma sobre a Síria, uma sobre a Coreia do Norte e 17 sobre Israel.

Nenhum outro país no mundo chega nem perto. A maioria dos países não tem nenhuma. Por exemplo, nenhuma sobre Cuba, que é um estado policial. Nenhuma sobre a China, onde 1,5 bilhão de pessoas não têm direitos humanos. Nenhuma sobre o Egito, onde há milhares de prisioneiros políticos. Nenhum sobre o Paquistão, nenhum sobre o Sr. Maduro na Venezuela e 17 sobre Israel.

Então, você atravessa o oceano e chega a Genebra, onde está Conselho de Direitos Humanos da ONU, que está agora em sessão. Lá, eles têm um dia dedicado ao mundo. Ou seja, se o seu país quiser usar a palavra e falar sobre o que está acontecendo na China ou em qualquer outro lugar, pode fazê-lo no que é chamado de item de agenda quatro. Pode falar sobre qualquer um deles, 193 países. Depois, há um único dia para falar sobre Israel. Um item de agenda, chamado item de agenda sete.

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Vai acontecer na próxima semana. É chamado de “Violações de Direitos Humanos nos Territórios Árabes Ocupados”, incluindo a Palestina. Mas é tudo sobre Israel. Países onde não é permitido nem uma palavra de protesto estão todos dedicando um dia especial, um item de agenda especial, para acusar Israel, uma democracia, de ser o pior violador dos direitos humanos do mundo.

A UNRWA, agência da ONU para refugiados palestinos, emprega dezenas de milhares de trabalhadores e é a principal fonte de ajuda humanitária em Gaza. Por que diz que a UNRWA “está podre por dentro”?

Começou com boas intenções. Era para ajudar os palestinos que foram deslocados após a guerra de 1948. Mas muito rapidamente, virou algo que só perpetua a guerra contra Israel. Os palestinos que vivem em locais da UNRWA, que são chamados de campos, mas não são realmente um campo porque eles não estão em tendas. Eles estão em bairros, em prédios em Gaza, no Líbano, na Jordânia. Eles são chamados de refugiados e isso é para uma política muito afiada e eu diria patológica.

É uma agenda patológica que é dizer aos palestinos que seu objetivo na vida é desmantelar Israel. Eles não chamam isso assim, eles dizem que é um direito de retorno. Então na Jordânia, olhe para a Jordânia, há 2 milhões de jordanianos com cidadania jordaniana, passaportes jordanianos por 70 anos. Jordanianos como eu sou canadense. E, no entanto, de acordo com a ONU, eles são refugiados porque o avô ou a avó, ou o bisavô deles, era foi um deslocado da Palestina sob mandato britânico.

A UNRWA não é o bombeiro. É o incendiário, o piromaníaco. São eles que estão acendendo o fogo, incentivando, ensinando os palestinos a travar uma guerra para desmantelar Israel. Eles são o oposto da Solução de Dois Estados. A agência ensina aos palestinos em Gaza que Gaza não é sua casa. Sua casa é em Tel Aviv. Por que eles deveriam reconstruir Gaza? E está completamente infestada pelo Hamas, desde sindicatos de funcionários até professores. Isso financiado pela ONU, pago pelos países ocidentais, que de fato financiam a UNRWA.

Sobre expulsão de alunos que participaram em protestos nos EUA. Isso não fere a emenda constitucional que rege a liberdade de expressão?

Não, eu não acho que isso seja o caso e vou te explicar o porquê. A primeira coisa é, por que o Mahmoud Khalil foi preso e detido? Porque ele violou as condições de seu visto. Todo mundo que tem um visto sabe muito bem que, nos Estados Unidos, você tem condições e corre o risco de ser deportado se violá-las. Os defensores dizem: “mas ele tem o direito à Primeira Emenda”. Em primeiro lugar, ele não é um cidadão. Então, não é como se ele tivesse os mesmos direitos de um não-cidadão. Não sabemos como ele conseguiu o green card dentro de dois anos, o que normalmente demora muito mais. E, de repente, passou a liderar um tipo de bullying, assédio e terror contra estudantes judeus.

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Por um ano e meio, os estudantes judeus no campus foram recebidos por manifestantes. Eles bloqueavam os alunos, tentavam deliberadamente se parecer com o Hamas. Dizemos em inglês “cosplay”, uma espécie de interpretação de papel. Eles apoiavam totalmente o massacre de outubro, dizendo que é resistência. Criaram acampamentos no campus, contra as regras da universidade. E a ideia de que um estrangeiro faria isso, violando as condições de seu visto, e as autoridades não fizeram nada…

Isso não é um problema americano. É, no mínimo, um problema da América do Norte, se não também na Austrália. Eu sou originalmente do Canadá. E no Canadá, coisas semelhantes estavam acontecendo na minha universidade, na Universidade McGill. Coisas semelhantes estavam acontecendo nas ruas e o governo estava meio que com medo, dando o sinal de que isso era aceitável. E o resultado disso é o antissemitismo como nunca vimos no Canadá ou nos Estados Unidos.

E em algum momento, o governo tem que dizer: “Isso acaba agora”. Então, se alguém nos Estados Unidos se rebela, e é um cidadão ou uma cidadã e diz algo muito forte, seus direitos devem ser protegidos, porque a Primeira Emenda garante isso. Mas se um estrangeiro chega, mente na sua solicitação de visto, nega aos estudantes seus direitos básicos de andar por aí e apoia abertamente um grupo terrorista que sequestrou americanos, acho que a coisa perfeitamente normal a se fazer é dizer: “Sabe de uma coisa? Você violou suas condições. Você era um convidado em nosso país, e agora você não é mais bem-vindo aqui”.

No ano passado, o Conselho Nacional de Direitos Humanos apresentou à ONU preocupações acerca do crescimento de grupos neonazistas no Brasil nos últimos anos. Como vê aumento do neonazismo e do antissemitismo mundo afora?

O antissemitismo, no último ano e meio, se tornou um tsunami para os judeus ao redor do mundo. Acabei de conhecer um rabino da Noruega e ele me contou como muitos judeus, que antes se sentiam totalmente integrados, agora sentem que precisam ir para outro lugar, que não são bem-vindos na Noruega. O que é chocante. Não estamos falando sobre o Irã, a Síria ou alguma outra ditadura. A Noruega é considerada a democracias liberal mais progressista.

Por muitos anos, judeus na Europa escutaram “você matou nosso Deus, seus ancestrais mataram Jesus, então você é culpado”. Judeus foram perseguidos, queimados, atacados e exilados de todas as cidades da Europa na Idade Média. E isso foi em nome da acusação de deicídio. Mas, depois do Holocausto, o antissemitismo se tornou um tabu. Em 7 de outubro, o tabu foi quebrado e há um tsunami de ódio. A verdade é que, em muitos países, o aumento do ódio aos judeus não vem da direita branca. Sim, vem de lá, mas também vem da esquerda. Os grupos que dizem que Israel está cometendo genocídio. Esses não são neonazistas, são o oposto do espectro. É uma narrativa que vem da esquerda, que é ecoada por alguns funcionários da ONU e por certos grupos de direitos humanos, como a Anistia Internacional.

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O presidente Luiz Inácio Lula da Silva comparou a morte de palestinos com o Holocausto. Concorda?

Esse tipo de declaração é um estereótipo. É um estereótipo antissemita comum, que é acusar as vítimas do Holocausto de estarem perpetrando um genocídio. Nada poderia estar mais distante da verdade. Os judeus na Polônia não atacaram Berlim, não atacaram Hitler, os nazistas e a Alemanha. Os 6 milhões de judeus que foram mortos não atacaram ninguém. O que aconteceu no Holocausto foi um genocídio pelos nazistas contra os judeus e o que tem acontecido em Israel é a defesa contra uma tentativa de genocídio. Tivemos um dia de genocídio no dia 7 de outubro.

O Hamas diz abertamente que busca destruir Israel e tentou abertamente matar qualquer pessoa que conseguissem pegar. Eles mataram mulheres e bebês com as próprias mãos. Torturaram pessoas, fizeram coisas na frente dos membros da família delas. Nenhum país no mundo permitiria um exército terrorista na sua fronteira, a poucos metros de distância. Era isso que Israel estava vivendo. Israel imaginou que poderia permitir isso e estava errado.

Então, Israel é obrigado a derrotar o Hamas e já matou cerca de 20 mil combatentes. Israel está travando uma guerra defensiva justificada, assim como os britânicos contra os nazistas quando foram atacados. Acusá-lo falsamente de cometer um genocídio é uma coisa muito nojenta de se fazer. O que Lula fez foi uma difamação nojenta, que é uma forma de calúnia usada para justificar o antissemitismo. Ele deveria ter vergonha de fazer esse tipo de analogia falsa.

Mas quase 50 mil palestinos foram mortos em ataques israelenses. 

Israel tenta mais do que qualquer outro país evitar prejudicar civis. E não acredite em mim, acredite no que os principais generais militares ocidentais dizem. O coronel Richard Kemp, que foi comandante das forças britânicas no Afeganistão, declarou publicamente que nenhum exército na história da guerra fez mais para evitar prejudicar civis do que Israel. O problema é que o Hamas são covardes. Só quando estão fazendo um teatro no palco, quando trazem os reféns israelenses que liberam, assinam um documento e os colocam na frente das multidões, é que eles vestem o uniforme. Mas durante toda a guerra, não havia uniformes. A Convenção de Genebra diz que os soldados devem vesti-los.

Se você se veste como um civil, você está se escondendo e está violando a Convenção de Genebra. Foi isso que o Hamas fez. Eles construíram seus túneis de terror, centenas de quilômetros de túneis de terror sob escolas, casas e hospitais. Fora que os números vêm todos do Hamas. Os números não vêm da Cruz Vermelha. Não há especialista da ONU no terreno, todos os dados vêm do Hamas. Mas, mesmo de acordo com as estatísticas do Hamas, quando estava entre 40 e 45 mil, é cerca de 20 mil combatentes do Hamas mortos. Então, estamos falando de uma proporção de para cada combatente terrorista morto, são cerca de 1,2 a 1,5 civis mortos – bem abaixo dos números, por exemplo, do Afeganistão. Sim, civis foram mortos, mas nenhum exército fez melhor na história em combater uma guerra urbana, projetada pelo Hamas.

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Em dezembro, um relatório apontou que a Venezuela tem 2 mil presos políticos – situação agravada pelas acusações de fraude eleitoral, após a vitória de Nicolás Maduro. O senhor já disse que a ONU está “desenrolando o tapete vermelho” para ditaduras. Como enxerga a situação na Venezuela?

Minha organização, a UN Watch, recentemente recebeu o verdadeiro presidente da Venezuela, Edmundo González, no final de fevereiro, na 17º cúpula de Genebra para Direitos Humanos e Democracia. Ele é o verdadeiro vencedor das eleições realizadas em julho passado. Todos sabem disso. A oposição teve observadores em cada urna. Infelizmente, temos uma ditadura que causou a fuga de mais de 7 milhões de pessoas do país. Um dos países mais ricos do mundo em recursos naturais.

Perseguem juízes que agem de forma independente, prenderam defensores dos direitos humanos. Nessa semana, também falamos com Maria Corina Machado, a líder da oposição. Ela discursou por vídeo, não pode sair do país. Eles são os heróis, arriscam suas vidas pela liberdade, democracia e pelo Estado de direito na Venezuela, e o mundo precisa apoiá-los.

Infelizmente, as Nações Unidas muitas vezes estendem o tapete vermelho para os ditadores. Maduro e Chávez foram membros do Conselho de Direitos Humanos repetidamente. Agora, estão fora, mas foram membros durante a maior parte dos últimos anos. Então, é muito triste. A ONU precisa ficar ao lado das vítimas, não dos opressores. E Maduro, hoje, faz parte da gangue dos opressores. Ele era amigo de Assad, Putin, Khamenei e do regime Castro em Cuba. É isso que ele é. E ele é um narco-terrorista, e as Nações Unidas dizer isso.

O senhor defende que a invasão da Rússia à Ucrânia é “uma agressão completa e uma violação do direito internacional” e que “o mundo livre deve ficar com Zelensky”. A aproximação entre Trump e Putin é mau sinal?

Estou profundamente preocupado. Não entendo isso. Parece terrível. Meu bom amigo Vladimir Karamoza é o principal político de oposição russo vivo hoje. Alexei Navalny era o mais famoso. Ele foi deixado para morrer na prisão. Vladimir Karamoza é agora o líder da oposição mais famoso. Ele foi envenenado duas vezes, em 2015 e em 2017. Ele entrou em coma. Quase morreu. Nós o trouxemos para as Nações Unidas para falar. Você podia ouvir na respiração dele. Você podia ouvir que ele não conseguia respirar normalmente. Ele foi envenenado.

Esperamos que os Estados Unidos digam isso e responsabilizem Putin por sua repressão a prisioneiros políticos e seus crimes de guerra na Ucrânia. E o presidente Trump diz que ele está fazendo isso para trazer a paz. Bem, às vezes você tem que fazer concessões para trazer a paz. Nós entendemos isso. Às vezes, é preciso negociar com regimes horríveis e talvez temos que dar ao presidente Trump algum benefício da dúvida. Mas ele não deveria chamar Zelensky de ditador, isso é inaceitável; não deveria dizer que Putin é seu amigo, é inaceitável.

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As regras do jogo estão mudando. Qual deve ser, então, o papel da ONU na guerra na Ucrânia? 

A primeira coisa é que as Nações Unidas devem falar com clareza moral. Foi fundada com clareza moral. Foi fundada pelos países que derrotaram Hitler. Mas, infelizmente, hoje raramente vemos isso. Vladimir Putin estava sentado no Conselho de Direitos Humanos quando invadiu a Ucrânia. A UN Watch liderou a campanha para expulsá-lo e fomos bem-sucedidos. Normalmente nossas campanhas falham porque os países não se importam, são cínicos, querem fazer acordos políticos. O Sr. António Guterres (secretário-geral da ONU) não diz nada quando ditaduras são eleitas e tem sido muito quieto sobre Putin, muito raramente o condena. Ele apertou a mão de Putin há cerca de seis meses.

Então, acho que as Nações Unidas falham em mostrar liderança moral. Isso exige que grupos externos ou alguns países se manifestem. A ONU não deveria ser uma agência que legitima ditadores e apoiadores de terroristas. Foi criada para deveria dizer a verdade,  defender as liberdades fundamentais, defender a Carta fundadora e condenar ditadores malignos e assassinos como Vladimir Putin. Muitas vezes, hoje, a ONU mostra covardia, sendo o oposto da coragem e da clareza moral.

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