O banco central dos Estados Unidos, Federal Reserve (Fed), manteve a taxa de juros inalterada entre 4,25% e 4,50%, conforme amplamente previsto pelo mercado financeiro. Com a expectativa por estabilidade praticamente unânime – como mostrou a ferramenta FedWatch, do CME, que indicou 99% de chance de manutenção – a decisão pareceu ser uma continuação da postura cautelosa que o banco tem adotado. Mas o ambiente econômico e político ao redor da decisão é tudo menos previsível.
Em comunicado, o Fed justificou a decisão afirmando que “a incerteza em torno da perspectiva econômica aumentou”, com dados que mostram que a atividade econômica continua a se expandir e a inflação ainda resiliente.
Os riscos associados à política tarifária e seus potenciais efeitos inflacionários continuam no radar do Fed. A guerra comercial tem elevado as expectativas de inflação entre os consumidores americanos. Além disso, o adiamento de algumas tarifas logo após seu anúncio criou um ambiente de incerteza, complicando ainda mais o cenário econômico e a tomada de decisões do banco central.
O Comitê indicou que continuará monitorando de perto os dados econômicos, a evolução das perspectivas e o equilíbrio dos riscos, reafirmando seu compromisso de “apoiar o emprego máximo e trazer a inflação de volta à meta de 2%”. Além disso, o Comitê deixou claro que está preparado para ajustar a política monetária “conforme apropriado se surgirem riscos que possam impedir a obtenção das metas do Comitê. Com isso, o Fed sinaliza que deixa as portas abertas para o afrouxamento monetário, bem como não descarta medidas mais restritivas se houver uma deterioração no cenário inflacionário.
Sinais mistos: recessão à vista?
O clima econômico nos Estados Unidos tem se tornado cada vez mais incerto, gerando temores crescentes de que uma recessão possa estar à espreita. Pouco mais de dois meses após sua posse, o presidente Donald mudou o tom de otimismo inicial esbravejando durante sua campanha, e afirmou que será difícil conter os preços no curto prazo e pediu ao público que se prepare para “pequenas perturbações” enquanto busca restaurar a prosperidade econômica do país.
O Índice de Preços ao Consumidor (CPI) registou um aumento anual de 2,8% em fevereiro, abaixo dos 3% observados em janeiro. O índice PCE – a medida preferida do Federal Reserve para avaliar a inflação – praticamente estagnou. A alta anual do PCE foi de 2,5% em janeiro, ligeiramente abaixo dos 2,6% de dezembro, mas ainda longe da meta de 2% do Fed. Apesar da leve desaceleração nos dois índices, a inflação ainda continua distante da meta de 2% e aumentam as perspectivas de maior pressão inflacionária com as tarifas de Trump, levando os maiores bancos do país a elevarem o risco de recessão.
Segundo um relatório do JP Morgan, a probabilidade de uma recessão nos EUA subiu para 40%, comparado a 30% no início do ano. O banco destacou que a política econômica do país, em especial as tarifas comerciais impostas pelo governo Trump, está “se afastando do crescimento”.
Outras instituições financeiras também revisaram suas previsões. O Goldman Sachs elevou sua estimativa de uma recessão de 15% para 20%, destacando que as mudanças na política comercial representam o “principal risco” para a economia. A Moody’s também aumentou a chance de recessão de 15% para 35%.
Tal preocupação foi intensificada pelos dados da confiança do consumidor. O Índice de Confiança do Consumidor, calculado pelo The Conference Board, caiu de 105,3 pontos em janeiro para 98,3 em fevereiro, marcando a maior queda mensal desde 2021. Esse indicador é considerado um termômetro da saúde econômica dos EUA, já que o consumo representa mais de dois terços da atividade econômica do país. A queda de 9,3 pontos no índice de expectativas dos americanos em relação à renda, ao mercado de trabalho e ao ambiente empresarial é um alerta claro: com leituras abaixo de 80, o risco de recessão se torna real.