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Em um ano de guerra, expectativa de vida em Gaza caiu pela metade, mostra estudo

Desde de que a Guerra Israel-Hamas teve início, na Faixa de Gaza, são inúmeros os relatos de sofrimento das populações em zonas de conflito. O cessar-fogo que teve início na última semana trouxe esperança, mas isso não diminuiu o impacto causado pelas hostilidades: de acordo com um estudo publicado nesta quinta-feira, 23, o primeiro ano de confrontos foi suficiente para reduzir pela metade a expectativa de vida nesta região. 

O artigo foi veiculado pelo renomado periódico científico The Lancet e revela que de outubro de 2023 até setembro de 2024, a expectativa de vida na Faixa de Gaza caiu de 75,5 anos para algo entre 36 e 44 anos, uma redução de 51.6% para os homens e de 38,6% para as mulheres. “A diminuição era esperada frente a um cenário catastrófico vivido em Gaza nos últimos meses”, diz Marina Sujkowski Lima, pesquisadora de mestrado da Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo (USP). “É uma consequência direta da crise humanitária que se prolonga por mais de 70 anos.”

O estudo estimou a perda na expectativa de vida com base em dados censitários e de registro civil tanto do Ministério da Saúde de Gaza quanto da Agência das Nações Unidas de Assistência aos Refugiados da Palestina no Próximo Oriente (UNRWA, na sigla em inglês). Os autores ressaltam, contudo, que essa é uma análise conservadora, por não levar em conta as mortes indiretas causadas pela guerra. 

O que causou a queda da expectativa de vida em gaza?

O principal motivo para essa queda foram os óbitos provocados diretamente pelo conflito. Com base em dados do Conselho de Segurança da ONU, os ataques a essa região foram os mais mortais para civis no ano de 2023. Além disso, dados do Ministério da Saúde do território apontam que até dezembro, mais de 45 mil palestinos já haviam sido mortos. 

A letalidade, contudo, é potencializada pelas consequências indiretas do conflito. “Se trata de um dos confrontos mais nefastos para o setor da saúde”, explica Lima. “Entre o fim de 2023 e o início de 2024, a Organização Mundial da Saúde (OMS) registrou mais de 600 ataques violentos a instalações e profissionais de saúde na Palestina, impactando a capacidade de resposta desse sistema.”

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De fato, os dados são alarmantes. Desde o início do conflito, com o ataque do Hamas a Israel, em 7 de outubro de 2023, a OMS vem exaustivamente alertando para a extensão dos estragos causados pelas retaliações em território palestino. Além da morte de mais de 1 mil profissionais de saúde, 86% dos habitantes entraram em situação de insegurança alimentar e o país viu a reemergência de infecções controladas há décadas, como a poliomielite, que registrou casos em agosto, após 25 anos de erradicação da doença. 

E os esforços para reconstrução precisarão ser intensos. Os dados mais recentes, divulgados em meados de janeiro pela OMS apontam que, ao longo de 7 anos, mais de 10 bilhões de dólares serão necessários para a reconstrução do sistema de saúde da faixa de Gaza – isso, em um cenário de não retorno dos conflitos.

Quando a expectativa de vida deve voltar ao normal?

Para que os números anteriores sejam restabelecidos, uma conjunção de fatores será necessária. “Se o sistema de saúde for rapidamente recuperado, se o cessar-fogo for efetivo, se as mortes por bombardeios for eliminada e se a ajuda humanitária for capaz de acabar com a fome e garantir o acesso à água potável então a expectativa de vida irá voltar a crescer ainda em 2025 e pode recuperar os níveis anteriores em 2026 ou 2027”, diz o demógrafo José Eustáquio Diniz Alves

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Que isso aconteça em breve, no entanto, é pouco provável. Para Lima, tudo dependerá das condições em que ocorrerá o cessar-fogo nas próximas semanas e de como será a reorganização de Gaza após o conflito. “Tudo leva a crer, porém, que a melhora de indicadores como a expectativa de vida só ocorrerá a longo prazo, diz. “Ele depende de uma estabilidade que ainda parece muito distante.”

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