Com sua retórica dura em relação a vários temas, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, causa calafrios entre muitos investidores de diferentes perfis. Quem não teme a chegada dele ao poder, porém, são os adeptos dos criptoativos. Para esse grupo, a chegada do republicano à Casa Branca é mais um dos vários fatores que justificam a aplicação de recursos nesse mercado, que tem tudo para ter mais um ano de alta demanda — e bons retornos. Trump já declarou que fará das criptomoedas “prioridade nacional” no seu mandato, em um momento em que órgãos reguladores americanos saíram da inércia e avançaram na regulamentação do setor. Como resultado, a cotação do bitcoin superou pela primeira vez a marca de 100 000 dólares, e o valor total do mercado de criptoativos voltou a ultrapassar 3 trilhões de dólares após três anos.
Nem sempre os Estados Unidos foram receptivos com os ativos digitais. A SEC, entidade americana equivalente à Comissão de Valores Mobiliários (CVM), aprovou apenas em 2024 o primeiro ETF (fundo listado em bolsa) de bitcoin do país, que replica diretamente o preço da criptomoeda. Pouco depois, a instituição também aprovou o ETF de ethereum, a segunda maior criptomoeda em circulação no mundo.
A SEC nunca foi muito receptiva às criptomoedas. Gary Gensler, presidente da autoridade, é conhecido por ter criticado fortemente o setor ao longo de seu mandato. Agora, sob Trump, o mercado espera que essa página seja virada. “Podemos vivenciar o governo mais pró-criptos da história”, afirma Theodoro Fleury, responsável pelo portfólio da gestora QR Asset. Entre as principais questões a serem definidas está a criação de um arcabouço regulatório que estabeleça quais criptoativos são valores mobiliários e quais são commodities — o que trará mais clareza sobre as entidades às quais as empresas deverão se reportar.
Se nos Estados Unidos a ordem era evitar as criptomoedas, o Brasil corria na direção oposta. Em 2021, o país emitiu o primeiro grande ETF de criptoativos do mundo: o HASH11, que replica o desempenho do Índice Nasdaq Crypto (NCI). Construído pela gestora brasileira Hashdex em parceria com a bolsa americana Nasdaq, o ETF surgiu para dar acesso a vários ativos em um único produto, já que o NCI reúne o desempenho das nove maiores criptomoedas do mercado, como se fosse um “Ibovespa” do setor. A demanda pelo produto segue alta. “Temos tido captações recorde mesmo com os juros altos”, afirma Samir Kerbage, diretor global de investimentos da Hashdex.
Do lado regulatório, o Brasil também só caminhou para a frente. O Banco Central, a CVM e a Receita Federal lançaram consultas públicas para adaptar a legislação a novos tipos de criptoativos e estabelecer quais tarifas podem ser cobradas pelas empresas que prestam serviços relacionados a ativos virtuais. “Aqui, os reguladores sempre estiveram em diálogo com o mercado”, diz Reinaldo Rabelo, presidente da plataforma de investimentos digitais Mercado Bitcoin. “Esse avanço aumenta a credibilidade e a confiança no setor.”
Para 2025, a expectativa é de que o avanço regulatório ajude a impulsionar tanto o preço dos ativos quanto a oferta de novos produtos. Para entrar nesse mercado, o investidor pode escolher três caminhos diferentes: o investimento direto, com seleção de cada criptomoeda por meio de corretoras, o indireto, via ETFs negociados na B3, ou por fundos de gestão ativa. “Os fundos são uma boa alternativa para o investidor que quer algo mais prático, sem precisar compreender profundamente o mercado”, diz Valter Rebelo, analista de ativos digitais da casa de análise Empiricus. Produtos inovadores devem cada vez mais inundar o mercado financeiro — e os criptoativos já consolidaram seu espaço na carteira dos investidores.
Publicado em VEJA, janeiro de 2025, edição VEJA Negócios nº 10