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Direita contra direita: populistas britânicos já ultrapassam conservadores

O que é ser de direita hoje? Muitos responderiam: ser a favor de um Estado pequeno e contra revoluções radicais, pela livre iniciativa, o mercado como o melhor regulador, liberdades individuais como valor irrenunciável, valorização da ordem social e mais uma longa lista de elementos similares. Nigel Farage, o populista que se tornou conhecido pela campanha em favor do Brexit, teria uma resposta muito mais simples: acabar com a imigração clandestina. Em inglês, a expressão é mais sintética, ”Stop de boats”, ou parem os botes de borracha que atravessam incessantemente o Canal da Mancha trazendo gente das partes do mundo das quais as pessoas querem sair.

Foi com esse plataforma reducionista, mas popular, que Nigel Farage se tornou um fenômeno, criando praticamente do nada um partido populista, o Reforma, que ontem alcançou um marco: 131 712 membros, o suficiente para passar à frente do tradicional Partido Conservador, o mais antigo do mundo. 

O partido de Winston Churchill agora tem menos filiados do que o partido de Nigel Farage, um ex-corretor da bolsa de mercadorias que nunca transitaria nos meios aristocráticos como o famoso primeiro-ministro, mas faz sucesso com o povão com seus dentes desalinhados à inglesa e a habilidade oratória de colocar a culpa “neles” – União Europeia, elites desantenadas e globalistas empenhados em acabar com o sistema britânico.

De figura folclórica, sempre com um copo de bebida na mão, quando não – horror dos horrores – um cigarro, ele se tornou um player. Ganhou o Brexit e foi fundamental para a grande derrota do Partido Conservador na eleição geral, colaborando para a vitória do Partido Trabalhista em julho passado.

SEM LUNÁTICOS

Todos concordam que os conservadores, conhecidos como “tories”,  desgastados pelos catorze anos no poder e pela diluição ideológica (sem contar os tais botes, que nem de longe conseguiram parar) iriam perder de qualquer maneira. Mas a surra foi muito maior porque em vários distritos o Reforma dividiu o eleitorado conservador. Foi, em vários aspectos, uma disputa da direita contra a direita.

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Farage tem plenos ambiciosos de “profissionalizar” o seu partido, que atraiu candidatos não exatamente ortodoxos quando foi lançado, e um paradigma de peso a seguir. Como amigo de primeira hora de Donald Trump, ele disse que fez “copiosas anotações” sobre os métodos do Partido Republicano para ter a vitória arrasadora de novembro, quando levou a Casa Branca, o Senado e a Câmara.

“Primeiro, eles precisam garantir que não terão candidatos lunáticos”, disse ao Telegraph um especialista em pesquisas políticas, James Frayne. É uma referência aos malucos que se atrelaram ao Reforma, inclusive um que havia feito elogios a Hitler.

Dinheiro para refinar os processos de seleção e motivar eleitores pelas redes sociais não faltaria: Elon Musk prometeu nada menos que cem milhões de dólares para “salvar” a Grã-Bretanha. Os trabalhistas se arrepiaram e já estão mobilizados para criar legislação proibindo doadores estrangeiros – uma ironia, considerando-se que no passado candidatos mais de esquerda receberam tanta ajuda externa.

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SEM SANGUE NOS OLHOS

Nigel Farage, evidentemente, não é um fenômeno isolado e faz parte da ascensão da direita populista na Europa, movida pelo tema das enormes massas humanas que, ao não se adaptar, mudam o tecido social em diversos países. 

Não tem o sangue nos olhos de vários similares (este papel, na Grã-Bretanha, é assumido pelo provocador Tommy Robinson). Faz o estilo bonachão. Mas não tem nada de ingênuo.

Mesmo que não possa receber o dinheiro prometido por Elon Musk, Farage tem consciência de que precisará de muitas doações para dar o salto qualitativo que o habilitará na mesa da política como um player de peso, não uma figura folclórica.

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A seu favor, tem, principalmente, os adversários. Os conservadores tradicionais não estão, nem remotamente, passando pela requalificação ideológica que a eleição de Kemi Badenoch prometia. De leoa boa de briga, disposta a se jogar de cabeça nas batalhas da guerra cultural, ela tem mostrado muito pouco. Tentou provocar Farage, dizendo que os números sobre a quantidade de filiados ao Reforma tinham sido turbinados, “no tipo de falsificação que é facilmente descoberta”.

CORRENDO POR FORA

“Você está amargurada, aborrecida e brava”, disparou ele de volta. “Mas não é motivo para nos acusar de fraude”.

Os trabalhistas do primeiro-ministro Keir Starmer também ajudam, involuntariamente, o populista. Estão emendando um fiasco no outro, com uma política econômica ultrapassada que afugenta investimentos cometendo dolorosos escorregões éticos, como doadores milionários pagando despesas pessoais.

Quando os partidos tradicionais se desmoralizam, sempre aparece alguém para correr por fora. Nigel Farage quer ser esse alguém e ter passado os tories, em número de filiados, é um sinal importante de que não parece mais um objetivo tão absurdo assim.

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