A ministra da Segurança da Argentina, Patricia Bullrich, disse na terça-feira 28 que serão implementados maiores controles nas fronteiras com o Brasil e os demais países que compartilham divisas com o território argentino. A medida ocorre no âmbito do Plano Güemes, uma iniciativa conjunta entre administrações provinciais e o governo do presidente ultraliberal Javier Milei, com o objetivo de reforçar a segurança na região e combater atividades ilegais, como contrabando e tráfico de drogas. Anteriormente, a Casa Rosada já havia anunciado a intenção de construir uma cerca de 200 metros com a Bolívia.
“Agora vamos para a fronteira de Misiones com o Brasil, que é uma fronteira que é atravessada a pé em muitos lugares e onde tivemos pistoleiros e problemas”, antecipou Bullrich em entrevista à Rádio Mitre.
A ministra disse que o governo vai avaliar quais as medidas adequadas para cada zona, embora descarte por enquanto promover a construção de novas estruturas, como acontecerá na cidade de Águas Blancas, na província de Salta, que faz fronteira com a cidade boliviana de Bermejo. Lá, onde os governos nacional e provincial decidiram instalar uma cerca para obrigar todas as pessoas que transitam pela área a realizarem procedimentos e controles de imigração.
“Vamos em ordem. Agora fizemos Águas Blancas, depois vamos para a Tríplice Fronteira, que controlamos há muito tempo, e vamos para as fronteiras com o Brasil, onde temos um problema muito sério”, disse Bullrich.
Ela explicou que os mecanismos de controle devem variar de acordo com a política cambial de cada país. Há momentos em que os produtos fluem mais da Argentina para o Brasil, porque têm preços mais baixos, enquanto outras vezes – como agora – contrabandistas tentam trazer produtos brasileiros mais baratos para solo argentino sem pagar impostos.
A ministra da Segurança antecipou que o governo Milei vai implementar ferramentas de vigilância com tecnologia em Formosa, que faz fronteira com o Paraguai, e explicou que os drones comprados durante a presidência de Mauricio Macri (2015-2019), de centro-direita, para realizar os controles enferrujaram por terem caído em desuso durante o governo peronista de Alberto Fernández (2019-2023).
“Estamos nos organizando para que tenhamos controle total daquela faixa de fronteira. Temos muitos policiais militares, patrulhamento permanente e precisamos dessa tecnologia para proteger não só a tríplice fronteira com o Brasil, mas áreas como Bernardo de Irigoyen, onde a cidade está totalmente integrada, e Salvador Mazza, onde estamos fazendo um plano abrangente”, disse a ministra da Segurança.
“Este ano, teremos toda a fronteira monitorada, como queremos, e espero que eles (governo Fernández) não tenham destruído o sistema de fronteira que compramos em 2018″, insistiu Bullrich.
Cerca de 200 metros
O “cercamento perimetral” com a Bolívia, como foi chamada a estrutura de contenção no Boletim Oficial (publicação equivalente ao Diário Oficial no Brasil), deve ser erguido no município argentino de Aguas Blancas, na província de Salta, que fica no extremo norte do país, às margens do rio Bermejo. O governo de Salta convocou uma licitação para a construção do muro que, de acordo com o jornal argentino La Nación, teria 200 metros de comprimento — sendo que os dois países compartilham mais de 700 km de fronteira.
O governador de Salta, Gustavo Sáenz, afirmou que a medida busca “proteger as vias legais de entrada a partir da Bolívia”. Segundo comunicado de seu gabinete, a construção deve ser concluída em 60 dias e incluirá 3 portões de acesso exclusivos para as forças de segurança.
Prevê-se que a estrutura tenha 3,5 metros de altura, com postes de concreto armado reforçado, espaçados a cada 4 metros. A cerca será complementada por arame farpado e concertina, além de um rodapé de concreto para aumentar a resistência.
O Ministério das Relações Exteriores da Bolívia comunicou que o governo está “preocupado” com a decisão argentina, classificando-a como uma “medida unilateral” que pode afetar as relações entre os países. Além disso, pediu diálogo bilateral para resolver questões fronteiriças e disse que buscará informações formais sobre o projeto.