Em qualquer crise política, a primeira culpada é sempre a comunicação. Foi assim, por exemplo, que o presidente Lula contornou na eleição de 2002 a rejeição de parte do eleitorado ao equilibrar uma imagem tida como de radical com o mote “Lulinha paz e amor”. Foi assim também que surgiu o bordão “nós contra eles”, utilizado pelo petista ao emular uma suposta luta de classes após o governo que comandava ter sido engolfado no escândalo do mensalão. Sem uma marca clara para o terceiro mandato e candidatíssimo em 2026, o mandatário quer novamente reformular o modo de o governo vender o próprio peixe.
O marqueteiro Sidônio Palmeira, alçado a ministro da Secretaria de Comunicação, tem como uma de suas prioridades delinear um plano de comunicação que demonstre ações do governo no combate à dengue – com o agravante que, a esta altura do mandato, dificilmente o discurso (verdadeiro) de que políticas de saúde foram sucateadas sob a gestão de Jair Bolsonaro terá o apelo de antigamente. Em 2024, os casos da doença no país ultrapassaram 6,5 milhões, e as mortes chegaram a quase 6.000, segundo o Painel de Monitoramento de Arboviroses do Ministério da Saúde.
O avanço do número de infectados já havia gerado críticas de Lula à ministra Nísia Trindade na uma reunião ministerial no ano passado e ampliado as pressões para que a pasta trocasse de comando. Como se sabe, desde o primeiro dia de governo o Centrão tenta abocanhar também o bilionário orçamento da Saúde, mas por ora Lula não dá indicativos de que a ministra será uma das vítimas da iminente reforma ministerial.
Nísia se reuniu recentemente com Sidônio e traçou projeções de que, embora a recorrência de chuvas amplie as chances de larvas de mosquitos transmissores se proliferarem, os casos de dengue vão diminuir em 2025. Os dois discutiram, entre outros temas, campanhas de prevenção, como divulgar a revitalização do Sistema Único de Saúde (SUS) e estratégias para comunicar melhor o desenvolvimento de vacinas contra a doença. No final do ano passado, o Instituto Butantan apresentou a documentação final para registro do insumo na Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).
A lógica da comunicação do governo para a dengue é, entre outros pontos, mostrar que imunizantes devem ser produzidos comercialmente em breve em território nacional e que campanhas informativas precisam reforçar o combate à água parada, criadouro do Aedes aegypti.
Ainda assim há poucos motivos para comemorar: a própria pasta da Saúde anunciou há poucos dias que monitorava a possibilidade de aumento na incidência de registros da doença nos estados de São Paulo, Rio de Janeiro, Espírito Santo, Mato Grosso do Sul, Paraná e Tocantins.