“Déficit não é rombo”. Foi assim que a ministra da Gestão e da Inovação em Serviços Públicos do Brasil, Esther Dweck, rebateu a jornalistas a informação sobre o resultado das empresas brasileiras, incluindo estatais, divulgado pelo Banco Central, com um déficit – ou rombo – em R$ 8 bilhões em 2024.
VEJA ouviu economistas a respeito do tema. Elena Landau, advogada e economista que teve importante atuação no setor público, é uma das vozes categóricas: “O passado condena o governo”, diz. “É preciso lembrar o que foram os déficits quando Dilma Rousseff saiu do governo, o esforço feito no governo Michel Temer para recuperar as empresas, que tiveram até que parar de investir e que quase quebraram.”
O argumento do governo é que a cifra contém números de investimentos feitos pelas companhias com dinheiro que já estava em caixa. A ministra afirmou que os números apresentados pelo BC são o resultado fiscal das companhias, considerando apenas receitas e despesas. “Mas muitas despesas são com dinheiro que estava em caixa. Portanto, acaba gerando resultado deficitário, ainda que as empresas tenham lucro”, disse.
Ela afirmou ainda que, das onze empresas com déficit divulgadas hoje, nove são lucrativas – o que significa que não se pode chamar de rombo. “O Tesouro não vai arcar com isso. É um resultado pelas empresas terem aumentado investimentos”, afirmou, citando o exemplo dos Correios.
“O problema é que R$ 8 bilhões já é um problema grave”, diz Landau. “Está gastando onde? Para que? Telebrás? Quem disse que são investimentos que vão gerar benefício para a sociedade?”
Outro economista ligado a uma grande gestora de recursos, que prefere não ser identificado, afirma que “rombo” é uma definição informal para um resultado negativo, um conceito que pode ser usado como sinônimo. “Déficit é um conceito fiscal bem estabelecido de que a despesa está acima da receita, comumente podemos falar rombo, não é uma discussão”, afirma. Ele observa também que um déficit precisa contar ou com geração de lucro ou com financiamento para se tornar um superávit – até lá, “um número negativo não vira um número positivo”.
“É a mesma coisa”, diz outro economista-chefe de uma gestora multimercado. “Se estamos falando de um dado negativo, ele é um rombo. Mudará quando houver lucros realizados.”