Ainda Estou Aqui conquistou três indicações ao Oscar nesta quinta-feira, 23, incluindo uma nomeação histórica à categoria de melhor filme, que nunca antes havia tido um representante brasileiro. Com a conquista, o elenco do longa, assim como todo o Brasil, está em festa, celebrando o feito inédito do cinema nacional. Intérprete de Bocaiuva Cunha, amigo de Rubens Paiva (Selton Mello), Dan Stulbach acompanhou o anúncio do seu sítio em Ibiúna, e nem comeu direito de ansiedade. “Vai rompendo várias bolhas, e o Brasil precisava muito disso. Apesar da gente estar viciado nas nossas raivas e nas nossas brigas, a gente precisa dessa dose de amor porque tem bolhas que não tem mais se rompido pela razão”, falou o ator emocionado em entrevista a VEJA.
Depois do anúncio, Stulbach mandou mensagens para Walter Salles e Fernanda Torres parabenizando a dupla, e disse que ficou paralisado com a indicação a melhor filme. “Primeiro veio o filme estrangeiro, e eu já imaginava, era coerente que a gente tivesse essa indicação. Agora quando veio pra Nanda e melhor filme me bateu uma felicidade muito grande. Mas não uma felicidade de explosão, foi uma felicidade calma, como se as coisas estivessem no lugar que tinham que estar”, descreveu ele, apontando as “coincidências incríveis” envolvidas no filme. “O fato do Walter ter sido o vizinho do Marcelo quando criança. O Marcelo ter se tornado o autor que se tornou. O Walter ter se tornado o cineasta que se tornou para um dia estar contando essa história. São muitas coisas”, elencou ele.
Confira a entrevista:
Como recebeu o anúncio dos indicados ao Oscar? Eu estava no meu sítio. Assisti ali na TV. Fiquei um pouco paralisado até. O Oscar de melhor filme é fantástico. Se você pensar em todos os filmes do mundo que você tem para isso, estar entre os 10 melhores filmes do mundo, na opinião da academia, é uma honra e benção. Eu comecei a lembrar do nosso trabalho construindo cada cena e pensar que esse trabalho tem essa dimensão, tem essa potência toda que serve para o mundo inteiro achar não só bom, mas incrível.
O Bocaiuva é uma pessoa real, que ajudou perseguidos pela ditadura. Como foi recuperar essa figura? Eu fiquei muito feliz quando o Walter me chamou pro teste porque eu sabia que representava ser escolhido pra trabalhar com artistas que eu admiro muitíssimo. O Bocaiuva tem uma característica que eu acho bonita, que é o de ser uma pessoa que tem uma situação de conforto bem estabelecida e mesmo assim se comprometiam com a melhora do país. Ele fala em um conversa com a Eunice que é impossível não fazer nada, e traz o compromisso que essas pessoas mesmo estabelecidas sentiam de se arriscar por um Brasil melhor. Isso é algo muito determinante nessa geração. Claro que não para todo mundo, mas para algumas pessoas, porque sempre é possível não fazer nada — a gente vê isso hoje e a gente via isso naquela época também.
Fala-se muito dos bastidores do filme. Como foram as gravações? A gente brincava muito. Eu e Nanda falávamos o tempo inteiro de Yoga e da dieta dela pra emagrecer. Eu brincava de fazer um sotaques e ficava brincando com ela em castelhano. É um filme onde a relação das pessoas foi muito carinhosa e estava todo mundo muito feliz de estar lá e querendo aproveitar o máximo do tempo juntos. eu também gosto muito de futebol então falava com o Selton do São Paulo dele, com o Walter do Botafogo. Então, foi tudo muito gostoso, e todo mundo que estava lá tinha plena noção de que estava fazendo algo especial.
Falando em futebol, você é super Corinthiano e muita gente tá comparando a indicação a um clima de copa do mundo. Como é ver essa torcida para o cinema nacional? Acho que tem essa sensação de orgulho. Fui dar uma volta hoje com o meu cachorro e as pessoas me paravam pra dar parabéns. E era esse clima mesmo ‘parabéns, é o Brasil’. Tá todo mundo muito orgulhoso. A gente tem tido uma sucessão de notícias complicadas a nosso respeito. O diálogo no Brasil tem sido muito raivoso, mesmo no futebol. então quando vêm um reconhecimento desse e tá todo mundo orgulhoso do país por um instante é muito bom. E o Globo de Ouro pra mim foi igual. O pulo, o salto e o grito foi igual o de um gol. Acho que não só pra mim, mas pra muita gente.
O que a indicação inédita a melhor filme representa par ao cinema nacional? Ela comprova que a nossa arte é universal, que chega em todos os lugares, que emociona as pessoas e elas querem te retribuir por isso. Outra coisa é a visibilidade que traz par ao cinema nacional e par aos artistas brasileiros. Acho que somos um dos únicos países do mundo onde é preciso ficar provando que a cultura tem importância e que ela tem valor. Um prêmio desses traz à tona todas essas questões: de que cultura tem que ser política de Estado, e não de governo, e que tem que estar sempre sendo fomentada para que mais filmes, mais peças sejam feitas. Pode ser um divisor de águas pra todo mundo, e coloca a nossa cultura onde ela pode estar. Que não seja só um filme, que propicie um movimento cultural interessante que conte cada vez mais a nossa história e nos provoque a discutir que país a gente quer ter.
E quais os seus planos para a cerimônia do Oscar?
Ah eu queria que me convidassem para estar lá. Meus planos são arranjar uma roupa bonita e estar lá. mas se isso não acontecer vou comprar uma roupa bonita e torcer por aqui, colocar no telão, tomar um vinho. Eu tenho um bolão do Oscar com os amigos há uns 25 anos. Vai ser a primeira vez que eu vou fazer como indicado, então talvez eu seja proibido de participar. Mas é isso, vou reunir os amigos e aproveitar esse momento.
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