A poucos meses da eleição interna que vai definir o novo presidente do Partido dos Trabalhadores, a legenda vive clima de guerra deflagrada entre suas fileiras.
A edição de VEJA desta semana mostra como o grupo liderado por Gleisi Hoffmann — ex-cacique e agora ministra do governo Lula — tem se oposto ao candidato considerado até então favorito — e nome apoiado pelo próprio presidente —, Edinho Silva.
Em entrevista a VEJA, o presidente interino do PT, senador Humberto Costa (PE), falou sobre a necessidade de se “baixar a temperatura” na sigla e criticou a forma que a disputa está sendo tratada. “Acho que está sendo feita de maneira açodada, incorreta, e o PT não pode permitir que esse tipo de discussão venha a contaminar o governo”, diz.
Leia abaixo os principais trechos da entrevista.
Na reunião que aconteceu na casa da ministra Gleisi Hoffmann, foram feitas críticas duras a Lula sobre a viabilidade da candidatura de Edinho Silva, que, por sua vez, se disse “indignado” com a maneira como o encontro foi conduzido. Como está o clima no partido agora? Tanto eu quanto a ministra Gleisi procuramos esclarecer a ele que essa reunião que foi inadequadamente vazada para a mídia não foi uma reunião para atacá-lo. Foi uma reunião, num primeiro momento, para comunicar ao presidente e submeter a ele esse processo do exercício da presidência temporária. E depois, a gente já vinha querendo, há um bom tempo, conversar com ele sobre a sucessão do PT. Se abriu esse debate. No final, o presidente fez uma manifestação dizendo que era importante que a gente conversasse com o Edinho. Que não podia ter uma parcela importante da CNB que não concordasse, que era muito ser difícil ser presidente assim, e que era importante conversar com ele.
Houve então uma distensão dessa animosidade? A questão é que houve uma ebulição muito grande. Na minha avaliação, um tanto desnecessária, mas já foram feitos alguns movimentos no sentido de tentar abaixar essa temperatura, e estamos observando para ver se isso adiantou. Porque o processo já foi totalmente definido em torno dos procedimentos, dos prazos. Agora, é fazer a discussão não somente sobre a candidatura a presidente nacional, mas também sobre programa, projeto, estratégia nossa, para a eleição do ano que vem.
Mesmo com os movimentos sendo feitos no sentido de se baixar a temperatura, ainda há um impasse sobre quem será candidato. Qualquer filiado do PT pode se apresentar como candidato. O nome que realmente veio à público foi o do ex-prefeito Edinho, que faz parte da nossa corrente majoritária, que é a CNB. Mas com certeza surgirão outros nomes até o esgotamento do prazo. Eu acho que a disputa é por espaços. E também não vejo divergências nisso. Quem defende que o PT e o governo devam ampliar a chapa, a frente para a eleição do ano que vem? Todo mundo. Quem defende que o governo deva dar continuidade à política que está sendo encaminhada pelo próprio governo e que tem como base o programa de governo encabeçado pelo PT? Todo mundo. Então o que tem é uma disputa de espaço que é natural acontecer, mas que está sendo feita de maneira açodada, incorreta, e o PT não pode permitir que esse tipo de discussão venha a contaminar o governo. Acho que todo mundo está no espírito de baixar essa fervura, acho que vai acontecer isso.
Ao mesmo tempo, sobram críticas à tesoureira do partido, Gleide Andrade, aliada de Gleisi e que tem sido apontada como um dos nomes mais vocais contra Edinho. Ele mesmo declarou que, caso eleito, trocaria os cargos de comando, inclusive o dela. Isso é uma visão totalmente equivocada, essa história de que a Gleide está querendo continuar no cargo, que não aceita sair. Isso é inclusive maldoso. Porque ela é uma pessoa da nossa corrente. O que a corrente definir, ela vai aceitar. Colocações que vi, que dizem que não tem transparência nas decisões do partido, estão todas erradas. O orçamento do partido é elaborado com a participação de toda a direção, de todas as secretarias, é previamente apresentado à direção nacional, é votado. A execução do orçamento é pública, os recursos do partido, a sua aplicação, tudo é auditado pelo Tribunal Superior Eleitoral., a decisão de quanto o partido vai investir em candidaturas com fundo eleitoral é tomada também pela direção do partido, então não existe isso. O partido tem diversificadas formas de fiscalização.