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Covid, cinco anos. Os protagonistas da crise: ‘O tempo está apagando atos de heroísmo’

A disseminação de um vírus logo vira preocupação para infectologistas, que conhecem bem as artimanhas desses microrganismos para infectar seus hospedeiros, passando por mutações de tempos em tempos para driblar as barreiras dos anticorpos e se perpetuar. Não foi diferente durante a pandemia de covid-19.

Eles estiveram entre os primeiros a compreender que a crise seria grave e que salvar vidas dependeria de medidas para conter o espraiamento do novo coronavírus por meio de ações individuais e coletivas, com o envolvimento de governos e de uma cadeia que contemplasse profissionais de saúde das mais diversas áreas.

Nos momentos mais críticos da crise sanitária, era impossível não se lembrar das referências sobre outras pandemias, como a Gripe de 1918, mais conhecida como Gripe Espanhola, e também das dolorosas perdas em alto volume quando o vírus HIV, causador da aids, desencadeou uma onda de dor e medo ao redor do mundo.

Até a chegada da vacina contra a covid-19, foi necessário criar estratégias de proteção e cuidar do alto número de infectados. Isso não saiu da memória de quem presenciou a subida das curvas de casos e óbitos ciente de que ali eram vidas impactadas ou interrompidas, afetando pais, filhos, avós e demais entes queridos.

Desde 11 de março, dia em que a declaração de pandemia para covid pela Organização Mundial da Saúde (OMS) completou cinco anos, VEJA publica a série “Covid, cinco anos. Os protagonistas da crise”, que conta os bastidores da emergência sanitária e traz as lembranças de quem sobreviveu ao vírus, trabalhou salvando vidas e lutou pela vacina.

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No primeiro episódio, tivemos o relato da cirurgiã coloproctologista Angelita Habr-Gama, de 92 anos, que passou 52 dias internada na UTI e venceu o vírus. O segundo abordou as chegadas e partidas testemunhadas pelo pneumologista Artur Codeço, diretor médico de Cuidado Integrado Acessível do Einstein que atuou como referência técnica no hospital de campanha erguido no Estádio do Pacaembu, na cidade de São Paulo.

Neste terceiro episódio, a reportagem traz o relato do renomado infectologista Esper Kallás, diretor do Instituto Butantan que, no auge da pandemia, integrou o Centro de Contingência para o coronavírus do estado de São Paulo. Ele faz uma reflexão sobre o aprendizado deixado pela crise, critica o negacionismo e as fake news, e destaca o papel heroico de quem esteve ao lado dos infectados quando o mundo temia ter contato com o vírus.

D

á  para escrever uma enciclopédia sobre o que causou um dos maiores impactos no reordenamento da sociedade desde a Segunda Guerra Mundial. Tivemos consequências em todos os níveis: economia, saúde, produção, cadeia de suprimentos. Foi muito agudo até ter uma reacomodação.

Poderíamos ter tido aprendizados maiores, mas houve uma desassociação entre os ensinamentos e a aplicação deles pela sociedade. Vimos as como as notícias falsas que circulam por mídias eletrônicas são descontroladas e muito ágeis. Assim, as percepções da população sobre a pandemia são muito diversas. Por uma parte da população, teve o reconhecimento do que foi feito. De outra, no entanto, há desconfiança. Para uma pequena parte, se solidificaram um negacionismo e teorias conspiratórias.

Fiz parte do comitê de contingência em 2020 e houve um impacto muito nítido de um movimento político de enfrentamento às medidas adotadas para combater a doença que contaminou o debate. E isso existe até hoje. O que tinha de fazer naquela época foi feito. O que tinha para utilizar na prevenção da doença e o que foi aprovado. A ciência cumpriu o seu papel e o mundo está mais preparado para futuras pandemias por isso.

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No Instituto Butantan, por exemplo, a gente está incorporando tecnologias, plataformas, conhecimento e ganhando independência na estruturação em desenvolvimento, inovação e produção para que o Brasil que seja capaz de acelerar a produção de novos produtos para ameaças de novas pandemias. Há uma certa convergência de que as principais ameaças são novos vírus de gripe. Esse vírus da gripe aviária em circulação nos Estados Unidos mostra que sua capacidade de mutação tem potencial de causar uma pandemia.

O nosso esforço é para o desenvolvimento de novas vacinas para a prevenção de doenças e alívio do sofrimento humano. Quando começou a pandemia, todos foram para casa e sobraram os infectologistas trabalhando. O que mais marcou foi o cuidado aos pacientes que eu e meus colegas de trabalho que atuavam na linha de frente oferecemos. Os pneumologistas e intensivistas se juntaram e tive a sensação de que a gente estava preenchendo uma lacuna de cuidado com a assistência e cuidado que estava mais ligada a como construímos nossa formação.

Aquilo me lembrava os tempos do HIV. Estava começando minha carreira e as enfermarias não eram visitadas por colegas nossos quando os pacientes estavam em seus últimos momentos de vida. Eu diria que o HIV foi mais dolorido (por causa dos estigmas) até começar a ter uma aceitação da população sobre o vírus.

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Durante a covid-19, nós, os auxiliares de enfermagem, fisioterapeutas e demais profissionais estávamos arriscando nossas vidas para salvar as pessoas. O tempo esta apagando atos de heroísmo que foram feitos quando a maioria das pessoas nem queria tocar na maçaneta da porta.

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