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Cortes de Trump ameaçam liderança científica dos EUA

Donald Trump transformou as tarifas no assunto mais falado nas rodas de conversa de líderes mundiais e nos painéis de eventos internacionais de negócios. Mas há um outro fenômeno ocorrendo por iniciativa do presidente americano que tem recebido menos atenção global, apesar de ter o mesmo potencial destrutivo: o desmonte do ensino superior e da pesquisa acadêmica nos Estados Unidos.

O país mantêm há décadas uma posição de liderança global em qualidade do ensino superior, o que explica em grande parte seu sucesso econômico e científico. As universidades americanas são reconhecidas por sua capacidade de inovação, pela pesquisa de ponta e pela formação e captação de talentos que impulsionam setores estratégicos, como tecnologia, saúde e defesa. Elas também se destacam por sua autonomia e pelo financiamento misto público-privado que garante o seu sustento. Essa liderança, no entanto, está sendo ameaçada pela gestão Trump, que tem pressionado instituições a se alinharem à sua agenda política, ao mesmo tempo em que vem reduzindo significativamente os financiamentos federais ao ensino e aos programas acadêmicos. Em algumas universidades, os cortes chegam a representar quase metade dos recursos para pesquisas.

Entre as medidas mais severas destaca-se a suspensão de financiamentos a universidades como Columbia e Penn, acusadas pela gestão Trump de não combaterem adequadamente o antissemitismo ou de promoverem iniciativas de diversidade consideradas ilegais pelo governo. A Universidade Columbia, por exemplo, teve 400 milhões de dólares bloqueados enquanto não aceitar mudanças em suas políticas internas, o que gerou críticas de que isso compromete a liberdade acadêmica e a autonomia institucional.

O impacto financeiro é profundo: uma análise da Associated Press revelou que quase 100 universidades investigadas pelo governo por supostamente adotarem programas “ilegais” de promoção da diversidade receberam mais de 33 bilhões de dólares em fundos federais no ano letivo de 2022-2023. A maioria dos cursos superiores do país recebem até 13% de sua receita do governo federal. Instituições como a Universidade Johns Hopkins, que depende de recursos federais para 40% de sua receita, já enfrentam cortes drásticos. Esses cortes resultaram em milhares de demissões e ameaçam pesquisas cruciais em áreas como imunologia e tecnologia militar.

Além dos escrutínios ideológicos e dos cortes diretos, a administração Trump propôs limitar os custos indiretos cobertos por subsídios dos Institutos Nacionais de Saúde (NIH, na sigla em inglês, uma agência governamental de pesquisas biomédicas), reduzindo-os para apenas 15% do total. Durante a pandemia, as NIH foram uma pedra no sapato do negacionismo científico de Trump. Essa mudança pode custar milhões às universidades, forçando-as a cortar programas ou buscar fontes alternativas de financiamento. Instituições como a Universidade Harvard e a Universidade de Pittsburgh já alertaram sobre os danos potenciais à pesquisa biomédica e ao desenvolvimento científico do país.

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Diante dessa crise financeira, surge a questão sobre se os fundos patrimoniais das universidades, abastecidos em grande parte por doações filantrópicas, poderiam compensar os cortes federais. Embora algumas instituições possuam os chamados endowments bilionários — caso de Harvard, com o maior fundo do mundo — especialistas alertam que há limites significativos para o uso desses recursos. Muitos endowments são restritos por cláusulas legais ou destinados a projetos específicos, o que impede sua aplicação direta para cobrir déficits operacionais ou lacunas em financiamento de pesquisa.

Holden Thorp, ex-reitor da Universidade da Carolina do Norte em Chapel Hill, destacou que as opções disponíveis para as universidades são “bastante sombrias”. Elas podem cortar outros programas para preencher essas lacunas financeiras ou reduzir custos administrativos na pesquisa, o que pode gerar problemas regulatórios e riscos à qualidade acadêmica. Assim, mesmo com grandes endowments, as universidades enfrentam desafios para manter suas operações sem os fundos federais.

A pressão financeira também está afetando diretamente os estudantes e pesquisadores. Com menos recursos disponíveis para bolsas e financiamentos acadêmicos, muitas universidades reduziram as admissões em programas de pós-graduação. Isso limita o acesso a carreiras científicas e pode prejudicar a formação da próxima geração de pesquisadores americanos.

Apesar das dificuldades financeiras e das limitações dos endowments, líderes universitários continuam defendendo o papel essencial das instituições na sociedade americana. Alan Garber, presidente de Harvard, enfatizou que as medidas adotadas são temporárias e visam a preservar a flexibilidade financeira diante das rápidas mudanças políticas. No entanto, sem um compromisso renovado com o financiamento educacional e científico por parte do governo Trump, os Estados Unidos correm o risco de comprometer décadas de progresso acadêmico e tecnológico.

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