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Conheça a vinícola da Campanha Gaúcha que está colecionando prêmios

A cidade de Dom Pedrito, localizada quase na fronteira do Rio Grande do Sul com o Uruguai, tem uma rica história. O povoado foi formado graças ao trabalho do fidalgo Pedro Ansuateguy, um contrabandista que atuava na fronteira entre os domínios espanhois e portugueses. Foi desmembrado da cidade de Bagé e foi emancipado em 1872, e ganhou o status de município oficialmente em 1888. Passou por três conflitos armados importantes: a Revolução Farroupilha, a Revolução Federalista de 1893 e a Revolução de 1923. Tornou-se referência no agronegócio gaúcho e hoje é conhecido também como a cidade onde está instalada uma das principais vinícolas do país.

O portão da Vinícola Guatambu, na BR-293, diz “estância do vinho”. O nome é usado na região sul para designar as fazendas de gado, indicando a influência da cultura espanhola – perceptível também na arquitetura do prédio principal. Quem visita o espaço, seja para fazer a degustação convencional, seja para participar do Dia Épico, tradicional evento que conta com almoço harmonizado, é recebido com a tradicional hospitalidade do sul.

A visita à Guatambu faz parte de uma viagem de 1682 quilômetros em cinco dias que o Pé na Estrada fez explorando a produção vitivinícola na Campanha Gaúcha, no Rio Grande do Sul. Em uma série especial de reportagens, contamos histórias da região fronteiriça, como a trajetória de uma das mais importantes vinícolas da atualidade.

Antes de entrar no negócio do vinho, a família Pötter, dona da vinícola, já era bastante conhecida no agronegócio local. Valter Potter é um dos maiores pecuaristas do Estado. A propriedade da família, com mais de 11 mil hectares, tem plantações de soja e arroz. A plantação de uvas próprias para a produção de vinhos começou em 2003, a partir de uma provocação de Gabriela Potter, uma das quatro filhas de Valter, que estudou enologia. A qualidade das primeiras safras mostrou que o negócio tinha grande potencial. 

Gabriela Potter, enóloga e diretora técnica da Vinícola Guatambu
Gabriela Potter, enóloga e diretora técnica da Vinícola GuatambuAndré Sollitto/VEJA
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Hoje, são 20 hectares, uma pequena parcela do total da propriedade. Mas os vinhos passaram a representar uma parcela importante do faturamento. E passaram a fazer com que as pessoas encarem a viagem até a Campanha Gaúcha para provar os premiados rótulos. “Ninguém vem até aqui por conta da soja”, conta Valter Potter. “Mas vem pra cá por conta dos vinhos.”

A quantidade de premiações conquistadas em seleções nacionais e internacionais ajudou a Guatambu a se tornar mais conhecida. Seu espumante Nature Blanc des Blancs foi eleito o melhor rótulo nacional pelo guia Descorchados, o principal dedicado apenas aos vinhos da América do Sul, em 2023. O tinto Épico, feito a partir de um blend de safras, também já foi escolhido o melhor tinto do Brasil pelo Guia Adega 2023/2024

Na edição deste ano do Descorchados, o Guatambu Potter Tannat 2024 foi eleito o melhor tinto do Brasil (com 93 pontos, empatado com o Sabina Syrah Seleção de Parcelas 2024 e o Belmonte Tannat 2023). Na categoria dedicada aos melhores vinhos da Campanha Gaúcha, a vinícola emplacou vários outros rótulos, como o Lendas do Pampa Tannat, Rastros do Pampa Tannat, Rastros do Pampa Merlot, Nature Chardonnay e Isadora Edição V, entre outros. É um reconhecimento e tanto para uma marca tão recente.

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Parte do sucesso dos rótulos se deve ao terroir encontrado na propriedade. Em geral, a região tem muitos solos argilosos, que não fazem bem a drenagem da água. Onde os vinhedos foram plantados, a argila representa apenas 35%. O resto é composto por solo granítico de pedras intercaladas que proporcionam boa drenagem, além de refletir a insolação, que é alta na altura do paralelo 51, onde a vinícola está localizada. “Encontramos um microterroir muito especial”, conta Gabriela Potter, enóloga e diretora técnica da Guatambu.

As primeiras safras foram feitas em parceria com a Embrapa, que analisava os vinhos. E os resultados foram consistentes a ponto da família decidir construir a vinícola, em 2010. “A ideia inicial era fazer onde estão os vinhedos, mas as estradas de terra ficam intransitáveis em algumas épocas do ano”, diz Gabriela. A estrutura fica próxima, mas na beira da BR, o que facilita o acesso. Há um hectare e meio de parreiras plantadas na frente da vinícola, cuja função é mais “cenográfica”. 

Além do terroir, há um alto investimento em tecnologia. Uma prensa específica para vinhos brancos, que faz o processo por gravidade, sem contato com o oxigênio, foi importada da França. Toda a fermentação dos vinhos é feita com controle de temperatura. A linha de produção tem capacidade para 150 mil garrafas, embora atualmente faça apenas 100 mil por ano. A Guatambu é também a primeira vinícola do Brasil totalmente movida a energia solar. As enormes placas ficam localizadas ao lado do prédio e são visíveis aos visitantes.

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Adega da Vinícola Guatambu tem espaço para degustações e uma nova Galeria de Aromas
Adega da Vinícola Guatambu tem espaço para degustações e uma nova Galeria de AromasAndré Sollitto/VEJA

O enoturismo é parte fundamental da operação. Desde que a Guatambu começou a receber turistas, em 2013, mais de 40 mil pessoas passaram por lá. A vinícola foi construída com um restaurante, loja e espaço externo, além de uma recém-inaugurada sala de barricas, ao lado de uma Galeria de Aromas. E a programação conta com degustações, almoços harmonizados, eventos especiais e até um tour completo, com direito a uma passagem pelos laboratórios e pela linha de produção dos espumantes. O Dia Épico é o principal evento do calendário. Trata-se de um dia inteiro dedicado à cultura do vinho e à história do pampa gaúcho e da região da Campanha.

Para quem não pode visitar a vinícola, os rótulos são vendidos em todo o Brasil. O portfólio é grande e conta com rótulos de entrada, como a linha Rastros do Pampa, comercializada na faixa dos R$ 100, até os tintos de guarda, como o Lendas do Pampa Tannat, que custa R$ 212, e o Épico, vendido por R$ 417. Recentemente, a vinícola lançou também a linha Potter, cujos vinhos passam seis meses em ânforas de concreto. Há um branco, elaborado com chardonnay, e um tinto, de Tannat, ambos vendidos a R$ 315.

 

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