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Como ‘telespectador-dopamina’ pode afundar ‘Vale Tudo’- sem culpa da Globo

Há vários motivos para se questionar como Vale Tudo, de Manuela Dias, na TV Globo, não consegue decolar na audiência. Até aqui, apesar de todo o “carnaval” de seu lançamento, a atual trama das nove não superou sua sucessora, a natimorta Mania de Você. Um desses motivos passa pela mudança de hábito do telespectador nos últimos anos, cada vez mais acostumado a outras formas de consumo de ficção televisiva.

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O termo “telespectador-dopamina” tem sido usado em discussões sobre mídia para descrever aquele tipo que consome conteúdo apenas pelo estímulo rápido e constante que ele gera — basicamente, buscando alguma “descarga de dopamina”. Esse tipo de telespectador, na maioria jovem, tem baixa tolerância ao tédio ou à lentidão narrativa, procura por recompensas imediatas (plot twists, cenas impactantes, humor fácil etc), tem dificuldade em se engajar com obras mais densas, lentas ou complexas e se acostumou a pular de conteúdo em conteúdo (tipo zapping ou binge watching impulsivo) por causa das facilidades do streaming.

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Ou seja, há uma nova geração consumidora de ficção televisiva habituada a um consumo acelerado, tal como as plataformas e redes sociais (TikTok, YouTube e até o streaming) incentivam. Nestes meios, tudo é feito para capturar a atenção nos primeiros segundos e mantê-la com picos constantes de estímulo.

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Já o oposto do “telespectador dopamina” seria o “telespectador-contemplativo” (ou “telespectador-paciente”). Se o “telespectador-dopamina” está sempre em busca de estímulo e recompensa rápida para não perder o interesse sobre a obra exibida, um nome simbólico para o oposto a ele poderia remeter a substâncias associadas ao equilíbrio, estabilidade e introspecção. Ou seja, não seria exagero chamá-lo de “telespectador-serotonina”. A serotonina está mais ligada à sensação de bem-estar estável, à regulação do humor e à satisfação a longo prazo — diferente da dopamina, que impulsiona busca, expectativa e recompensa imediata. O “telespectador-serotonina” seria, portanto, aquele que se satisfaz com narrativas calmas, com desenvolvimento lento, ao invés de picos intensos.

Esse tipo de espectador tem alta tolerância à lentidão narrativa e aprecia o desenvolvimento gradual das histórias; gosta de tramas profundas, silenciosas ou sutis, onde a recompensa vem com o tempo; prefere novelas e séries que demandam atenção, reflexão e envolvimento emocional; e se permite sentir o ritmo do conteúdo, sem buscar estímulos constantes. É o espectador que valoriza mais a experiência estética, emocional ou filosófica da obra do que o entretenimento puro.

Neste sentido, não seria exagero colocar na conta do “telespectador-dopamina” a mudança no hábito de se ver novelas. É uma nova geração mais acostumada a hábitos trazidos pelas plataformas de streaming, redes sociais e outros meios digitais. Os índices recentes de Vale Tudo, em uma semana no ar, indicam que mesmo com todo o marketing envolvido em seu lançamento na TV Globo, além da indiscutível qualidade técnica da obra, não refletem mais o interesse de uma massa de telespectadores que antes se traduzia em números mais expressivos. As novelas não prendem o “telespectador-dopamina”, que vem crescendo em detrimento do “telespectador-dopamina”.

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