Os semicondutores são tão críticos para a economia do século XXI quanto o petróleo foi para o século XX. No entanto, durante o auge da parceria entre a China e o Ocidente, a importância dos semicondutores frequentemente passava despercebida. Isso mudou. O principal produtor global ainda é Taiwan, mas o aumento das tensões comerciais entre China, Estados Unidos e Europa começa a gerar o que está sendo chamado de Chip War, ou “Guerra dos Chips”.
Além disso, depois da pandemia, há o impacto dos conflitos geopolíticos como os de Israel-Hamas e da Rússia-Ucrânia, bem como as campanhas de ataques dos rebeldes houthis do Iêmen, nas rotas de transporte do Mar Vermelho. Os eventos climáticos extremos, como a seca no Canal do Panamá, também não contribuem para o fluxo comercial. Ao mesmo tempo, a demanda por semicondutores cresce exponencialmente com o avanço da tecnologia.
A convergência do aumento na procura com as questões geopolíticas e climáticas causa disrupção no fornecimento do componente e leva à necessidade de cadeias de suprimento robustas e resilientes para os semicondutores. Uma das formas de conseguir isso é a diversificação geográfica da produção, com o fortalecimento da indústria local e o aumento da capacidade, além da criação de redundâncias que mitigam os riscos geopolíticos e de desastres naturais.
A “Lei dos Chips”, projeto aprovado pelo congresso dos Estados Unidos que direciona 52 bilhões de dólares para desenvolvimento e produção de semicondutores, pode ser o início da revitalização da indústria americana. Segundo um estudo recente do Boston Consulting Group, a participação do país na produção global de chips pode crescer de 12% em 2020 para 14% até 2032 graças a essa legislação. Ainda é um aumento modesto, que ressalta a feroz competição global e a necessidade de contínuos investimentos no setor.
Lembro ainda que a Intel, uma das fabricantes de chips mais tradicionais do mundo, está finalizando os trâmites com o Departamento de Comércio dos Estados Unidos para um investimento de 8,5 bilhões de dólares com o objetivo de apoiar seus projetos de modernização e construção de novas fábricas, um esforço que conta com amplo apoio bipartidário.
Não é só nos Estados Unidos que esse movimento está ocorrendo. Empresas da Coreia do Sul planejam investir 471 bilhões de dólares até 2047 para construir 16 novas fábricas, enquanto a Europa registrou sete grandes investimentos no setor desde 2020. A Costa Rica, também chamada de “Vale do Silício da América Latina”, está se tornando relevante na cadeia de suprimentos do componente, com a Intel realizando um investimento de 350 milhões de dólares para expandir suas operações de montagem e testes no país.
No Brasil, a Associação Brasileira da Indústria de Semicondutores (Abisemi) anunciou investimentos de 24,8 bilhões de reais em pesquisa e desenvolvimento, aumento da capacidade produtiva e expansão de fábricas. O governo também criou o Brasil Semicon e atualizou o Programa de Apoio ao Desenvolvimento Tecnológico da Indústria de Semicondutores (Padis), que prevê incentivos de 7 bilhões de reais ao ano para o estímulo à produção de chips, painéis solares e eletroeletrônicos.
No entanto, os desafios são enormes: as outras nações estão aumentando seus investimentos e o custo de construir fábricas de última geração continua alto. O sucesso das novas iniciativas de produção depende não somente de subsídios governamentais, mas também de linhas de financiamento e incentivos fiscais estratégicos.
Outra parte da solução é a educação e o desenvolvimento de uma força de trabalho com habilidades para operar nessa nova fronteira tecnológica. Igualmente importante é uma estratégia de cadeia de suprimentos adequada para o novo momento da indústria.
Com novas fábricas e tecnologias de manufatura avançadas sendo adotadas, as empresas devem otimizar suas redes logísticas para incorporar múltiplas fontes de produção nesses novos pólos globais. É preciso adotar ferramentas avançadas de visibilidade ponta a ponta e análises preditivas, além de alinhar-se com as regulamentações e normas locais para garantir a continuidade e a resiliência operacional em um ecossistema de semicondutores cada vez mais complexo e descentralizado.
A importância de agir agora não pode ser subestimada. A demanda futura por semicondutores é certa e estamos no momento adequado para construir e testar essas redes com robusto apoio governamental. Ao adotar tecnologias avançadas impulsionadas por IA, a indústria pode melhorar a eficiência, gerenciar riscos e atender à crescente procura global. Além disso, promover o comércio aberto e diversificar mercados por meio de acordos comerciais e colaboração não criará uma nova “superpotência” de semicondutores, mas, ao invés disso, fortalecerá a resiliência da cadeia e reduzirá as disrupções no fornecimento do componente.
*Tim Robertson é CEO Americas da DHL Global Forwarding