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Como as demolições viraram as novas armas da especulação imobiliária

Por conta da escassez de terrenos bem localizados nas principais capitais brasileiras, as incorporadoras estão se valendo da demolição de prédios antigos para construir novos empreendimentos em locais nobres das cidades. Tradicionalmente, o custo do terreno corresponde a 20% do VGV (valor geral de vendas) de uma incorporação. No caso das áreas mais nobres de metrópoles como São Paulo e Rio de Janeiro, o custo passou a incluir o trabalho de colocar abaixo a antiga construção que ocupava aquela área. Considerando-se que vão ser erguidos no local empreendimentos com unidades avaliadas em quase 20 milhões de reais, a conta acaba fazendo sentido para as empresas envolvidas no negócio.

Mas a decisão em demolir prédios antigos ou um conjunto de casas não é fácil e nem rápida. Exige uma longa negociação com diversos proprietários e cada imóvel tem uma realidade que, se não for negociada e resolvida, pode até inviabilizar todo o projeto. Esse processo de negociação e especulação imobiliária serviu de enredo para o filme brasileiro Aquarius, de 2016, estrelado por Sonia Braga. A história gira em torno de Clara, uma viúva de 65 anos que é a ultima moradora do edifício que dá titulo à obra, na orla da praia de Boa Viagem, no Recife. No decorrer do filme, acompanhamos o dia a dia da protagonista, sua relação com seus amigos e familiares e a investida de uma construtora que pretende comprar o prédio a todo custo , com objetivo de erguer um mais moderno no local.

Históricas parecidas acontecem na vida real, a exemplo de um caso ocorrido na cidade de Curitiba, no Paraná. Maria Juracy Aires, uma aposentada de 69 anos, comprou seu apartamento em 1979 e se recusa a vendê-lo para a Construtora Plaenge, que conseguiu comprar todas as outras sete unidades do prédio de quatro andares. Maria Juracy a não concordou com o valor oferecido e, por conta disso, a empresa, agora proprietária de quase 90% do imóvel, numa tentativa de “vencer pelo cansaço”, abandonou o prédio, Grades, portas, janelas e até mesmo a fiação do edifício foram levadas embora. Até o sistema de segurança, pago pela proprietária, foi furtado.

Agora, ela luta na Justiça para que a construtora divida com ela os custos do condomínio no processo que corre na 9ª Vara Cível de Curitiba. A empresa contesta dizendo que a conservação do prédio demanda aprovação em assembleia e que as assembleias foram extintas desde que a começou o processo de compra dos apartamentos. Enquanto a Justiça não resolver o impasse, o prédio segue depredado e a propriedade da Dona Maria Aires vai se desvalorizando. Nunca mais ela teve a chance de alugar o imóvel, o que lhe garantia uma renda importante. O advogado que a representa argumenta que a empresa está desviando a finalidade dos apartamentos ao não destiná-los à moradia. Segundo o defensor, os interesses financeiros não podem prevalecer sobre os direitos que a pessoa tem à sua própria moradia, sua própria historia e aos seus vínculos com o lar.

Nem todas as histórias terminam nos tribunais, é verdade. Sem nenhum problema com antigos proprietários, a Construtora Gafisa comprou diversos imóveis comerciais, casinhas no bairro nobre do Itaim Bibi que ofereciam serviço de cabelereiro, pet shop e itens de esporte. A empresa deve usar os respectivos terrenos para fazer um empreendimento de luxo, ainda em desenvolvimento de metragem e unidades.  Os moradores do bairro veem esse movimento de transformação com bons olhos, pois valoriza ainda mais o entorno com a chegada de construções modernas.

O importante é que esse processo de compra se dê de uma forma sustentável, prevendo um impacto positivo na região e sem desgaste como aconteceu em Curitiba, onde um prédio, outrora habitado por famílias, agora virou palco de furtos e invasões.

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