O presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, emitiu nesta segunda-feira, 20, uma nova rodada de perdões preventivos para diversos críticos de Donald Trump, que o substituirá na Casa Branca após a cerimônia de posse às 12h (14h em Brasília). Entre os beneficiários estão o general Mark Milley, que atuou como presidente do Estado-Maior Conjunto durante o primeiro mandato de Trump e o chamou de “fascista”, Anthony Fauci, que virou saco de pancadas da direita após comandar a resposta americana à pandemia de covid-19, e membros do comitê do Congresso que investigou a invasão de trumpistas ao Capitólio em 6 de janeiro de 2021.
Em declaração, Biden afirmou que essas pessoas “não merecem ser alvos de processos injustificados e politicamente motivados”.
“Nossa nação depende de servidores públicos dedicados e altruístas todos os dias. Eles são a força vital da nossa democracia. Ainda assim, é alarmante que servidores públicos tenham sido submetidos a ameaças e intimidações constantes por cumprirem fielmente seus deveres”, escreveu ele, que também concedeu um indulto à ex-deputada republicana Liz Cheney, contra quem Trump jurou retaliação.
Fauci atuou como diretor do Instituto Nacional de Alergia e Doenças Infecciosas por décadas, inclusive durante o surto de covid-19 na primeira presidência de Trump. Desde que emitiu recomendações para vacinação, uso de máscaras e distanciamento social, ele virou alvo de intensas críticas da direita política. Milley, por sua vez, foi uma das principais figuras do primeiro governo Trump a criticá-lo, chamando-o de fascista em uma entrevista ao jornal americano The New York Times.
Sem culpa
Biden enfatizou, porém, que os perdões não denotam culpa.
“A emissão desses perdões não deve ser confundida com um reconhecimento de que qualquer indivíduo se envolveu em qualquer delito, nem a aceitação deve ser mal interpretada como uma admissão de culpa por qualquer delito. Nossa nação tem com esses servidores públicos uma dívida de gratidão por seu compromisso incansável com nosso país”, ele escreveu.
Em uma declaração à CNN, Milley disse que ele e sua família estavam “profundamente gratos” pela ação de Biden.
“Após quarenta e três anos de serviço fiel uniformizado à nossa nação, protegendo e defendendo a Constituição, não desejo gastar o tempo restante que o Senhor me concede lutando contra aqueles que injustamente podem buscar retaliação por desrespeitos percebidos”, disse o general aposentado.
Caráter preventivo
No início deste mês, Biden disse a repórteres que um fator que vem pesando em suas decisões sobre os indultos é se Trump telegrafou possíveis intenções de processar certos oponentes políticos nos dias que antecederam sua posse.
“Depende de parte da linguagem e das expectativas que Trump transmite nos últimos dias sobre o que ele vai fazer”, declarou o presidente. “A ideia de que ele puniria as pessoas por não aderirem ao que ele acha que deveria ser uma política relacionada ao seu bem-estar é ultrajante.”
Em uma entrevista com o portal de notícias USA Today, Biden contou que, durante uma reunião com Trump no Salão Oval logo após as eleições de novembro, disse ao republicano que “não havia necessidade, e era contraintuitivo para seu interesse voltar e tentar acertar as contas”.
O ex-deputado republicano Adam Kinzinger, que participou do comitê do Congresso que investigou a invasão do Capitólio, e o senador democrata da Califórnia Adam Schiff, que coordenou um dos dois processos de impeachment contra Trump em seu primeiro mandato, rejeitaram a oferta de perdões preventivos.