O homem acusado de ser o atirador no assassinato de Vinicius Gritzbach, delator de esquemas de lavagem de dinheiro da facção criminosa Primeiro Comando da Capital (PCC), foi preso nesta quinta-feira, 16, por organização de militares para a prática de violência, um crime previsto no Código Penal Militar. Ele é policial militar da ativa e vai passar os próximos 30 dias no Presídio Militar Romão Gomes, em São Paulo. A identidade do acusado não foi revelada porque as investigações continuam com o foco em encontrar o mandante do homicídio.
O material genético coletado no Aeroporto Internacional de Guarulhos, local do homicídio de Gritzbach, será comparado com amostras do DNA do policial militar preso. Com o resultado dos exames, as autoridades pretendem converter a prisão temporária em prisão preventiva, até que o acusado de ter efetuado os disparos que mataram o delator do PCC seja julgado.
Outras evidências levaram os investigadores a acreditar que pegaram o atirador do homicídio que ocorreu em novembro do ano passado. Ele teve o sigilo telefônico quebrado, e os dados de localização do celular foram comparados com rádios-bases. A movimentação do atirador no ato e durante a fuga correspondem com o local do celular do acusado. O aparelho foi apreendido nesta quinta-feira e pode gerar outras provas.
Além disso, imagens de câmeras de segurança do aeroporto, dos arredores e da rota de fuga foram comparadas com as características do acusado. Os autores do crime fugiram do terminal em um carro preto, que foi dispensado em meio ao escape dos criminosos. O grupo se dispersou e dois homens pegaram um ônibus. As investigações indicam que o atirador foi um dos passageiros deste ônibus e as imagens de dentro do coletivo batem com a fisionomia do acusado.
“Uma série de fatores o colocam na cena do crime”, disse o secretário da Segurança Pública de São Paulo, Guilherme Derrite, em coletiva de imprensa nesta quinta-feira.
Os investigadores ainda têm a informação de que o atirador trabalhou com a ajuda de um comparsa. O suposto auxiliar foi alvo de um mandato de busca e apreensão, mas as provas contra ele são insuficientes para prendê-lo.
Quinze militares presos
Além do acusado de atirar em Gritzbach, outros quatorze policiais militares foram presos preventivamente nesta quinta-feira por fazerem parte da segurança privada do delator do PCC. Eles foram alvos da Operação Prodotes deflagrada pela Corregedoria da Polícia Militar.
Um dos presos era um tenente que era o chefe da segurança privada de Gritzbach. Outro tenente detido era responsável por mexer nas escalas dos demais agentes que faziam a escolta ilegal, concedendo folgas e liberando os homens das atividades da Polícia Militar.
A operação decorre de uma denúncia anônima de março do ano passado, que baseou um inquérito policial militar, instaurado meses depois. A Corregedoria descobriu que os policiais vazavam informações para integrantes do PCC e foragidos da Justiça. O grupo contava com policiais da ativa, da reserva e ex-integrantes da polícia. O elo entre os agentes que faziam a escolta privada de Gritzbach e o policial que o assassinou não pode ser confirmada pela investigação.
O caso Gritzbach
O assassinato de Vinicius Gritzbach é investigado pela Departamento Estadual de Homicídios e Proteção à Pessoa, da Polícia Civil. A investigação identificou Kauê do Amaral Coelho, de 29 anos, como um olheiro do PCC no aeroporto no dia da morte de Gritzbach. Ele está foragido há dois meses e informações dos investigadores dão conta de que ele ficou escondido em uma favela no Rio de Janeiro, que a polícia paulista não conseguiu acessar.
A vítima do atentado, além de informar o Ministério Público sobre as atividades da facção, denunciou policiais civis corruptos. Quatros policiais foram presos pela Polícia Federal (PF) e um outro alvo, que não havia sido identificado pela PF, se entregou às autoridades. Quando foi morto, Gritzbach trazia de Alagoas joias avaliadas em 2 milhões de reais, de acordo com os investigadores, um indício de que ainda praticava atividades de lavagem de dinheiro.
O delator foi morto no dia 8 de novembro, no terminal 2 do Aeroporto Internacional de Guarulhos, à luz do dia, em um crime que chocou pela ousadia dos criminosos e expôs a corrupção policial. Ele era réu por lavagem de dinheiro e por ter sido o mandante de um duplo homicídio. Gritzbach foi apontado como ordenador dos assassinatos de Anselmo Becheli Santa, conhecido como “Cara Preta”, e Antônio Corona Neto, o “Sem Sangue”, em 2021.