[Atenção: este texto contém conteúdo sensível sobre suicídio]
O SBT planeja ressuscitar mais uma vez o policialesco Aqui Agora, telejornal sensacionalista que viveu seu auge nos anos 1990 e teve uma segunda encarnação rápida em 2008. A emissora de Silvio Santos (1930-2024), agora comandada pelas herdeiras dele, faz alguns testes para ver se o formato faria sentido dentro da programação. A decisão de dar sinal verde ou não para a produção ficará nas mãos de Daniela Abravanel Beyruti, CEO do SBT.
Lançado em 1991, o Aqui Agora é considerado o primeiro telejornal de linguagem popular do país, com apelo sensacionalista em matérias policiais e outras tragédias, como tiroteios e sequestros. O programa foi apresentado por nomes como Gil Gomes (1940-2018) e conquistou altos índices de audiência — chegou a bater uma média de 21 pontos em São Paulo em abril de 1992 — até seu encerramento, em 1997.
Segundo reportagem de VEJA de 12 de junho de 1991, o programa jornalístico surpreendia o público das formas mais apelativas. O boxeador Adilson Maguila (1958-2024), por exemplo, era comentarista de política e fazia analogias do esporte com a situação econômica do país. “Vestido com smoking e luvas de boxe, ele mostra sua indignação com a recessão econômica desfechando golpes no ar. ‘O povo não aguenta mais passar fome’, diz. O programa é uma adaptação dos jornais de grande circulação, que carregam nas tintas em se tratando de sexo, violência e noticiário policial”, dizia um trecho da reportagem. Mas esse não foi o pior momento do programa.
Apesar dos bons números de ibope, o telejornal também ficou marcado por acontecimentos tenebrosos, como a transmissão de um suicídio em 5 de julho de 1993. Na época, o programa era apresentado por Ivo Morganti e Christina Rocha, e o repórter Sérgio Frias cobriu a pauta, junto com o cinegrafista José Meraio, de uma adolescente que ameaçava se jogar de um prédio no centro de São Paulo.
Daniele Alves Lopes, de 16 anos, pulou do sétimo andar do edifício, e o SBT transmitiu a queda em uma reportagem de 10 minutos que contava com a narração de Sérgio, que exclamou: “Ela pulou, ai meu Deus”. A adolescente foi socorrida, mas não resistiu. Seu ato teria sido motivado por uma desilusão amorosa, de acordo com uma amiga. O caso fez o ibope da emissora crescer em 33,5%, atingindo cerca de 800 000 domicílios. mas a um custo alto — e merecido. Os pais da garota processaram o SBT, e a Justiça ordenou que a emissora pagasse uma indenização equivalente a 15 000 salários mínimos (cerca de 1,05 milhão de reais à época) para a família Lopes por danos morais.
Em abril de 1993, o repórter Sergio Frias também se tornou refém de um fugitivo da polícia e ficou na mira de uma pistola calibre 7,65 milímetros por uma hora e meia — e tudo foi transmitido pelo Aqui Agora. Durante o tempo todo, ele ficou com um microfone em uma mão. Na ocasião, Frias foi cobrir um assalto na zona leste de São Paulo, e uma criança acabou sendo feita refém por um dos assaltantes, que ainda foi baleado pela polícia. O repórter trocou de lugar com a vítima, e o caso fez o SBT encostar na Globo no ibope: enquanto a líder de audiência marcava 32 pontos com a novela das 7 O Mapa da Mina 1993, o policialesco batia 28. Por sorte, o criminoso se rendeu após a chegada de sua sogra ao local, libertando Frias sem machucados.
O programa só saiu do ar em 25 de abril de 1997, após baixa audiência. Ele chegou a voltar três meses depois, mas foi encerrado novamente em dezembro daquele ano. O SBT tentou lançá-lo novamente em 2008, com Luiz Bacci, Herbert de Souza, Christina Rocha e Joyce Ribeiro na apresentação, mas a sobrevida durou apenas pouco mais de um mês por não emplacar no ibope. A conferir se essa nova ressurreição de péssimo gosto vai se concretizar de fato.
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