Com quase 75 anos de carreira na TV, cinema e teatro e 91 de vida — ele completa 92 em 23 de maio, o baiano Othon Bastos estreia em São Paulo seu primeiro monólogo nesta quinta-feira, 20, no Sesc 14 Bis. Após uma temporada de sucesso no Rio de Janeiro, com 40 000 ingressos vendidos, o ator celebra sua própria jornada no espetáculo Não me entrego, não!, em que aborda vários pontos importantes de sua carreira. A peça ainda passará por Porto Alegre, Salvador, Fortaleza, Florianópolis, Belo Horizonte e Belém. Em entrevista a VEJA, o veterano fala do desafio de encarar um monólogo de 100 minutos, revisitar sua história e o segredo de como manter o fôlego e a paixão pela arte.
Confira a entrevista na íntegra:
Como surgiu a ideia de fazer esse monólogo sobre a sua carreira? Eu estava só fazendo filmes e televisão, e o teatro ficou um pouco para trás. E eu sentia que dentro de mim o teatro dizia que estava na hora de voltar. Eu fui ver um espetáculo do Flávio Marinho, de quem sou amigo há quase 50 anos, o Judy: o arco-íris é aqui, com Luciana Braga, e saí encantado. Cheguei em casa e falei com a minha mulher, Martha Overbeck, e surgiu a ideia de falar com o Flávio para ele fazer um espetáculo parecido para mim. E, então, começamos a conversar. Eu levei umas 600 páginas de anotações sobre os meus trabalhos no teatro, e passamos a separar por assuntos: arte, amor, dificuldade, problemas, e fomos montando em cima disso. E esse monólogo não é uma biografia, apenas passa por coisas que aconteceram na minha vida. Ele disse: “Engraçado que muita coisa que estou lendo é engraçada. Todo mundo acha que você é um ator épico, um ator sério. Muitos não sabem dessas histórias cômicas”. Então nasceu o monólogo aos poucos.
O monólogo toca em partes difíceis também? Eu não queria nada de tristeza, só alegria. Queria rir de mim mesmo. E para nossa surpresa muitas pessoas quiseram assistir à peça. Porque nossa ideia era fazer só uma temporada, de dois meses, e ver no que ia dar. Mas tudo que você faz você precisa ter humor e esperança de que tudo vai dar certo. É como o Mário Quintana diz: “Eu não tenho paredes, eu só tenho horizontes”.
O espetáculo em São Paulo terá algo de diferente do Rio? Não, imagina. São Paulo tem uma importância muito grande na minha vida. Eu vim para São Paulo em 1960 e fui trabalhar no Teatro Oficina, com o Zé Celso (1937-2023). Aprendi muito com ele, com os colegas do teatro e tudo mais. Nessa cidade também abri a minha própria companhia profissional de teatro, montando vários espetáculos. Por isso tenho um passado muito especial com São Paulo.
Como manter o fôlego de uma temporada tão longa de apresentações e aos 91 anos? É importante se cuidar, se tratar, mas acho que o segredo é o fogo que a gente tem dentro da gente. A minha geração, que tem Fernanda Montenegro, Natália Timberg, e muitos outros que já foram, sempre teve essa paixão pelo teatro, essa vontade de trabalhar com isso, a felicidade de estar no palco. Quando entro no palco, me sinto feliz, é como se tivesse 20, 30 anos. Não posso deixar essa peteca cair. Eu saio acabado do trabalho, mas ouvir o que as pessoas dizem é uma alegria. Vamos lutando, só envelhece quem se entrega.
Fazer esse espetáculo fez o senhor refletir muito sobre a vida? Sim, é uma terapia diária. Porque cada vez que você está no palco falando sobre você mesmo, rindo de você mesmo é precioso. Faz a gente não se levar tão a sério. Eu gosto da Emily Dickinson, que fala: “Eu nasço contente todas as manhãs.”. Você tem que ter essa alegria de viver.
Serviço:
Não me entrego, não!
Onde: Sesc 14 Bis
Quando: 20 de março a 20 de abril, de quinta a sábado, às 20h, e domingo, 18h
Ingressos no site do Sesc
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